quinta-feira, 13 de julho de 2017

A campanha ‘cara-a-cara’ dos jovens da Fretilin

António Sampaio

A euforia do grupo de jovens, entre taxistas e vendedores de recargas para telefone, dá som e cor ao pequeno encontro organizado pela Fretilin para distribuir panfletos e dar a conhecer o programa do partido para as legislativas timorenses.

O encontro, que quase parece improvisado, decorre à frente do único centro comercial na capital, Díli, onde muitos destes jovens estacionam os seus táxis amarelos ou tentam vender a quem passa recargas para os telefones das três operadoras de Timor-Leste.

No quintal da casa humilde onde tudo decorre - está-se na zona oeste da capital -, um grupo de dirigentes e militantes da Fretilin distribui cartazes, folhetos e bandeirolas aos jovens.

"Eles querem mais bandeirolas, mas já não temos mais", explica Alex Tilman, um dos elementos da Fretilin, que participa num encontro cujo modelo o partido repete, um pouco por todo o país, desde o arranque da campanha.


Cá fora, na movimentada rua - o grande trânsito é só um dos sinais do desenvolvimento que Timor-Leste viveu nos últimos anos - dão-se vivas à Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) enquanto se decoram os táxis com as bandeiras e cartazes.

Tilman, 40 anos, faz parte da nova geração de líderes do partido que nos últimos anos deu cada vez mais papel aos jovens: a Juventude Fretilin faz a campanha "cara-a-cara", nos mercados, nos locais onde as pessoas se concentram.

Nas mãos tem duas molduras, um amarela e outra vermelha, que o partido usa para criar ‘retratos' de militantes, com os jovens a empurrar-se para tirar fotos que, segundos depois, sobem às redes sociais.

Estimativas apontam a que 500 mil timorenses usem o Facebook e aqui, como noutros países, as redes sociais são para muitos a única fonte de informação. E este ano, também de informação e marketing político.

Cor, bandeiras, camisolas, conversas que decorrem, aparentemente, sem o grande impacto mediático dos comícios ou das grandes ações de campanha e que apostam na proximidade.

Tilman diz que "as pessoas respondem melhor" ao diálogo de cara-a-cara, que se mostram satisfeitos por poder, em vez de simplesmente ouvir os líderes, fazer perguntas, discutir assuntos que os preocupam.

"Fazem-nos perguntas mas também fazem críticas. Dizem-nos que estamos no Parlamento há muito tempo e perguntam o que fizemos. Ou que estivemos no Governo e o que fizemos. É uma oportunidade para explicar as complexidades da organização política, dar a conhecer programas como o de Oecusse [liderado por Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin] ou a liderança do atual primeiro-ministro, Rui Araújo", explica Tilman.

É também uma oportunidade para procurar recuperar para a política um crescente grupo de jovens desligado da governação do país e que, sugere, nem sequer conhecem a história de Timor-Leste.

Os encontros são, na prática, o aplicar em campanha de um método que a Fretilin explica ter seguido na preparação do seu programa para as legislativas de 22 de julho.

A Fretilin é, potencialmente, o partido que tem a estrutura mais bem organizada, alcançando as aldeias mais remotas onde trabalha politicamente mesmo nas épocas mais ‘mortas', sem campanhas eleitorais.

Tilman explica que por isso o programa reflete as aspirações da população da base, as suas preocupações com aspetos como água ou saneamento ou outras necessidades básicas do mundo rural.

"O nosso programa veio da base, das aspirações da base. Nestes encontros, quando as pessoas dizem que os programas são só para os políticos e que eles não aproveitam nada, explicamos que seja quem for que elejamos a 22 de julho, o que eles fizerem afeta-nos a todos", disse.

A campanha para as legislativas decorre até 19 de julho.

SAPO TL com Lusa | Foto@ Nuno Veiga/EPA

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