Último percurso em papamóvel
aconteceu no Domingo de Páscoa
Cidade do Vaticano, 22 abr 2025
(Ecclesia) – O Papa Francisco, falecido esta segunda-feira, na sequência de um
AVC, manifestou a sua gratidão pelo regresso à Praça de São Pedro, no último
domingo, naquela que viria a ser a última aparição pública do pontificado.
“Entre as últimas palavras do
Pontífice está o agradecimento ao seu assistente pessoal de saúde, Massimiliano
Strappetti, por o ter encorajado a dar a última volta no papamóvel no domingo,
depois da ‘Urbi et Orbi’: ‘Obrigado por me trazeres de volta à Praça’”, refere
hoje o portal de notícias do Vaticano.
Francisco, de 88 anos de idade,
morreu na manhã de segunda-feira, depois de ter descansado na tarde de domingo
e de um “jantar tranquilo”, durante a sua convalescença na Casa de Santa Marta,
onde residia.
“OPapa quis fazer uma última e
significativa surpresa, indo à Praça de São Pedro para um passeio no papamóvel.
Não sem um ligeiro receio inicial: ‘Achas que sou capaz?’ perguntou a
Strappetti, que o tranquilizou. A partir daí, o abraço à multidão e, em particular,
às crianças: o primeiro passeio depois da alta do Gemelli, o último da sua
vida”, indica o ‘Vatican News’.
Segundo o portal de informação,
Francisco estava “cansado, mas feliz”, depois do contacto com a multidão de
dezenas de milhares de pessoas.
Na segunda-feira, “por volta das
05h30 da manhã, surgiram os primeiros sinais de doença, com a pronta
intervenção de quem o vigiava”.
“Mais de uma hora depois, depois
de ter acenado a Strappetti, deitado na cama do seu apartamento no segundo
andar da Casa Santa Marta, o pontífice entrou em coma. Não sofreu, foi
tudo muito rápido, dizem os que estiveram ao seu lado nos últimos momentos”,
acrescenta o relato.
O Papa faleceu na sequência de um
acidente vascular cerebral (Ictus Cerebri), com “colapso cardiovascular
irreversível”, refere o documento de constatação oficial da morte.
“Certifico que Sua Santidade
Francisco (Jorge Mario Bergoglio), nascido em Buenos Aires
(Argentina) a 17 de dezembro de 1936, residente na Cidade do Vaticano, cidadão
do Vaticano, faleceu às 07h35 do dia 21/04/2025 no seu apartamento na Domus
Santa Marta (Cidade do Vaticano)”, refere o texto, assinado pelo responsável da
Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano, Andrea Arcangeli.
Francisco tinha visitado uma
prisão de Roma, na Quinta-feira Santa, e a 12 de abril tinha-se deslocado à
Basílica de Santa Maria Maior – onde pediu para ser sepultado -, para rezar
antes do início da Semana Santa.
O Papa esteve entre 14 de
fevereiro e 23 de março, a hospitalização mais longa do pontificado, devido a
uma infeção respiratória que se agravou para uma pneumonia bilateral.
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital
da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos,
trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da
Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia.
Ordenado padre a 13 de dezembro
de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial
dos religiosos na Argentina (1973-1979).
João Paulo II nomeou-o bispo
auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano,
assumindo a liderança da Arquidiocese argentina a 28 de fevereiro de 1998, após
a morte do cardeal Antonio Quarracino.
D. Jorge Mario Bergolgio seria
criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi
relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.
O cardeal de Buenos Aires foi
eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do
pontífice alemão, assumindo o inédito nome de Francisco; foi também o primeiro
Papa jesuíta e o primeiro sul-americano na história da Igreja.
São Gregório III, da Síria, que
liderou a Igreja Católica entre 731 e 741, tinha sido o último Papa
não-europeu, antes da eleição de Francisco.
O falecido Papa tinha como lema
‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo
São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
Francisco fez 47 viagens
internacionais, tendo visitado 67 países, incluindo Portugal (2017 – centenário
das Aparições de Fátima – e 2023 – para a JMJ Lisboa, tendo passado também por
Fátima).
Dentro da Itália, o Papa fez mais
de 30 visitas a várias localidades, incluindo uma passagem pela ilha de
Lampedusa, primeira viagem do pontificado, e cinco deslocações a Assis.
Entre os principais documentos do
pontificado estão as encíclicas ‘Dilexit Nos’ (2024), texto dedicado à devoção
ao Coração de Jesus; ‘Fratelli Tutti’ (2020), sobre a fraternidade humana e a
amizade social; ‘Laudato Si’ (2015), dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen
Fidei’ (A luz da Fé, 2013), que recolhe reflexões de Bento XVI; as exortações
apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), texto programático do
pontificado, de 2013; ‘Amoris laetitia’, de 2016, dedicada à família; o
documento sobre a “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência
comum” assinado pelo Papa Francisco e o grão imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyi, em Abu Dhabi (2019).
A reforma dos organismos centrais
de governo da Igreja Católica, levada a cabo com a ajuda de um inédito conselho
consultivo de cardeais, dos cinco continentes, foi concretizada através da
Constituição Apostólica ‘Praedicate Evangelium’, de 2022, propondo uma Cúria
Romana mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, com maior
protagonismo para os leigos e leigas.
Francisco convocou cinco
assembleias do Sínodo, dedicadas à sinodalidade (2023 e 2024), à Amazónia
(2019), aos jovens (2018) e à família (2015 e 2014), além de uma cimeira global
sobre o combate e prevenção aos abusos sexuais (2019).
Durante este pontificado foram proclamados mais de 900 santos e santas – incluindo um
grupo de 805 cristãos que morreram em Otranto (Itália), às mãos dos otomanos
muçulmanos em agosto de 1480.
O elenco inclui incluindo várias
figuras ligadas a Portugal: Francisco e Jacinta Marto, pastorinhos de Fátima,
canonizados a 13 de maio de 2017 na Cova da Iria; D. Frei Bartolomeu dos
Mártires (1514-1590), arcebispo de Braga, por canonização equipolente
(dispensando o milagre requerido após a beatificação); o sacerdote português
Ambrósio Francisco Ferro, morto no Brasil a 3 de outubro de 1645 durante
perseguições anticatólicas, por tropas holandesas; o padre José Vaz, nascido em
Goa, então território português, a 21 de abril de 1651, que foi declarado santo
no Sri Lanka; e José de Anchieta (1534-1597), religioso espanhol que passou por
Portugal e se empenhou na evangelização do Brasil.
Francisco convocou dez
Consistórios, nos quais criou 163 cardeais, entre eles D. Manuel Clemente,
patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima;
D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação;
D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.
No seu pontificado, a Igreja
Católica celebrou dois Jubileus – em 2016, num Ano Santo Extraordinário,
dedicado à Misericórdia, e o atual Ano Santo ordinário, dedicado à esperança;
criou, entre outros, o Dia Mundial dos Pobres, o Domingo da Palavra de Deus e o
Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.
Francisco foi o sexto pontífice mais velho da história da Igreja, atrás de
Lúcio III (c. 1097-1185), Celestino III (c. 1106-1198), Gregório XVII (c.
1325-1417), Leão XIII (1810-1903) e Bento XVI (1927-2022).
OC | Imagem: Vatican Media