quarta-feira, 23 de abril de 2025

ONG considera que elites informais estão a excluir juventude de Timor-Leste

A Fundação Mahein considera que o sistema político de Timor-Leste continua dominado por redes informais de elites que estão a minar a meritocracia e a excluir a juventude, o que pode levar a instabilidade social e política.

Num artigo, divulgado este mês, a organização não-governamental timorense afirma que o poder está a ser exercido através de "conexões pessoais, hierarquias socioculturais tradicionais, credenciais históricas de resistência e sistemas de clientelismo".

"O 'status quo' levou a uma desilusão generalizada entre os jovens timorenses devido ao nepotismo sistémico no emprego e na educação, bem como a um crescente afastamento entre os cidadãos e os decisores políticos", salienta a Fundação Mahein (FM).

Por isso, a organização não-governamental insta os líderes timorenses a "implementarem as reformas necessárias", incluindo a sucessão política, e a melhorar as condições e vida e a reforçarem o Estado de Direito, para evitarem a instabilidade social e política.

"Hoje, os riscos são mais elevados do que nunca, dada a maior riqueza de Timor-Leste e o desespero de muitos cidadãos", sublinha.

Mais de 70% da população de Timor-Leste, com 1,3 milhões de habitantes, tem idade inferior a 35 anos e, segundo dados das Nações Unidas, mais de 30% dos jovens estão desempregados.

"As oportunidades em Timor-Leste dependem das ligações familiares e políticas, em vez de competências e qualificações" e cada vez mais os jovens timorenses procuram trabalho no estrangeiro, salienta a Fundação Mahein.

Aquela realidade, segundo a organização, reflete uma necessidade económica, mas também a falta de confiança.

"Quando os empregos, bolsas de estudo e contratos são sistematicamente distribuídos entre redes de elite, muitos veem a migração como o único caminho possível para alcançar prosperidade", considera a fundação.

Segundo a FM, o nepotismo e a informalidade estão enraizados nos processos administrativos mais básicos e a falta de responsabilização pela corrupção está a reforçar a perceção de impunidade e de que o Estado serve só os privilegiados.

"À medida que a geração mais velha se aproxima da reforma, a sua falha em cultivar novas lideranças coloca o país em risco de um perigoso vazio de poder", ao qual se junta uma população jovem "alienada e com baixo nível educativo", adverte.

Exemplo disso, segundo a organização não-governamental, é também o facto de 23 anos depois da restauração da independência, Timor-Leste continuar a "depender de assessores internacionais para muitas tarefas formais".

Considerando que o desenvolvimento da liderança está "estagnado", a Fundação Mahein afirma que Timor-Leste está a sofrer um paradoxo, com "abundância de políticos, mas com escassez de verdadeiros líderes".

"Timor-Leste encontra-se numa encruzilhada. As elites podem optar por facilitar reformas graduais ou enfrentar exigências crescentes de uma geração jovem cada vez mais frustrada. A escolha determinará a estabilidade e o futuro democrático do país", acrescenta a Fundação Mahein.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Lusa

Leia em NM: 

PR timorense na Bulgária e Reino Unido para reforço das relações bilaterais

Timorenses emocionados rezam por "mais um santo no céu"

"Não foram só os cristãos que perderam um líder, foi o mundo", afirmou o vigário episcopal da diocese de Díli, salientando que o Papa abriu os olhos da igreja e acordou as pessoas para a fraternidade.

Acompanhe aqui o nosso liveblog sobre a morte do Papa Francisco

A morte do Papa Francisco emocionou Timor-Leste, um dos países mais católicos do mundo, a seguir ao Vaticano, levando esta terça-feira milhares de pessoas às igrejas e a outros locais para rezar por “mais um santo no céu”.

“Não conseguimos descrever este sentimento, esta relação que nós temos com este Santo Padre, especialmente pela sua visita, aquele amor que tem pelo povo de Timor”, disse à Lusa visivelmente emocionado o padre Juvito Araújo, vigário episcopal da diocese de Díli.

O padre Juvito Araújo lembrou Francisco pela presença, que “homenageia a pessoa humana”, e por aquilo que queria criar no mundo, “uma fraternidade universal, onde as pessoas vivem como irmãos e trabalham para o bem comum”.

