quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Bahadatu: Aldeia em Timor-Leste dá exemplo de restauração da segurança alimentar


 Felipe de Carvalho | ONU News

Local abalado por escassez de água, desmatamento, erosão e deslizamentos está recuperando sua capacidade produtiva por meio de um novo sistema de irrigação e técnicas de agrofloresta introduzidos pelo Pnud; resultados incluem redução da subnutrição em aproximadamente 12%, beneficiando mais de 119 crianças.

As terras férteis da aldeia Bahadatu em Timor-Leste sofreram um duplo impacto nas últimas décadas: a escassez de água causada pela mudança climática e os deslizamentos de terra como efeito de práticas agrícolas que assolaram a mata.

Ambos os eventos abalaram as fontes de irrigação, fazendo com que o local historicamente abundante mergulhasse na pobreza. Os campos que antes eram viçosos e verdes tornaram-se estéreis e muitas colheitas falharam. Os rendimentos das famílias diminuíram quase 40%.

Envolvimento da comunidade

A aldeia, localizada no suco (distrito) de Fatulia, ganhou uma nova vida com um projeto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, que aliou a reconstrução do sistema de irrigação com técnicas de agrofloresta nas encostas para proteger a fonte de água dos impactos de deslizamentos.

Ao visitar o local, a ONU News  percebeu que a principal razão para o sucesso desta restauração não foram os 415 metros de alvenaria do canal de irrigação nem os 1,5 mil metros quadrados de paisagem recuperada. Foi o envolvimento da comunidade que plantou novas árvores e maneja a irrigação todos os dias com as próprias mãos.

Eles contam com brilho nos olhos sobre as técnicas de plantio que aplicaram e mostram com empolgação o caminho que a água percorre quando é aberta a comporta construida para regular a irrigação dos campos de cultivo.

De acordo com o chefe do Suco Fatulia, Angelino Moises Pereira, antigamente a comunidade só conseguia plantar arroz uma vez por ano, hoje, eles semeiam duas vezes.

Melhoria da segurança alimentar

Segundo o Pnud, houve um aumento  entre 10 e 15% no rendimento das culturas, resultando em um volume adicional de 300 a 450 quilos de arroz por hectare. Isso melhorou diretamente a segurança alimentar de 918 moradores e reduziu a subnutrição em aproximadamente 12%, beneficiando mais de 119 crianças.

O projeto, apoiado pelo Fundo Verde do Clima e iniciado em maio de 2023, já garantiu o plantio de 14.665 árvores, incluindo 1.334 espécies frutíferas. Com isso, a comunidade irá se beneficiar no futuro de uma variedade maior de alimentos.

O agricultor Americo Ximenes Pereira relatou seu envolvimento dizendo que plantou até agora com sucesso 1,8 mil árvores polivalentes, incluindo rambutan, mogno e laranjeiras.

Ele disse estar otimista de que dentro de cinco anos estas árvores produzirão uma “colheita substancial”, permitindo-o “vender os frutos no mercado e, assim, melhorar a situação econômica” da sua família.

Empoderamento económico das mulheres

O agricultor Cancio Pereira dos Reis, disse que com a orientação recebida da ONG Raebia, parceira do Pnud, todos aprenderam como plantar de forma eficaz para garantir a sobrevivência das árvores.

Sobre o sistema de irrigação, ele ressaltou que todos partilham a responsabilidade garantindo que cada campo de arroz receba a quantidade adequada de água.

A chefe da aldeia Bahadatu, Edviges da Costa Gusmao,  disse que as mulheres estão plenamente envolvidas em diversas tarefas físicas, tais como plantar árvores, cultivar campos de arroz e estabelecer viveiros de peixes e criadouros.

Segundo, ela “estas atividades não só capacitam as mulheres, mas também lhes proporcionam incentivos econômicos”.

