Lisboa,
29 mai (Lusa) - O Governo de Timor-Leste deveria abandonar o atual plano
estratégico que prevê a construção de grandes projetos de infraestrutura, como
aeroportos internacionais, e apostar em água, agricultura, educação e Saúde,
considerou hoje o investigador australiano Charles Schinner.
O
especialista australiano, da organização não-governamental timorense La'o
Hamutuk, falava na Assembleia da República, em Lisboa, num debate que assinala
os 25 anos da Plataforma Internacional de Juristas por Timor-Leste.
Em
declarações à agência Lusa, Schinner disse que a raiz do problema económico de
Timor-Leste reside no facto de as reservas de petróleo do país estarem perto do
fim.
"Timor-Leste
está muito perto do fim da sua atual era do petróleo. Já recebeu 98% do
dinheiro a receber pelos campos petrolíferos que estão em produção", disse
o especialista, acrescentando que o governo timorense "fez bem" em
"poupar a maior parte desse dinheiro".
"Dois
terços desse dinheiro está de parte e isso é bom. Mas têm de usar esse dinheiro
para se prepararem para uma economia que não inclua reservas de petróleo:
educação da população, montar sistemas básicos de abastecimento de água, um
sistema nacional de saúde básico", sublinhou.
No
entanto, recordou Charles Schinner, o governo timorense está a fazer tudo ao
contrário: "Estão a construir três aeroportos internacionais porque têm a
visão de que os turistas e as empresas petrolíferas vão começar a voar para
Timor-Leste. Não é isso que o povo precisa, a grande maioria dos timorenses
nunca vai viajar de avião nas suas vidas".
Mais
de 60% da população timorense, salientou Schinner, "vive da agricultura,
na sua maioria não muito produtiva".
"A
maior parte é agricultura de subsistência, apenas para alimentar a família, e
isso pode ser melhorado, a produtividade pode ser aumentada. Criando um mercado
local para os produtos agrícolas e aumentar algumas exportações", realçou.
O
investigador lembrou que Timor-Leste importa bens no valor de 500 milhões de
dólares (447 milhões de euros) por ano e exportam apenas 20 milhões, mais de
90% dos quais em café.
"A
exportação de café pode ser aumentada, mas a forma de corrigir o défice
comercial é trabalhar no número grande e não no pequeno, ou seja reduzir as
importações. E muitas coisas das coisas importadas poderiam ser produzidas
localmente", disse.
No
entanto, ressalvou, o governo timorense está a construir um novo porto para
navios-contentores, para processar de forma mais eficiente as importações.
"Isso
torna mais difícil o desenvolvimento dos fabricantes locais, que não podem
competir com as coisas baratas que chegam dos mais industrializados China e
Indonésia", referiu.
Charles
Schinner usou uma garrafa de água para dar um exemplo sobre as prioridades do
governo timorense, que considera erradas.
"Em
cada evento timorense há garrafas de água como esta nas mesas, mas não são
feitas em Portugal - como esta é - são feitas na Indonésia. Se estamos
dependentes da importação de água potável, porque não podemos dedicar algum tempo
a desenvolver um sistema de processamento de água limpa para a população? E se
só as pessoas com dinheiro podem pagar por uma garrafa de água, então isto é
uma loucura", concluiu.
NVI
// EL
1 comentário:
Parabéns ao Investigador Charles Schinner, pela visão clara e objetiva do que pode tornar esta pequena meia-ilha sustentável para o seu povo!
Penha Pacifico
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