quarta-feira, 21 de maio de 2025

Montenegro apoia com 75 milhões de euros Timor-Leste e visita o país em junho de 2025

Primeiro-ministro de Portugal afirmou que os acordos assinados com Timor-Leste espelham "a relação inquebrantável de amizade, de solidariedade, de cooperação" entre os dois países.

O primeiro-ministro anunciou esta segunda-feira (14.10.24) que o acordo de cooperação assinado entre Timor-Leste e Portugal para os próximos quatro anos prevê um apoio financeiro de 75 milhões de euros e que visitará o país em junho de 2025.

O anúncio foi feito por Luís Montenegro num discurso após um encontro com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, na residência de São Bento, no qual disse que este apoio representa um reforço de cinco milhões relativamente ao quadro de apoio anterior e tem como objetivo, entre outros, ajudar a desenvolver a cooperação entre os dois países em matéria de educação e ensino da língua portuguesa.

"É um reforço que Portugal desenvolve para ajudar Timor-Leste em várias conquistas que edificam um Estado novo, moderno, eficiente, no que isso significa de serviço prestado às pessoas", frisou Montenegro.

O primeiro-ministro anunciou também que em junho de 2025 fará uma visita oficial a Timor-Leste, a convite de Xanana Gusmão, salientando que "só mesmo se algum acontecimento imprevisto o impossibilitar" essa deslocação não acontecerá.

Timor-Leste é uma democracia "jovem, imperfeita e vibrante"

O Presidente José Ramos-Horta destacou hoje que Timor-Leste é uma democracia jovem, imperfeita e vibrante e que, apesar dos erros cometidos e aspetos para melhorar, é um oásis de paz num mundo turbulento.

"Timor-Leste é uma democracia jovem, imperfeita e vibrante --- um oásis de paz, tolerância e liberdade, uma luz brilhante de democracia e tranquilidade neste mundo turbulento", afirmou José Ramos-Horta.

O chefe de Estado discursava na cerimónia para assinalar o 23.º aniversário da restauração da independência, que decorreu no Palácio da Presidência, em Díli, e contou com a participação dos membros do Governo, parlamento e corpo diplomáticos, entre outros.

"Não temos violência política, tensões ou crimes de base étnica ou religiosa. Não temos crime organizado, assaltos à mão armada. Não temos consumidores de drogas duras e tráfico de droga", disse o também prémio Nobel da Paz, enaltecendo o profissionalismo das forças de defesa e segurança.

No discurso, José Ramos-Horta salientou que a pobreza multidimensional ainda atinge 45,8% da população, que há uma elevada incidência de violência doméstica e que o atraso no crescimento e a subnutrição infantil são uma realidade.

"Espero que nos próximos cinco a dez anos realizemos mais progressos na criação de emprego para jovens, melhorias nos setores da educação e saúde, expansão dos investimentos na agricultura, segurança alimentar e na eliminação do atraso de crescimento, da desnutrição infantil e da mortalidade infantil e materna", afirmou.

O Presidente destacou também que mais de 98% do território tem já fornecimento de eletricidade e que em breve Timor-Leste vai ficar ligado a um cabo submarino de Internet, permitindo ao país alcançar a "digitalização plena e a ligação eletrónica ao mundo".

José Ramos-Horta destacou ainda uma série de investimento em infraestruturas, nomeadamente a expansão do aeroporto internacional de Díli, vários hotéis de cinco estrelas, um centro de convenções, uma marina no antigo porto da capital e o desenvolvimento da orla marítima.

"Há críticos objetivos e construtivos, reconhecendo o nosso esforço em absorver as melhores lições e experiências, e instam-nos a corrigir e melhorar os índices de desenvolvimento não satisfatórios. Outros, sofrendo de enfermidade colonial, ignorantes e impregnados de preconceitos raciais, não reconhecem mérito a países como Timor-Leste ou qualquer outro em vias de desenvolvimento", lamentou.

No discurso, o Presidente, que tem mais dois anos de mandato para cumprir, recordou também Francisco, que visitou o país em setembro, e salientou que as "palavras e atos" do novo Papa Leão IV são "fonte de esperança".

