quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Deputados de Macau rejeitam voto a pedir sufrágio direto


Macau, China, 18 out (Lusa) -- Os deputados de Macau recusaram-se hoje a emitir um voto para pedir que a eleição do próximo chefe do Governo, em 2019, seja feita por sufrágio direto.

A proposta de uma "emissão de voto" foi levada ao plenário por Ng Kuok Cheong, deputado da designada ala pró-democrata, eleito por sufrágio direto.

Ng Kuok Cheong lembrou as promessas do atual chefe do executivo, na campanha que o levou à reeleição em 2014, de iniciar o trabalho de revisão da lei eleitoral para eleger o líder do Governo da região, que atualmente cabe a um colégio de 400 pessoas representativas de diversos setores.

Dois anos depois, nada foi feito, sublinhou o deputado, que considera que o processo deve ser iniciado de imediato, para estar concluído a tempo da próxima eleição, em 2019.

Nk Kuok Cheong já tinha abordado esta questão na segunda-feira, numa intervenção no plenário em que apontou os mesmos argumentos e considerou ainda que o "sistema político democrático é uma forma eficaz para reprimir o conluio e o tráfico de interesses".

O deputado insistiu hoje em que é preciso "acompanhar a evolução dos tempos" e que a "ineficácia do sistema político", se não se adequar às mudanças, acabará por ter "um impacto" em Macau, onde, por exemplo, cada vez mais jovens têm acesso ao ensino superior, passando a ter exigências diferentes.

A mudança no sistema político e a adoção do sufrágio universal são, assim, uma forma de manter uma "sociedade harmoniosa" e evitar "situações caóticas" no futuro, afirmou.

A sua proposta para ser emitido um voto sobre esta matéria -- que é só a afirmação de uma posição, sem consequências jurídicas -- foi apenas secundada por outros três deputados. Os restantes 24 presentes no plenário votaram contra.

Em mais de uma dúzia de intervenções, quase todos os deputados que pediram a palavra contestaram a iniciativa de Ng Kuok Cheong.

Vários deles consideraram que não se inseria no âmbito do que o regimento da Assembleia Legislativa de Macau define como sendo a "emissão de votos", que podem ser de "congratulação, pesar, protesto, saudação, louvor ou censura". Consideraram por isso que Ng Kuok Cheong estava a usar, abusivamente, esta figura para assim tentar "sequestrar" os colegas e "forçar" os restantes deputados a assumirem uma posição sobre o assunto.

Outras vozes consideraram que o processo de "desenvolvimento democrático" de Macau é mais complexo do que um simples voto apresentado em três minutos no plenário, sobre o qual é preciso decidir de imediato e em que se assume apenas uma posição de "sim" ou um "não". Para estes deputados, para ser iniciado, esse processo carece de um debate alargado na sociedade e de um consenso, não sendo uma decisão que os 34 deputados da Assembleia possam tomar, sem ouvir mais ninguém.

Por fim, houve ainda deputados que condenaram o voto por, simplesmente, considerarem que o sistema eleitoral atual é o que melhor se adequa à realidade de Macau, à sua Lei Básica (uma espécie de miniconstituição) e à sua integração na China, através do princípio "um país, dois sistemas".

Um destes deputados foi Tsui Wai Kun, nomeado pelo chefe do executivo, que sublinhou ainda que não é a democracia que acaba com a corrupção, pegando num argumento de Ng Kuok Cheong, dando exemplos de outros países, como o Brasil.

Entre os deputados que manifestaram apoio ao voto de Ng Kuok Cheong estiveram Au Kam Sam, também pró-democrata, e José Pereira Coutinho, ambos eleitos por voto direto.

Este último alertou para os perigos da "marginalização" que o sistema político faz dos jovens, o que está na origem de manifestações e protestos de rua, por exemplo.

MP (DM) // VM

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