terça-feira, 8 de abril de 2025

“Se virem o uniforme, batem-nos”: violência, medo e escolas em ruínas em Díli

Rilijanto Viana | Diligente

Estudantes vivem com medo de ir às aulas, escondem os uniformes e são agredidos nas microletes. A rivalidade entre escolas e grupos de artes marciais alastra-se pelas ruas, enquanto escolas como a FINANTIL enfrentam condições insalubres e perigosas. Para diretores e especialistas, o problema é mais profundo: o Estado tem falhado na educação e na proteção da juventude.

“Guardo o uniforme na mochila e só o visto quando chego à escola. Quando as aulas acabam, vou à casa de banho e tiro-o antes de voltar para casa. Se me virem com o uniforme, identificam-me e batem-me”, relata. Ajano Viegas (nome fictício), de 20 anos, aluno do 12.º ano da Escola Secundária Geral Fitun Naroman Timor Lorosa’e (FINANTIL), vive com receio constante de ser agredido a caminho das aulas.

O estudante já foi agredido diversas vezes por estudantes da Escola Secundária Geral 10 de Dezembro. “Chegaram a puxar-me para fora da microlete e agrediram-me com tesouras. Quando os vejo na rua, volto para casa. Já estive uma semana sem ir às aulas por medo.”

Apesar de pertencer a um grupo de artes marciais, garante que o seu envolvimento é apenas por motivos de autodefesa. “Não quero arranjar problemas. Mas somos constantemente perseguidos. Não entendo porquê.” O clima de insegurança afeta muitos colegas. “Há alunos que passam um mês inteiro sem ir à escola. Só voltam na época de exames”, explica.

Também Akito Sousa (nome fictício), de 19 anos, aluno da FINANTIL, adota táticas semelhantes. “Todos os dias, visto um casaco para tapar o uniforme. Se me reconhecerem, atacam-me. Há colegas da 10 de Dezembro que fazem revistas nos caminhos e controlam quem passa.” Segundo Akito, quando um grupo é atacado, o outro organiza-se para retaliar. “As raparigas são poupadas, mas nós, os rapazes, apanhamos. Quando entramos no território deles, somos logo ameaçados.”

O estudante refere que a sua escola é rotulada como sendo dominada por membros da organização de artes marciais Persaudaraan Setia Hati Terate (PSHT), enquanto a Escola 10 de Dezembro é associada ao grupo Kera Sakti. “Nem todos pertencem a esses grupos, mas basta usarmos o uniforme da escola errada para sermos agredidos.”

A rivalidade afeta também alunos que não pertencem a nenhuma organização. É o caso de Alito Costa (nome fictício), de 20 anos, aluno da 10 de Dezembro. “Não estou ligado a nenhuma organização, mas isso não me protege. Um dia, ao passar na rua de Ai-Mutin, com o uniforme da escola, puxaram-me para dentro da microlete e agrediram-me. Disseram-me que qualquer aluno da 10 de Dezembro que encontrarem será espancado.”

Alito afirma que os estudantes da FINANTIL costumam esperar os rivais nas principais vias e atiram pedras contra quem passa. “Já partiram os vidros de vários veículos.” Do outro lado, os alunos da 10 de Dezembro rejeitam essas acusações. Joki Soares (nome fictício), de 20 anos, diz que os estudantes da FINANTIL são os que costumam provocar. “Ficam escondidos no caminho à nossa espera, com pedras nas mãos.”

Segundo Joki e o seu colega Rivaldo Ximenes (nome fictício), também de 20 anos, os confrontos são antigos e alimentados pelas rivalidades entre os grupos de artes marciais. “Mesmo que sejamos primos, quando estamos com os nossos colegas, defendemos a nossa organização. A lealdade é maior do que os laços familiares.” Rivaldo admite que saem da escola em grupo, prontos para procurar rivais. “Queremos vingança pelos que já nos atacaram.”

Para Rivaldo, o problema é profundo. “Dizem que a nossa escola pertence ao Kera Sakti e a FINANTIL ao PSHT. Recentemente, um aluno foi espancado dentro da sala de aula, porque disseram que era do grupo rival. Ficou com a cabeça a sangrar. A paz é difícil, porque as artes marciais já se infiltraram nas escolas. Podemos falar de reconciliação, mas ninguém sabe o que cada um sente por dentro.”

Conselho Superior de Defesa e Segurança determina medidas de controlo da situação

TIMOR-LESTE - As autoridades timorenses terão de aplicar medidas para estabilizar a situação no país, desanuviar a tensão nas forças de segurança, apoiar o regresso da população deslocada e consolidar uma "articulação pronta e eficaz" entre Governo e Presidência.