O sacerdote falava à Lusa em Lecidere, bairro da capital timorense onde está localizada a residência do arcebispo de Díli e onde esta terça-feira vários membros do Governo se deslocaram para apresentar condolências.

Em frente à residência, no Jardim de Lecidere, muitos timorenses rezavam por Francisco e depositavam flores aos pés de uma estátua de Maria.

“Na opinião geral, mais um santo no céu”, disse Maria da Conceição Soares, que se deslocou a Lecidere para rezar pelo Papa.

Da visita de Francisco ao país, em setembro passado, Maria da Conceição Soares recordou a mensagem do Papa.

“Trouxe na sua mensagem, a verdade, a justiça, a humildade, para que este povo perceba que tem de lutar para alcançar uma verdadeira justiça e mais solidariedade”, salientou.

Áurea Belo, que também foi ao Jardim de Lecidere para rezar pelo Papa, escreveu uma mensagem que fez questão de ler aos jornalistas.

“Papa Francisco, partiste deixando lembranças e saudades, mas a tua imagem está sempre ao alcance e na memória de Timor-Leste. Adeus, boa viagem Sua Santidade. Timor-Leste suplica, descansa em paz. Eternas saudades”, leu.

“Não foram só os cristãos que perderam um líder, foi o mundo”, afirmou o padre Juvito Araújo, salientando que Francisco abriu os olhos da igreja e acordou as pessoas para a fraternidade e para um mundo onde as pessoas se possam abraçar e dialogar.

“Nós ainda necessitamos dele, mas tudo acontece segundo a vontade de Deus. Eles [referindo-se aos cardeais] vão eleger, mas Deus vai dar uma pessoa certa”, acrescentou.

O Jardim de Lecidere vai estar aberto durante o resto da semana para que os timorenses possam prestar homenagem.

Ainda para esta terça-feira está prevista uma missa especial pelo Papa Francisco na Catedral de Díli.

Papa Francisco morreu segunda-feira aos 88 anos, após 12 anos de um pontificado marcado pelo combate aos abusos sexuais, guerras e uma pandemia. Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.

Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março. A última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.

Segundo a legislação em vigor do Vaticano, o caixão de Francisco deverá ser levado quarta-feira para a Basílica de São Pedro para ser visto pelos fiéis, e o funeral deverá realizar-se entre sexta-feira e domingo.

Observador | Lusa | Imagem: António Amaral/Lusa

Ler/Ver em Observador:

Francisco, o Papa que reformou a Igreja

FRANCISCUS, O PAPA DO POVO. O POVO DO PAPA - vídeo



Francisco: Papa teve horas serenas, antes da morte, grato pelo regresso à Praça de São Pedro

Eclesia.pt - 22 Abril, 2025 10:58

Último percurso em papamóvel aconteceu no Domingo de Páscoa

Cidade do Vaticano, 22 abr 2025 (Ecclesia) – O Papa Francisco, falecido esta segunda-feira, na sequência de um AVC, manifestou a sua gratidão pelo regresso à Praça de São Pedro, no último domingo, naquela que viria a ser a última aparição pública do pontificado.

“Entre as últimas palavras do Pontífice está o agradecimento ao seu assistente pessoal de saúde, Massimiliano Strappetti, por o ter encorajado a dar a última volta no papamóvel no domingo, depois da ‘Urbi et Orbi’: ‘Obrigado por me trazeres de volta à Praça’”, refere hoje o portal de notícias do Vaticano.

Francisco, de 88 anos de idade, morreu na manhã de segunda-feira, depois de ter descansado na tarde de domingo e de um “jantar tranquilo”, durante a sua convalescença na Casa de Santa Marta, onde residia.

“OPapa quis fazer uma última e significativa surpresa, indo à Praça de São Pedro para um passeio no papamóvel. Não sem um ligeiro receio inicial: ‘Achas que sou capaz?’ perguntou a Strappetti, que o tranquilizou. A partir daí, o abraço à multidão e, em particular, às crianças: o primeiro passeio depois da alta do Gemelli, o último da sua vida”, indica o ‘Vatican News’.

Segundo o portal de informação, Francisco estava “cansado, mas feliz”, depois do contacto com a multidão de dezenas de milhares de pessoas.

Na segunda-feira, “por volta das 05h30 da manhã, surgiram os primeiros sinais de doença, com a pronta intervenção de quem o vigiava”.