"Como dizia o Papa Francisco, vivemos num mundo dessacralizado, frequentemente dominado pelos 'Homens da guerra'. É reconfortante saber que não estamos órfãos na nossa fé e que, por entre os escombros do sofrimento, permanece viva a luz do amor ao próximo, renovada na figura do novo Sumo Pontífice", acrescentou.

No âmbito das celebrações da restauração da independência, José Ramos-Horta condecorou com a Ordem de Timor-Leste uma série de personalidades nacionais e estrangeiras, incluindo juízes do Supremo Tribunal de Recurso.

O Presidente condecorou também a título póstumo, com a Ordem Nicolau Lobato, o padre Domingos da Silva Soares, conhecido como padre "Maubere", cujo funeral se realizou segunda-feira.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Lusa, com montagem TA

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Trabalho sem salário, vidas sem direitos: a luta das mulheres que sustentam Timor-Leste

Rilijanto Viana | Diligente

Sem contrato, sem salário digno, sem descanso. Em Timor-Leste, centenas de mulheres trabalham como empregadas domésticas ou cuidadoras, num esforço diário que continua invisível e desvalorizado.

Gracilda Soares tem 21 anos e trabalha como empregada doméstica em Díli desde 2021. Abandonou a escola primária por falta de condições financeiras dos pais e deixou a mãe e o irmão mais novo em Ermera para procurar trabalho na capital. Atualmente, trabalha numa casa em Maloa, de segunda-feira a sábado, das 7h às 17h. Ao domingo, descansa. Mas se faltar durante a semana, tem de compensar os dias.

Está empregada sem qualquer contrato formal e recebe uma remuneração abaixo do salário mínimo. “Comecei aqui há quatro meses. Um colega recomendou-me. O patrão deu-me serviços como cuidar da casa, lavar roupa e cozinhar. Depois paga-me 80 dólares por mês”, contou.

Antes, Gracilda trabalhava em Vila Verde, onde recebia 115 dólares. Ao mudar-se para Maloa, passou a ganhar menos. “Eu recebo apenas o suficiente para sustentar a minha família. Tenho de enviar algum dinheiro para a minha mãe em Ermera e o resto é para as minhas despesas”, explicou. Embora se sinta confortável com as tarefas que realiza, o baixo salário é o maior obstáculo. “Sinto-me bem com o trabalho que faço, mas o desafio é o salário”, afirmou.

Agustina dos Santos, de 31 anos, natural de Liquiçá, trabalha há seis meses numa loja chinesa em Díli. Tem como funções organizar mercadorias, embrulhar produtos e atender clientes. Trabalha das 8h às 17h e recebe 120 dólares, dos quais cinco são descontados para a segurança social, restando-lhe 115. Aos sábados e domingos, tem direito a folga, mas, se decidir trabalhar, recebe um bónus de 7,50 dólares ao sábado e quatro ao domingo.

Mãe de três filhos, Agustina considera o salário insuficiente para as necessidades da família. “Vivemos em Dili, e tudo precisa de dinheiro: pagar a renda do quarto, eletricidade, água, escola das crianças, alimentação e outras coisas”, lamentou. Apesar disso, sente-se satisfeita com o tratamento recebido pelos patrões. “São bons e não se zangam connosco. Mas as férias são difíceis de conseguir, porque querem que a gente trabalhe sempre”, explicou. Pediu ao Governo que faça campanhas de sensibilização junto dos empregadores. “No passado, os trabalhadores não eram bem tratados. Muitas situações ainda acontecem. É preciso que os nossos direitos sejam reconhecidos”, apelou.

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O FEUDO TIMORENSE QUE MANTÉM O POVO NA MISÉRIA – Xanana, Horta e Associados*

20 de maio: independentes, mas oprimidos por dentro?

Diligente, editorial | * Título Timor Agora

Neste 20 de maio, Timor-Leste assinala mais um ano de independência. Uma conquista histórica, fruto de uma resistência heroica contra a ocupação indonésia. Mas que liberdade celebramos quando a soberania se esvazia de sentido, a justiça é manipulada, os serviços públicos estagnam e a dignidade do povo continua por cumprir?

O sonho nacional de um Estado justo e equitativo está por concretizar. As promessas da Restauração foram engolidas por um sistema onde a opacidade, o apadrinhamento e o desleixo se tornaram norma. A ilha ainda vive ao ritmo de falhas de eletricidade, estradas abandonadas, pobreza estrutural, redes de clientelismo e um Estado capturado por interesses paralelos.

