sábado, 30 de maio de 2015

China aprofunda nível de envolvimento com economia do Brasil e de países vizinhos


A visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, ao Brasil na passada semana, quase um ano após a do Presidente Xi Jinping, aprofundou o nível de envolvimento entre as duas economias bem como com países latino-americanos historicamente mais próximos dos Estados Unidos da América.

Durante a visita, com uma comitiva com 150 empresários, Li Keqiang e a Presidente Dilma Rousseff assinaram 35 acordos no valor de 53 mil milhões de dólares, incluindo a exportação de carnes para consumo humano, energia e infra-estruturas envolvendo grandes empresas como a Petrobras, Vale e Embraer.

O principal investimento anunciado é uma linha de caminho-de-ferro entre a região Centro-Oeste do Brasil e o Pacífico, atravessando o Peru, obra que facilitaria a exportação de produtos brasileiros para a China, hoje feita a partir de portos no Atlântico.

Vai ainda ser criado um fundo de 50 mil milhões de dólares para financiar projectos de infra-estruturas no Brasil, a cargo da Caixa Económica brasileira e do Banco Industrial e Comercial da China.

Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, afirma que os resultados da visita elevam o patamar daquela que é hoje a relação comercial, em que os chineses compram principalmente matérias-primas de países latino-americanos e vendem produtos industrializados, com um novo envolvimento que apoia o desenvolvimento destas economias.

“São acções que vão tornar a China um interveniente político e económico na região por muitas décadas e depois disso será impossível cortá-la da equação”, afirmou o analista, citado pela BBC Brasil.

O Brasil, maior economia latino-americana e que tem na China o seu maior parceiro comercial, com trocas totais de quase 78 mil milhões de dólares em 2014, favorável ao lado brasileiro, foi o ponto alto de um périplo de oito dias pela região, que também incluiu Colômbia, Peru e Chile.

Em Janeiro, o Presidente chinês anunciou que Pequim investiria 250 mil milhões de dólares na América Latina na próxima década.

A visita surge numa altura em que, em alternativa a instituições mais ligadas aos Estados Unidos como o Fundo Monetário Internacional, se espera um aumento da oferta de crédito chinês, sobretudo com a entrada em funcionamento do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que junta a China aos seus parceiros dos BRICS (Brasil, Índia, Rússia e África do Sul) e também do recém-criado Banco Asiático de Infra-estrutura e Investimento (BAII).

Na América Central está já em curso a construção do Canal da Nicarágua, considerada a maior obra de engenharia do mundo, financiada por um empresário chinês, que será uma alternativa ao Canal do Panamá na ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Jaseon Marczak, do norte-americano Atlantic Council, afirma que é “importante que a América Latina diversifique a sua economia e se desenvolva, e os investimentos chineses podem ajudá-la a atingir esse objectivo.”

Entre os analistas brasileiros que acolheram positivamente os resultados da visita, Marcelo Zero considerou-a no sítio brasileiro 247 “um golaço da política externa do Brasil e uma manifestação concreta e substancial de confiança no País.”

Só com a Petróleos do Brasil (Petrobras) foram assinados três acordos de cooperação no montante de pelo menos 7 mil milhões de dólares, envolvendo o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportações e Importações (ExIm) da China.

Outros acordos prevêem a construção do complexo metalúrgico do Maranhão, financiamento para a compra de 40 aviões da Empresa Brasileira de Aeronáutica pela China, cooperação na tecnologia nuclear e criação do pólo automóvel de Jacareí, no estado de São Paulo bem como um outro relacionado com a concessão de financiamento para a construção de 14 navios de 400 mil toneladas cada para o transporte de minério de ferro.

Os acordos assinados estendem-se ainda à ciência, com a assinatura de um protocolo de intenções para desenvolvimento e lançamento do sexto satélite sino-brasileiro, o CBERS 4-A, em 2018.

Macauhub/BR/CN

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