“Mais de uma hora depois, depois de ter acenado a Strappetti, deitado na cama do seu apartamento no segundo andar da Casa Santa Marta, o pontífice entrou em coma. Não sofreu, foi tudo muito rápido, dizem os que estiveram ao seu lado nos últimos momentos”, acrescenta o relato.

O Papa faleceu na sequência de um acidente vascular cerebral (Ictus Cerebri), com “colapso cardiovascular irreversível”, refere o documento de constatação oficial da morte.

“Certifico que Sua Santidade Francisco (Jorge Mario Bergoglio), nascido em Buenos Aires (Argentina) a 17 de dezembro de 1936, residente na Cidade do Vaticano, cidadão do Vaticano, faleceu às 07h35 do dia 21/04/2025 no seu apartamento na Domus Santa Marta (Cidade do Vaticano)”, refere o texto, assinado pelo responsável da Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano, Andrea Arcangeli.

Francisco tinha visitado uma prisão de Roma, na Quinta-feira Santa, e a 12 de abril tinha-se deslocado à Basílica de Santa Maria Maior – onde pediu para ser sepultado -, para rezar antes do início da Semana Santa.

O Papa esteve entre 14 de fevereiro e 23 de março, a hospitalização mais longa do pontificado, devido a uma infeção respiratória que se agravou para uma pneumonia bilateral.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia.

Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).

João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da Arquidiocese argentina a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino.

D. Jorge Mario Bergolgio seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.

O cardeal de Buenos Aires foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do pontífice alemão, assumindo o inédito nome de Francisco; foi também o primeiro Papa jesuíta e o primeiro sul-americano na história da Igreja.

São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741, tinha sido o último Papa não-europeu, antes da eleição de Francisco.

O falecido Papa tinha como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.

Francisco fez 47 viagens internacionais, tendo visitado 67 países, incluindo Portugal (2017 – centenário das Aparições de Fátima – e 2023 – para a JMJ Lisboa, tendo passado também por Fátima).

Dentro da Itália, o Papa fez mais de 30 visitas a várias localidades, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa, primeira viagem do pontificado, e cinco deslocações a Assis.

Entre os principais documentos do pontificado estão as encíclicas ‘Dilexit Nos’ (2024), texto dedicado à devoção ao Coração de Jesus; ‘Fratelli Tutti’ (2020), sobre a fraternidade humana e a amizade social; ‘Laudato Si’ (2015), dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé, 2013), que recolhe reflexões de Bento XVI; as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), texto programático do pontificado, de 2013; ‘Amoris laetitia’, de 2016, dedicada à família; o documento sobre a “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” assinado pelo Papa Francisco e o grão imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyi, em Abu Dhabi (2019).

A reforma dos organismos centrais de governo da Igreja Católica, levada a cabo com a ajuda de um inédito conselho consultivo de cardeais, dos cinco continentes, foi concretizada através da Constituição Apostólica ‘Praedicate Evangelium’, de 2022, propondo uma Cúria Romana mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, com maior protagonismo para os leigos e leigas.

Francisco convocou cinco assembleias do Sínodo, dedicadas à sinodalidade (2023 e 2024), à Amazónia (2019), aos jovens (2018) e à família (2015 e 2014), além de uma cimeira global sobre o combate e prevenção aos abusos sexuais (2019).

Durante este pontificado foram proclamados mais de 900 santos e santas – incluindo um grupo de 805 cristãos que morreram em Otranto (Itália), às mãos dos otomanos muçulmanos em agosto de 1480.

O elenco inclui incluindo várias figuras ligadas a Portugal: Francisco e Jacinta Marto, pastorinhos de Fátima, canonizados a 13 de maio de 2017 na Cova da Iria; D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), arcebispo de Braga, por canonização equipolente (dispensando o milagre requerido após a beatificação); o sacerdote português Ambrósio Francisco Ferro, morto no Brasil a 3 de outubro de 1645 durante perseguições anticatólicas, por tropas holandesas; o padre José Vaz, nascido em Goa, então território português, a 21 de abril de 1651, que foi declarado santo no Sri Lanka; e José de Anchieta (1534-1597), religioso espanhol que passou por Portugal e se empenhou na evangelização do Brasil.