Necessidade de reabilitação das estradas

No entanto, a líder da aldeia disse que o grande desafio agora é a estrada que conecta os campos com os mercados. As más condições significam que durante a estação chuvosa, não é possível transitar pela pista.

Edviges pediu que o Pnud e o governo continuem os esforços de reabilitação para garantir que a comunidade possa “aceder à estrada à medida que a estação das chuvas se aproxima”.

Mateus Soares Maia, representante da ONG Raebia explicou que o governo participou da inauguração deste canal de irrigação e se comprometeu a inaugurar outro em breve na região. O Ministério da Agricultura também forneceu três tratores manuais para os agricultores da aldeia Bahadatu.

O chefe do suco, Angelino Moises Pereira, disse que até ao final deste ano, com as duas fontes operando, será possível abastecer de água toda a comunidade do posto administrativo de Venilale.

Culinária Local

Ele comentou que um benefício positivo do envolvimento comunitário é o aumento do conhecimento entre os membros sobre técnicas eficazes de plantação. Isto fez com que um maior número de indivíduos participasse ativamente no cultivo dos campos de arroz.

Esse alimento é preparado de diversas maneiras em Timor-Leste, sendo uma das mais tradicionais a katupa, um bolinho de arroz cozido em leite de coco, temperado com açafrão, alho e sal e enrolado em uma folha de coqueiro ou bambu.

A aldeia Bahadatu, localizada em uma das muitas enconstas montanhosas do país, enfrenta dificuldades de acesso, problemas de infraestrutura e pobreza. Mas nada disso diminui a força de vontade da sua gente, que sonha em melhorar de vida por meio da agricultura, nem a hospitalidade com os visitantes, que são recebidos com uma grande variadade de pratos locais como a katupa.

A intervenção do Pnud para melhorar e proteger a irrigação dos campos de cultivo e introduzir árvores frutíferas é, portanto, uma forma de alimentar os sonhos e a identidade de um dos locais mais remotos, de um dos países mais remotos do mundo.

Imagem: ONU News/ Felipe de Carvalho - Chefe do Suco Fatulia, Angelino Moises Pereira e chefe da aldeia Bahadatu, Edviges da Costa Gusmao abrem a passagem de água que garante a produção de alimentos

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Cooperação com Portugal é "fundamental para o bem-estar dos timorenses", diz Xanana Gusmão

Xanana Gusmão salientou a importância da cooperação com Portugal para o povo timorense e como vai permitir consolidar uma economia sustentável no país.

O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, destacou esta segunda-feira a cooperação com Portugal, a qual, salientou, vai permitir que no seu país se possa trabalhar para o bem estar do povo timorense.

“Precisamos imenso (da cooperação). Somos ainda um país novo. Temos muitas dificuldades. Muitos obstáculos. Muitos desafios e contamos com a pronta solidariedade de Portugal (…) para permitir que no governo, ou nas instituições do Estado, possamos trabalhar para o bem-estar do povo timorense, para o bem-estar, criação de condições para as crianças timorenses, os jovens timorenses”, afirmou.

Xanana Gusmão, que falava aos jornalistas no final de um encontro com o seu homólogo português, Luís Montenegro, destacou que o apoio de Portugal é importante “sobretudo na consolidação da construção do Estado” timorense.

“É um processo que estamos ainda a tentar consolidar. E claro, esta formação toda que vai ajudar Timor a dar aos jovens timorenses. Vai permitir também que tenhamos uma segurança já na construção da nação, através de uma economia sustentável”, acrescentou.

O líder histórico timorense evocou ainda a situação no Saara Ocidental na declaração que fez aos jornalistas após a assinatura de três acordos de cooperação com Portugal, referindo-se à importância do apoio português para a realização do referendo que abriu as portas à independência do seu país.

Segundo Xanana Gusmão, “sem o esforço, o amor, o carinho e a solidariedade de todo o povo português, das organizações da sociedade não teríamos conseguido” o referendo.

