Cascais,
Lisboa, 26 fev (Lusa) - O especialista José Manuel Cortês, subdiretor-geral do
Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), disse hoje que a inexistência de
um mercado do livro, em alguns países lusófonos, explica a ausência da
circulação do livro e dos seus autores.
José
Manuel Cortês, que falava à agência Lusa no âmbito do Encontro de Literatura
Infanto-Juvenil da Lusofonia, no Estoril, indicou que o tema da
"circulação do livro e do autor no espaço da Lusofonia", sobre o qual
vai debater esta tarde, é "muito complexo", uma vez que "depende
dos responsáveis públicos e de cooperação desses países".
Ex-diretor-geral
do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, com mais de 30 anos dedicados ao
setor, José Manuel Cortês, um dos especialistas nacionais na área do livro e da
leitura, considerou que "deveria haver uma estratégia para levar ao
aparecimento do livro", nesses países.
Guiné-Bissau,
São Tomé e Príncpe e Timor são apontados como os "casos piores" da
inexistência de mercado do livro, seguidos de Cabo Verde, Moçambique e Angola.
O
baixo poder de compra da população, o elevado índice de analfabetismo e a
inexistência de hábitos de leitura são, para o especialista, as principais
razões para o "bloqueio" de acesso ao livro e, consequentemente,
ausência de autores.
"Se
não há mercado do livro, não há autores. Deveria batalhar-se contra isto,
aravés de mais cooperação na Educação, por exemplo. Claro que são problemas
muito difíceis e não se resolvem de um dia para o outro, mas, a médio prazo, é
possível", referiu.
Nesta
"batalha lenta, prolongada e obstinada", José Manuel Cortês indica
que há caminhos para criar hábitos de leitura, através de "programas e
equipamentos que facilitem e favoreçam o acesso ao livro, pela população
escolar".
O
responsável acredita que há vontade dos países lusófonos em mudar essa
situação, mas a falta de condições impede-os de agir e, neste âmbito,
sublinhou, "Portugal poderia dar mais apoio".
"É
necessário centrar no que é essencial e procurar combater esta situação.
Acredito que haja vontade, mas o problema também tem a ver com as condições e,
aqui, Portugal poderia ter um papel mais interventivo, mesmo tendo em conta
esta situação de crise. Às vezes o apoio não tem de ser só financeiro, pode
também ser técnico", sustentou.
O
Encontro de Literatura Infanto-Juvenil da Lusofonia, promovido pela Fundação
"O Século", começou na segunda-feira, com a ida de escritores a
escolas da região de Lisboa, prosseguindo até sábado com debates, oficinas de
escrita, narração e sessões de contos.
Entre
os convidados estão os autores Marina Colasanti (Brasil), Olinda Beja (São Tomé
e Príncipe), Maria Celestina Fernandes (Angola) e portugueses como Margarida
Fonseca Santos, Luísa Ducla Soares, José António Gomes, António Mota, Mário de
Carvalho, Afonso Cruz, André da Loba e Rachel Caiano.
A
circulação do livro no espaço lusófono, a relação entre imagem e texto,
aprender o gosto pela leitura e o trabalho das bibliotecas escolares são temas
que têm vindo a ser discutidos neste encontro.
MYDM
// MAG
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