Díli,
29 fev (Lusa) - José Ramos-Horta mostrou-se hoje convicto, depois de conversar
com os principais líderes do país, de que o atual momento de tensão política
será ultrapassado e que haverá uma solução acordada para o comando das forças
de defesa.
"Estou
confiante que vamos ultrapassar isto. Não há crise. Há diferenças e tensão mas
as instituições continuam a funcionar em pleno", disse à Lusa o
ex-presidente da República timorense.
Ramos-Horta
falava à Lusa depois de um encontro com o Presidente da República no Palácio do
Governo, o terceiro entre os dois nos últimos dias, no intuito de procurar
acalmar a tensão política que se vive no país.
Desde
que chegou a Díli no sábado, de uma viagem a Cuba, Ramos-Horta tinha-se
encontrado já, por duas vezes, com Taur Matan Ruak e também uma vez com o
primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, com quem comeu "seis pastéis de
nata".
Reuniu-se
ainda com o ministro da Defesa, Cirilo Cristóvão e com o secretário-geral da
Fretilin, Mari Alkatiri - que "mostrou grande sentido de Estado" -
conversando ao telefone com o comandante das forças de defesa, Lere Anan Timur.
"Há
diferenças de interpretação sobre os poderes que a constituição concede no
tocante à nomeação do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas
(CEMGFA). Essa é uma questão séria, obviamente, mas que lado a lado, quer o
Governo quer o PR estão dispostos a encontrar uma solução", afirmou.
"Não
de compromisso para ser apenas de compromisso e satisfazer todas as partes, mas
que seja a melhor para a estabilidade nas forças armadas e no país",
disse.
Timor-Leste
vive um momento de crise política em torno da decisão do Presidente da República
sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do
Governo, que defendia uma renovação dos mandatos em curso.
O
chefe de Estado decidiu exonerar o Chefe do Estado-Maior General das Forças
Armadas (CEMGFA), o major-general Lere Anan Timur, e nomear como seu sucessor o
brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus.
"O
Presidente vai receber hoje o primeiro-ministro e o ministro da Defesa e o
presidente disse-me que está disposto a ouvir", disse Ramos-Horta.
"Para
o Presidente da República a posição é clara. Acha que é necessário fazer já a
transição que ele começou por ele próprio, em 2012, para que não a façamos
depois às pressas. Mas temos eleições em 2017 então porque não esperar até
final das eleições para se mudar as coisas", explicou.
A
tensão aumentou depois de um polémico discurso de Taur Matan Ruak no
Parlamento, na quinta-feira em que o chefe de Estado comparou os benefícios que
dirigentes do país como Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e Lu-Olo têm dado a
"familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.
Em
resposta na sexta-feira Xanana Gusmão devolveu hoje a condecoração com que foi
agraciado a 20 de maio do ano passado pelo chefe de Estado.
Em
conferência de imprensa o presidente da Fretilin, Francisco Guterres, leu hoje
um comunicado do Comité Central da Fretilin, segundo partido timorense, que
acusa Taur Matan Ruak, de criar "instabilidade política" e querer
"dividir para reinar" com a declaração que fez no Parlamento
Nacional.
"O
Presidente disse perentoriamente que foi mal interpretado, apenas transmitiu o
que se diz no país ou na cidade. Agora, se um PR deve fazer eco ou não do que
as pessoas dizem ou não é outra coisa", disse Ramos-Horta.
Ramos-Horta
teceu grandes elogios sobre Xanana Gusmão - "um grande herói deste
país" - e sobre Mari Alkatiri - que o deixou "muito comovido e
impressionado com a grandeza que mostrou, dizendo que quer falar com o
presidente porque o país precisa de estabilidade".
Sobre
as acusações de benefícios que ambos teriam obtido, Ramos-Horta disse sobre
Xanana Gusmão que "não há um único herói no mundo, um único chefe de
Estado que viva tão modestamente como ele vive" e que Mari Alkatiri
"não tem casa pessoal nem tantas facilidades económicas e financeiras como
as pessoas pensam".
"E
só porque alguém é Presidente ou primeiro-ministro, todos os seus familiares
têm que deixar as atividades que tinham antes? Não faz sentido", afirmou.
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// DM