As medidas, acordadas na última reunião do Conselho Superior de Defesa e Segurança (CSDS), do sábado passado, constam de um documento distribuído hoje em Díli ao corpo diplomático, a que a agência Lusa teve acesso.

O documento detalha as medidas aprovadas na reunião para serem adoptadas pelos ministros da Defesa, José Ramos Horta, e do Interior, Alcino Baris, pelo Gabinete de Crise e pelo primeiro-ministro, Mari Alkatiri.

"Superar o divisionismo existente entre os elementos das FDTL" é a primeira das 13 medidas destinadas ao ministro da Defesa, José Ramos Horta, agindo "em coordenação" com o comandante das Falintil-Forças Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak.

Cabe ainda ao recém-empossado ministro da Defesa, "desanuviar o ambiente de crispação, incutir disciplina, consolidar unidade de comando e sentido de missão" às F-FDTL, bem como fazer regressar "imediatamente" às suas casas os "chamados `reservistas`" depois da "entrega controlada de armas, munições, explosivos e outro equipamento militar, incluindo fardamentos".

Igualmente acordada foi a retirada de civis dos quartéis e a entrega em 48 horas de um inventário "original" do armamento das F-FDTL e do procedente da guerrilha - feito antes dos confrontos das últimas semanas.

"Dar instruções claras e rigorosas às FDTL" e "conduzir as FDTL no sentido de acatar as medidas inscritas" na declaração presidencial de 30 de Maio, são outras das medidas previstas do documento facultado hoje à agência Lusa.

Tarifas geram "ambiente mais perigoso desde a 2.ª Guerra Mundial"

O presidente executivo do banco JPMorgan Chase, Jamie Dimon, disse hoje que a política tarifária de Donald Trump está a levar os mercados ao "ambiente geopolítico e económico mais perigoso e complicado desde a Segunda Guerra Mundial".

Além disso, o presidente do maior banco norte-americano disse que as tarifas rigorosas de Trump vão aumentar a inflação e podem levar a economia global para uma recessão.

"As recentes tarifas irão provavelmente aumentar a inflação e estão a fazer com que muitos considerem uma maior probabilidade de recessão. [...] Se o conjunto de tarifas irá ou não causar uma recessão continua a ser uma questão, mas irá abrandar o crescimento", disse Dimon numa carta aos acionistas do JPMorgan Chase.

Acrescentando ainda que a mentalidade "America First" de Trump, que impõe tarifas muito elevadas aos parceiros comerciais e concorrentes estratégicos, pode minar a posição privilegiada do país.

"Se as alianças militares e económicas do mundo ocidental se fragmentassem, os Estados Unidos enfraqueceriam inevitavelmente com o tempo, é extremamente importante reconhecer que a segurança e a economia estão interligadas; a guerra 'económica' já provocou guerras militares no passado", escreveu.

O plano tarifário de Trump envolve uma taxa global de 10% e taxas mais elevadas contra outros países e blocos, incluindo 20% sobre as importações europeias, 34% sobre as importações chinesas e 26% sobre as importações indianas.

No conjunto da semana passada, o Nasdaq já tinha perdido 10%, o S&P 500 9% e o Dow Jones 7,9%.

Além disso, nas duas sessões que se seguiram ao anúncio do plano tarifário, Wall Street perdeu cerca de 6,4 biliões de dólares em valor e o número redondo de 10 biliões de dólares desde a tomada de posse de Trump.

Apesar das recentes quedas do mercado, as ações podem cair ainda mais, disse Dimon.

"Mesmo com a recente queda nos valores de mercado, os preços permanecem relativamente altos [...] isso obriga-nos a permanecer muito cautelosos", disse o presidente executivo do banco.

Notícias ao Minuto

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Papa Francisco faz a primeira aparição desde o regresso ao Vaticano

O papa Francisco surgiu, este domingo de manhã, aos fiéis na Praça de São Pedro, em Roma. Foi a primeira vez que apareceu em público desde que teve alta hospitalar há duas semanas.

Após a sua entrada na Praça de São Pedro, no Vaticano, numa cadeira de rodas para cumprimentar a multidão e participar no final da celebração de uma missão pelo ano jubilar da Igreja Católica, o pontifice dirigiu-se brevemente aos fiéis.

"Feliz domingo a todos, muito obrigado por tudo", afirmou Francisco, com uma voz fraca enquanto recebia oxigénio.

O papa Francisco, de 88 anos, não era visto em público desde 23 de março, quando fez uma breve saudação antes de deixar o hospital Gemeli de Roma, onde esteve internado durante mais de cinco semanas devido a uma pneumonia e outras complicações.

RTP c/agências