quarta-feira, 6 de julho de 2016

China divulga vídeo para tentar provar alegados cimes de livreiro de Hong Kong


Hong Kong, China, 05 jul (Lusa) -- As autoridades da China divulgaram hoje um vídeo para tentar provar alegados crimes do livreiro de Hong Kong Lam Wing-kee, que esteve desaparecido durante meses e disse ter sido detido por agentes chineses e mantido incontactável.

A versão dos chineses sobre o desaparecimento do livreiro a uma delegação de Hong Kong foi divulgada num vídeo que dizem documentar a vida de Lam durante o período que esteve sob a sua custódia, noticia o jornal South China Morning Post.

A delegação do Governo de Hong Kong está em Pequim para discutir a notificação de detenções de residentes na cidade por autoridades chinesas, depois de cinco livreiros da região, que vendiam e publicavam livros críticos de Pequim, terem desaparecido durante meses e reaparecido sob custódia das autoridades chinesas.

O ministro da Segurança Pública da China, Guo Shengkun, esteve presente na reunião.

De acordo com o vídeo, a que o jornal de Hong Kong teve acesso, Lam violou as condições da sua fiança ao recusar regressar à China, onde estava a ser investigado por vender livros proibidos.

Lam regressou a Hong Kong no mês passado, mas só tinha sido autorizado a ficar por um curto período. Segundo o próprio, as autoridades chinesas queriam que lhes levasse um disco rígido com dados dos clientes da livraria onde trabalhava.

Foi neste regresso a Hong Kong que, numa conferência de imprensa, contou a forma como foi detido e mantido em cativeiro e disse que não voltaria à China, como lhe tinha sido pedido.

O Ministério da Segurança Pública disse que Lam é responsável pelo crime de negócio ilegal envolvendo 368 transações de livros proibidos na China.

As autoridades chinesas afirmam que as condições da fiança de Lam o obrigam a permanecer na cidade de Shaoguan.

"Se ele se recusar a regressar, o departamento [de segurança pública] vai ter de rever as medidas de coação de acordo com a lei", indica um comunicado do departamento, citado pelo jornal. A medida mais grave pode implicar prisão.

O vídeo de 15 minutos mostra Lam a confessar ter violado as leis da China.

"Porque violei as disposições legais da China, tenho muitos remorsos. Espero que o Governo chinês seja complacente comigo após este incidente porque estou certo que não voltarei a cometer o mesmo ato", diz Lam no vídeo.

É também possível ver Lam a comer, a ser-lhe cortado o cabelo cortado e a ser-lhe medida a tensão arterial, com um narrador a afirmar que os direitos do livreiro estavam a ser "totalmente protegidos".

No vídeo, o livreiro surge ainda a assinar uma declaração, poucos dias depois de ser detido: "Eu, Lam Wing-kee, não preciso de me encontrar com a minha família e, por enquanto, não irei contratar um advogado".

Imagens de uma câmara de videovigilância mostram Lam a "confessar pormenores dos crimes", como, por exemplo, que era abordado por compradores da China através de uma rede social, que lhes dava uma lista de títulos e que a partir daí era efetuada a venda através de uma conta no Banco da China.

Em Hong Kong, Lam revelou que foi vendado e algemado depois de ser travado e detido na fronteira, que foi levado para Ningbo, na província de Zhejiang, onde foi mantido num pequeno quarto e interrogado, tendo sido proibido de contactar familiares e um advogado.

Outros livreiros surgiram em televisões chinesas a fazerem declarações que familiares e organizações de defesa dos direitos humanos consideram serem falsas confissões de crimes, feitas sob coação.

ISG//APN

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