terça-feira, 5 de janeiro de 2016

China garante não saber nada sobre livreiro crítico desaparecido em Hong Kong


Pequim, 04 jan (Lusa) -- As autoridades chinesas garantiram hoje nada saber sobre o desaparecimento de Lee Bo, responsável de uma livraria de Hong Kong que, segundo o deputado Albert Ho, estava a preparar uma obra sobre a vida amorosa do Presidente chinês.

Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, assegurou hoje em conferência de imprensa "não estar ao corrente" da situação do livreiro desaparecido e afirmou carecer de informação para oferecer a esse respeito.

O caso de Lee Boo, de 65 anos, visto pela última vez na quarta-feira, não é o único em Hong Kong, já que terá acontecido o mesmo a outros quatro livreiros -- que também trabalham na Causeway Books ou na casa editora associada, a Mighty Current --, o que desencadeou a suspeita na antiga colónia britânica de que os desaparecimentos têm 'mão' de Pequim.

À suspeita juntam-se as declarações do deputado democrata e advogado Albert Ho, citadas pelo jornal South China Morning Post, de que os cinco livreiros preparavam um livro sobre a vida amorosa de Xi Jinping, em concreto sobre uma namorada antiga.

Albert Ho, deputado do Partido Democrata e reconhecido advogado dos direitos humanos (defendeu nomeadamente o ex-técnico da CIA Edward Snowden durante a sua estadia em Hong Kong) ligou a preparação do livro sobre Xi ao desaparecimento dos cinco livreiros.

O Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anticorrupção para punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns publicados nas obras que a livraria Causeway Books e que estão proibidas na China, pelo que são populares entre muitos turistas que visitam Hong Kong.

A mulher de Lee Bo afirmou que o marido lhe telefonou a partir da cidade vizinha de Shenzhen na noite em que desapareceu, tendo-lhe dito que "estava a colaborar com a investigação" relativa aos colegas desaparecidos, e achou estranho que tenha falado em mandarim em vez de cantonês (falado em Hong Kong), tendo reportado o seu desaparecimento à polícia na sexta-feira.

O chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, afirmou hoje, em conferência de imprensa, que seria inaceitável que as agências de segurança da China estivessem a operar na antiga colónia britânica, já que a única autoridade legal é a polícia de Hong Kong, e manifestou-se "muito preocupado" com a série de desaparecimentos.

Os outros desaparecidos, além de Lee Bo, são o editor com passaporte sueco Gui Minhai (desaparecido numa viagem à Tailândia), o gerente geral do estabelecimento, Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e um funcionário, Zhang Zhiping.

Estes desaparecimentos levaram mais de meia centena de pessoas, incluindo deputados, a manifestarem-se no domingo em frente ao Gabinete de Ligação da China em Hong Kong, num protesto em que exigiram a Pequim informações sobre o paradeiro dos cinco livreiros e uma investigação ao sucedido.

O jornal oficial chinês Global Times publicou hoje um artigo em forma de comentário em que advertia contra a tentação de se cair em especulações sobre estes desaparecimentos.

DM // APN

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