Durante séculos, o povo timorense lutou contra a exclusão, a violência e a negação de direitos. Mas muitas dessas injustiças não terminaram com a independência: persistem hoje sob novas formas. A justiça, que deveria ser um dos pilares do Estado de Direito, continua fora do alcance de milhares. E o rosto da liberdade tornou-se o da sobrevivência — com crianças nas ruas a vender ovos, jovens a carregar cocos e adultos a transformar as estradas em mercados noturnos, sempre sob ameaça de perseguição.

Desde a independência, Timor-Leste aprovou sucessivos Orçamentos Gerais do Estado que somam dezenas de mil milhões de dólares, sustentados pelo Fundo Petrolífero. Mas ao contrário do que se esperaria de uma nação que saiu da guerra com a promessa de justiça e dignidade, os setores mais sensíveis – saúde, educação, agricultura e proteção social – têm sido sistematicamente subfinanciados.

No OGE de 2025, apesar de o orçamento total ultrapassar os 2,2 mil milhões de dólares, o setor da agricultura recebe apenas 2,3%. A educação fica com 9,2% e a saúde permanece cronicamente subfinanciada, apesar dos apelos da ONU, do Banco Mundial e de organizações da sociedade civil. Enquanto isso, setores como os “veteranos” absorvem quase 10% do orçamento, num investimento mais político do que estratégico.

Num país onde 46,7% das crianças sofrem de nanismo por desnutrição crónica, onde mais de 360 mil pessoas enfrentam fome severa e 42% da população vive abaixo da linha da pobreza, o Estado continua a falhar no mais básico: garantir o direito à alimentação, à saúde e à educação.

A nomeação de Afonso Carmona como Presidente do Tribunal de Recurso, ao abrigo de uma norma criada à pressa, simboliza a degradação do Estado de Direito. A nova lei foi aprovada de véspera e aplicada no dia seguinte, apesar de o nomeado não cumprir os requisitos legais. Juristas, deputados e o Provedor dos Direitos Humanos e Justiça denunciaram a violação da Constituição e da separação de poderes, mas o Presidente da República insiste que seguiu a lei.

O caso revela uma reforma judicial feita à medida dos interesses do momento. Em vez de fortalecer as instituições, alteram-se leis para legitimar decisões políticas. A Constituição não confere ao Presidente o poder de nomear dirigentes de tribunais, apenas de magistrados. Mas essa salvaguarda está a ser ignorada. A justificação dada para a nomeação — a falta de juízes disponíveis — expõe outra ferida: a carência de quadros qualificados, a morosidade dos processos e a exclusão da população rural do sistema judicial.

A exoneração súbita de membros do Conselho, como Lukeno Alkatiri, sem qualquer explicação oficial, e a substituição imediata por nomes próximos do poder político levantam suspeitas graves. A oposição, juristas, a JSMP e o próprio Provedor dos Direitos Humanos e Justiça já alertaram para a violação da Constituição e para os riscos de politização do sistema judicial. O silêncio institucional que se seguiu só reforça a desconfiança: quando até o topo do sistema judicial é manipulado, o que resta da democracia?

É apenas mais um exemplo de como os poderes formais são esvaziados por lógicas informais, heranças da resistência clandestina, onde redes pessoais e lealdades tribais se sobrepõem à legalidade. Em vez de serem desmanteladas, essas estruturas informais foram absorvidas pelo Estado — e continuam a reger decisões cruciais, como nomeações judiciais, processos legislativos e gestão de orçamentos.

Enquanto isso, Richard Daschbach, ex-sacerdote condenado por abusar sexualmente de menores, surge na lista de indultos enviados pelo Governo ao Presidente da República. A alteração à Lei do Indulto, aprovada em 2023, eliminou qualquer limite objetivo à clemência presidencial – permitindo perdoar até crimes de pedofilia e corrupção. Madalena Hanjam e Emília Pires já foram beneficiadas. Daschbach poderá ser o próximo.

O argumento usado é o das “razões humanitárias”. Mas e as vítimas? Quem lhes garante justiça, quem as ouve? Em nome da reconciliação, exige-se o perdão — mesmo que forçado. Mesmo que doa. O risco é transformar o indulto num instrumento de impunidade, e não de compaixão.

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