Francisco convocou dez Consistórios, nos quais criou 163 cardeais, entre eles D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação; D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.

No seu pontificado, a Igreja Católica celebrou dois Jubileus – em 2016, num Ano Santo Extraordinário, dedicado à Misericórdia, e o atual Ano Santo ordinário, dedicado à esperança; criou, entre outros, o Dia Mundial dos Pobres, o Domingo da Palavra de Deus e o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

Francisco foi o sexto pontífice mais velho da história da Igreja, atrás de Lúcio III (c. 1097-1185), Celestino III (c. 1106-1198), Gregório XVII (c. 1325-1417), Leão XIII (1810-1903) e Bento XVI (1927-2022).

OC | Imagem: Vatican Media

HOJE A INDEPENDÊNCIA DE TIMOR-LESTE NÃO TERIA SIDO POSSÍVEL -- Mário Robalo

Independência de Timor-Leste seria "muito difícil" atualmente, considera jornalista que entrevistou Xanana Gusmão na clandestinidade

"Com o contexto internacional e com o posicionamento que a ONU já não tem hoje no panorama da política internacional, ia ser muito difícil" conseguir a independência, diz Mário Robalo em entrevista.

O antigo jornalista Mário Robalo, que em 1991 conseguiu entrevistar Xanana Gusmão na clandestinidade, considera que a independência de Timor-Leste seria atualmente muito difícil ou mesmo impossível.

“A libertação de Timor-Leste, com o contexto internacional e com o posicionamento que a ONU já não tem hoje no panorama da política internacional, ia ser muito difícil”, disse Mário Robalo em entrevista à agência Lusa.

No verão de 1991, quando a antiga colónia de Portugal estava ainda ocupada pela Indonésia, o ex-repórter do semanário Expresso, através do então embaixador Francisco Lopes da Cruz, conselheiro do ditador Suharto, obteve autorização de Jacarta para visitar o território.

“Hoje, a independência não teria sido possível, com os panoramas que infelizmente vamos vendo”, declarou.

Mário Robalo, residente na zona de Viana do Castelo, recordou que o referendo de 1999, pelo qual a população se mostrou favorável à criação de um Estado soberano na parte oriental da ilha de Timor, foi realizado quando o presidente dos Estados Unidos era Bill Clinton, numa época em que a questão dos direitos humanos marcava a agenda da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em Portugal, nessa altura, o primeiro-ministro era o socialista António Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas, enquanto Jaime Gama desempenhava as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros.

Da parte timorense, o agora Presidente da República do país, José Ramos-Horta, assumia responsabilidades diplomáticas a nível global, enquanto representante da FRETILIN e do líder da resistência, Xanana Gusmão, no exterior, incluindo na ONU.

“Eles tiveram essa capacidade de trabalhar com a Administração Clinton, por esse interesse democrático”, salientou Mário Robalo, referindo-se ao Governo português e ao Conselho Nacional da Resistência Timorense.

Nos anos derradeiros do século XX, havia nas Nações Unidas e no mundo “um novo entendimento dos direitos humanos” e a sua violação constante na antiga colónia “aborrecia um bocado” o democrata Bill Clinton, considerou.

“O regime de Suharto sobrevivia com o apoio do armamento americano. Isso repercutiu-se naquilo que era a relação cruzada dos Estados Unidos e Jacarta e dos Estados Unidos com Lisboa”, enfatizou o antigo jornalista, que tinha cerca de 40 anos quando entrevistou Xanana, em 1991.

Em termos constitucionais, Portugal estava vinculado ao dever de concluir a descolonização do território e continuava a ser reconhecido pela ONU como sua potência administrante.

Tanto a resistência de Timor-Leste como o Governo de António Guterres “souberam muito bem manusear isso politicamente”, afirmou Mário Robalo, que em 1991 foi preso pelos militares indonésios e interrogado durante vários dias, em Díli, após o seu encontro com Xanana.

“Portugal soube aproveitar muito bem aquela fase Clinton e isso foi fundamental”, sublinhou.

A constituição da INTERFET, “uma força da ONU para intervir em Timor”, em 1999, em caso de violência após a consulta popular, “foi discutida, decidida e votada numa noite”, o que “hoje seria impossível”.

