Lisboa,
29 mai (Lusa) - O investigador australiano Charles Schinner estimou hoje que o
fundo soberano de Timor-Leste, criado para poupar e rentabilizar as receitas
petrolíferas do país, vai durar apenas mais 10 anos, a manter-se o atual ritmo
de gastos do governo.
"Mais
de mil milhões de dólares são retirados todos os anos, especialmente para pagar
à administração e tudo o que faz o governo. É de lá que sai o dinheiro para os
grandes projetos de infraestrutura [em curso]", considerou o investigador
da organização não-governamental timorense La'o Hamutuk.
O
especialista australiano falava na Assembleia da República, em Lisboa, num
debate que assinala os 25 anos da Plataforma Internacional de Juristas por
Timor-Leste.
O
Fundo Petrolífero de Timor-Leste é um fundo soberano criado em 2005 para
recolher depósitos feitos pelo governo timorense de receitas geradas pelo
petróleo e gás produzidos no país.
O
balanço anual do fundo em finais de 2014 era de 16,5 mil milhões de dólares.
"Com
os planos [de investimento] e ritmo de gastos atuais o fundo durará cerca de 10
anos. Esse período de tempo poderá ser suficiente para desenvolver a economia
local", referiu Charles Schinner, que considera "errada" a
estratégia atual do governo timorense para a aplicação desse dinheiro.
"A
direção que o governo está a seguir é a de não olhar para coisas como a
agricultura, a água, a educação ou a saúde. Estão mais interessados em grandes
projetos: minas, fábricas de cimento, aeroportos, um grande porto para navios
contentores", salientou o investigador.
Os
gastos em agricultura, saúde e educação, criticou, têm vindo a descer nos
últimos três anos.
Esse
dinheiro, disse, deveria ser aplicado "em infra-estruturas básicas que
sirvam as populações, e não construindo aeroportos e refinarias de
combustíveis".
O
atual plano governamental de desenvolvimento estratégico vai no seu sétimo ano
de aplicação. Questionado sobre se este plano poderá ser invertido, Charles
Schinner remeteu para as próximas eleições gerais.
"Há
uma eleição em menos de dois meses. Muitos políticos timorenses agora já se dão
conta que o petróleo se está a acabar. Quando começámos a falar que o petróleo
se iria acabar, há cinco anos, ninguém nos deu ouvidos. As pessoas aprendem, as
pessoas mudam. Até os políticos", realçou.
NVI
// ANP
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