“Hoje em dia, o Saara está à espera há 32 anos e não consegue fazer nada“, frisou, adiantando: “Estamos juntos nessa luta para permitir que o governo saarauí se sinta como os timorenses se sentiram desde há 25 anos para cá”, evocando o referendo que abriu as postas à independência do seu país em 1999.

O Saara Ocidental é palco de um conflito de quase 50 anos com os independentistas da Frente Polisário, apoiados por Argel, que contestam o plano de autonomia proposto por Rabat em 2007 e exigem o cumprimento da resolução das Nações Unidas, datada de 1991, em que é exigida a realização de um referendo de autodeterminação na antiga colónia espanhola, anexada por Marrocos em 1975.

Observador | Lusa

PORTUGAL ANUNCIA APOIO DE 75 MILHÕES DE EUROS PARA TIMOR-LESTE

Montenegro anuncia apoio de 75 milhões de euros para Timor-Leste e visita ao país em junho de 2025

Primeiro-ministro afirmou que os acordos assinados com Timor-Leste espelham "a relação inquebrantável de amizade, de solidariedade, de cooperação" entre os dois países.

O primeiro-ministro anunciou esta segunda-feira que o acordo de cooperação assinado entre Timor-Leste e Portugal para os próximos quatro anos prevê um apoio financeiro de 75 milhões de euros e que visitará o país em junho de 2025.

O anúncio foi feito por Luís Montenegro num discurso após um encontro com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, na residência de São Bento, no qual disse que este apoio representa um reforço de cinco milhões relativamente ao quadro de apoio anterior e tem como objetivo, entre outros, ajudar a desenvolver a cooperação entre os dois países em matéria de educação e ensino da língua portuguesa.

"É um reforço que Portugal desenvolve para ajudar Timor-Leste em várias conquistas que edificam um Estado novo, moderno, eficiente, no que isso significa de serviço prestado às pessoas", frisou Montenegro.

O primeiro-ministro anunciou também que em junho de 2025 fará uma visita oficial a Timor-Leste, a convite de Xanana Gusmão, salientando que "só mesmo se algum acontecimento imprevisto o impossibilitar" essa deslocação não acontecerá.

Luís Montenegro afirmou que este encontro e os acordos assinados com Timor-Leste espelham "a relação inquebrantável de amizade, de solidariedade, de cooperação" entre os dois países.

Lembrando o processo de luta pela independência timorense, o primeiro-ministro salientou que o caminho que foi percorrido até 1999 - ano da independência - foi de "demonstração de que as causas grandes que mobilizam os homens e os povos são imortais e são o maior serviço que nós podemos prestar à humanidade".

O primeiro-ministro disse não lhe "sair da memória" as imagens do massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste, a 12 de novembro de 1991, e disse ter sido "sentido em Portugal como se estivéssemos lá".

"Tive uma juventude que acompanhou toda a luta que o povo timorense, muitas vezes comandado pela sua coragem e dos seus companheiros contra todas as adversidades, travou, é de facto emocionante poder tê-lo aqui, poder realizar esta reunião de trabalho que acabou de ser materializada nos acordos que foram assinados", acrescentou.

Montenegro agradeceu ainda ao Governo timorense pelo apoio financeiro de 2,5 milhões de dólares disponibilizado para o combate ao incêndio de grandes dimensões que atingiu a Madeira este ano.

"É de facto impactante, porque significa que mesmo à distância estiveram ao nosso lado naquele momento", salientou. Foi assinado esta segunda-feira o Programa Estratégico de Cooperação para o período 2024-2028 e mais dois acordos relativos a reabilitação de património e infraestruturas.

O novo Programa Estratégico de Cooperação para o período 2024-2028 terá cinco áreas prioritárias, nomeadamente Desenvolvimento Humano, Estado de Direito e Boa Governação, Administração Pública, Finanças Públicas e Economia, Juventude e Emprego e Oceanos Sustentabilidade e Infraestruturas.

Correio da Manha | Lusa