O antigo jornalista reconheceu que nos primeiros anos da ocupação militar pela Indonésia, iniciada em 07 de dezembro de 1975 e que causou milhares de mortos, também a presença da FRETILIN em Portugal “não era bem acolhida” a nível institucional.

Por exemplo, os exilados da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente, que tinha declarado unilateralmente a independência em 28 de novembro de 1975, dispunham de um espaço modesto cedido pela União Democrática Popular (UDP), na sede nacional deste partido, em Lisboa, onde realizavam as suas atividades.

“Eles tiveram muita dificuldade, inicialmente, sim”, confirmou.

Mário Robalo falou à Lusa a propósito do texto “Timor Leste: uma árdua luta pela liberdade”, que escreveu para a última edição da revista “Ipsis Verbis”, comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, com coordenação de Luís Filipe Torgal e Basílio Torres, lançada pelo Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, na semana passada.

João Paulo II recusou beijar solo em Díli por entender Timor-Leste como sua casa

O ex-jornalista Mário Robalo realçou este domingo que o papa João Paulo II, quando visitou Timor-Leste, em 1989, recusou beijar o solo por entender a diocese do Vaticano como sua casa.

Na sua opinião, incluindo com este gesto do papa, a Igreja Católica “teve um peso muito grande ao nível da discussão e solução internacional” para a autodeterminação da antiga colónia portuguesa.

Em entrevista à Lusa, Mário Robalo comentou a visita de João Paulo II a Timor-Leste, quando o líder político e religioso optou por não beijar o solo à chegada a Díli.

“Era uma diocese do Vaticano, sua casa”, da qual ele próprio era bispo, sendo representado localmente pelo administrador apostólico Ximenes Belo.

“Foi interpretado como ter admitido que Timor-Leste já era parte integrante da Indonésia, mas foi absolutamente ao contrário. João Paulo II não ia beijar solo do Vaticano”, explicou.

O papa “foi muito explícito”, querendo deixar claro que, no caso, não iria “reverenciar a casa dos outros”, como fizera antes em Jacarta, disse, alegando que “esta leitura ainda hoje está por fazer”.

“O primeiro telefone satélite móvel que Xanana Gusmão teve foi levado por D. Ximenes Belo através da mala diplomática do Vaticano”, que as autoridades indonésias “não podiam abrir”, salientou.

Há 34 anos, durante uma visita ao território, articulada com o futuro bispo e com a resistência, e sempre vigiada de perto pelas forças indonésias, Mário Robalo deslocou-se sobretudo em táxis que pertenciam a membros da rede clandestina que combatia a ocupação.

“A grande sabedoria do Xanana foi integrar a resistência entre as massas e não apenas através das armas”, enalteceu.

A detenção do antigo jornalista do Expresso na capital timorense, durante alguns dias, aconteceu porque um membro da organização independentista se prestou ao papel de “agente duplo” e avisou os militares indonésios sobre a entrevista a Xanana efetuada pelo jornalista português.

O homem foi executado.

Mário Robalo esteve depois mais três vezes na antiga colónia. Na primeira oportunidade, “por uma questão de ética”, visitou a família do timorense condenado por traição.

Observador | Lusa

Presidente e chefe da diplomacia de Timor-Leste nas cerimónias fúnebres no Vaticano

 

O Presidente timorense, José Ramos-Horta, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Bendito Freitas, vão representar Timor-Leste nas cerimónias fúnebres do Papa Francisco no Vaticano, disse hoje o vice-primeiro-ministro, Mariano Assanami Sabino.

"O Governo será representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que viaja ainda hoje ou quarta-feira, que acompanhará o chefe de Estado", afirmou o vice-primeiro-ministro.

Mariano Assanami Sabino falava aos jornalistas na residência do arcebispo de Díli, após ter assinado o livro de condolências.

José Ramos-Horta está fora do país em visita oficial à Bulgária, seguindo depois para o Reino Unido.

O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, após 12 anos de um pontificado marcado pelo combate aos abusos sexuais, guerras e uma pandemia. Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.

Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março. A última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.

Segundo a legislação em vigor do Vaticano, o caixão de Francisco deverá ser levado quarta-feira para a Basílica de São Pedro, para ser visto pelos fiéis, e o funeral deverá realizar-se entre sexta-feira e domingo.

RTP | Lusa