Sem compreender convenientemente o que se está a passar em Timor sobre a sugestão da primeira ministra australiana Júlia Gillard para instalar um campo de refugiados que se dirigem para a Austrália no país vizinho parece ser de todo o interesse abordar a questão e, antes de mais, responsabilizar os trabalhadores da Lusa e da RTP que se encontram em Timor Leste permanentemente pelo desconhecimento que em Portugal grassa sobre este assunto a par de outros. Caso a carapuça não caiba aos profissionais ali depositados em permanência decerto que caberá às chefias que em Portugal provavelmente os condicionam. É notório que RTP e Lusa são a voz do sistema imposto por Xanana Gusmão, como em Angola e noutros países lusófonos. Comodismos da media portuguesa alapada a interesses de regimes que de democráticos pouco têm.
Dispensada a estocada que deve ser justa aos profissionais de informação de Portugal, principalmente às direções dos órgãos de comunicação citados e por citar, nada se perde por ensaiar considerações sobre um campo de refugiados australiano instalado em Timor Leste em vez de ficar instalado no país que é mira dos que em pequenas e improvisadas embarcações arriscam a vida para chegarem à Austrália. No mínimo é caricata a solicitação-imposição do governo australiano que visa enxotar povos em fuga para um campo num pequeno país vizinho em vez de se assumir como deve e ser ele próprio a tratar de dispensar os tratos humanitários devidos em seu território, mais caricato será se Timor Leste aceitar. O que provavelmente deve acontecer por razões de comprometimentos de Ramos Horta e de Xanana Gusmão com a Austrália de Howard na divida das suas chegadas ao controle absoluto do país, diga-se dos milhões que pertencem aos timorenses mas de que aqueles pouco vêm traduzirem-se nos devidos benefícios coletivos.
Sob o ponto de vista de países vizinhos e das suas boas relações imaginemos que Espanha pressionava Portugal para autorizar que instalasse um campo de refugiados vindos do norte de África em território português. Imaginemos que Portugal acedia a tal proposta. Evidentemente que o raciocínio lógico seria de que Espanha nos via como um tapete para onde varria o lixo que se acumulava à sua porta. Acresce que nem Portugal é um tapete de Espanha nem os refugiados que vêm do norte de África são lixo – mas sim pessoas desesperadas que arriscam as suas vidas na esperança de se refugiarem onde lhes possibilitem viverem em paz. Evidentemente que os portugueses não aceitariam tal desiderato, um campo de refugiados dos vizinhos em território português, por não se justificar e por bulir com intenções xenófobas e racistas de um conservadorismo Chico Esperto que bem e tristemente conhecemos nos anglófonos.
Então e agora Timor Leste vai aceitar as imposições de Gillard, da Austrália? Vai aceitar porque será a moeda de troca para que o gasoduto se encaminha do Mar de Timor para Timor Leste em vez de tomar o caminho do norte da Austrália? Mas que sentido faz esta proposta-imposição de Gillard? O que tem a evidência de Timor ter todo o direito a receber o terminal do gasoduto com todo o dever de a Austrália aceitar os que dão à sua costa em busca de proteção e humanismo? Timor Leste não pode nem deve aceder a este tipo de chantagens. Deva-lhes Xanana, Horta e companhia, o facto de estarem agora nas cadeiras do poder ou não. Timor Leste é uma nação que deve ser respeitada e não o quintal ou o capacho da Austrália. A senhora Gillard, qual Tatcher dama de ferro, não tem o direito de chantagear o pequeno país seu vizinho a que já tanto roubou em hidrocarbonetos, antes, de braço dado com os assassinos generais indonésios, e ainda no presente. Chega.
Esperemos que Timor Leste não ceda a mais esta pouca vergonha australiana e que a sua recusa sobre o assunto seja inequívoca. Oleoduto para Timor Leste e campo de refugiados na Austrália, destino a que se propõem os que se põem em fuga enfrentando oceanos muitas vezes impiedosos, como a Austrália com os seus vizinhos e refugiados, claro.
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