terça-feira, 5 de maio de 2015

Devolução de documentos sobre espionagem a Timor-Leste é só "primeiro passo"


Díli, 05 mai (Lusa) - A devolução pela Austrália de documentos que confiscou ilegalmente a Timor-Leste e que detalhavam atividades de espionagem de Camberra sobre o Tratado do Mar de Timor é só "um primeiro passo", disseram hoje ministros timorenses.

"É um progresso do processo em si. Mas é o primeiro passo Ainda há muito para fazer no futuro", disse à Lusa Hernâni Coelho, ministro dos Negócios Estrangeiros, questionado sobre se essa decisão de Camberra abre as portas às negociações bilaterais sobre as fronteiras marítimas.

"Reconhecemos que este processo não é simples nem fácil de resolver. O importante é que comecemos as negociações e que tenhamos uma perspetiva para o futuro de convergir com os nossos países vizinhos", afirmou.

No domingo o Governo timorense anunciou que Camberra tinha aceitado devolver os documentos timorenses que confiscou numa rusga aos escritórios de um advogado em Camberra em 2013 e que detalhavam as atividades de espionagem australiana.

"Após 16 meses a defender veementemente o direito de confiscar e manter os documentos, o Governo australiano escreveu agora ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), afirmando que deseja devolvê-los", informa o gabinete do porta-voz do Governo, Agio Pereira.

No dia 22 de abril, o Tribunal respondeu à carta australiana, autorizando a devolução dos documentos, ainda selados, sob a supervisão de um representante de Timor-Leste", explica.

Questionado sobre se esta entrega dos documentos "alivia" o mal-estar que a ação australiana tinha provocado, Hernâni Coelho disse que "esta é a realidade" em que decorre o processo.

"Mas temos que encarar isto de forma madura. Este é um processo que tem que decorrer dentro de mecanismos em que os padrões internacionais são respeitados e cumpridos", afirmou.

"A fronteira marítima, a independência nunca estaria completo sem ter a jurisdição do nosso território delimitado", reiterou, explicando que tudo está ainda "numa fase muito inicial".

Sem querer tecer comentários alargados - remetendo o assunto para o porta-voz do Governo -, Alfredo Pires, ministro do Petróleo e Recursos Naturais, recordou que este foi um ato da Austrália que "Timor-Leste não achou apropriado" mas que agora "parece ter tido uma solução".

"Timor-Leste está sempre aberto a qualquer tipo de diálogo. Temos as nossas ideias bastante fixas mas estamos prontos para analisar vários cenários que levem a uma solução. As duas partes têm que se reunir", afirmou.

"Ainda falta o diálogo", insistiu.

Recorde-se que os documentos pertencentes a Timor-Leste foram apreendidos no escritório do advogado Bernard Colleary, em Camberra, a 03 de dezembro de 2013, por uma equipa de agentes da ASIO (Organização Australiana de Serviços Secretos).

O comunicado refere que os materiais forneciam "detalhes sobre atividades de espionagem por parte da Austrália em relação a Timor-Leste, durante a negociação do Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (DAMMT)" o que obrigou o Estado timorense a apresentar uma queixa contra a Austrália junto do TIJ, em Haia.

Na queixa, recorda o comunicado, Timor-Leste tinha como um dos seus objetivos a devolução destes documentos.

ASP // DM

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