segunda-feira, 23 de abril de 2018

JOGOS DE GUERRA | Pequim prepara-se para retomar Taiwan


Marinha chinesa exercita os músculos no Mar do Sul da China

Pela primeira vez desde há três anos, a marinha chinesa efetuou na quarta-feira exercícios com fogo real no Estreito de Taiwan, descritos em Pequim como “um aviso” às forças separatistas da ilha e aos Estados Unidos. Foram também as primeiras manobras navais desde que a líder do Partido Democrático Progressista (pró-independência), Tsai Ing-wen, foi eleita Presidente de Taiwan, em janeiro de 2016.

“Se Taiwan e os EUA encararem a iniciativa do Exército Popular de Libertação apenas como um sinal de dissuasão, estão a cometer um erro grave”, disse o “Global Times”, um tabloide nacionalista do Partido Comunista Chinês, citando um perito militar local. “O Exército Popular de Libertação está a preparar-se para uma grande operação militar destinada a retomar Taiwan no futuro”, assegurou.

“Os comunistas chineses têm estado a usar intimidação verbal e fanfarronadas, esperando afetar a moral ou criar mal-estar social”, reagiu o porta-voz do Ministério da Defesa de Taiwan, Chen Chung-chi, citado pelo “South China Morning Post”, publicado em Hong Kong. “É uma manobra de guerra psicológica”, disse outro responsável militar da ilha.

No final da semana passada, a marinha de Taiwan fez exercícios navais na mesma região. “Não têm significado”, comentou um general chinês, Xu Guangyu. “Quando o continente decidir resolver militarmente a questão de Taiwan, as suas tropas não terão possibilidade de mudar o que quer que seja”.

Com uma superfície equivalente a um terço de Portugal e cerca de 23,5 milhões de habitantes, Taiwan fica a menos de 200 quilómetros da costa leste da China e, em alguns pontos, a distância é de apenas 130 quilómetros. No plano económico, as relações são ainda mais próximas. Apesar da tradicional rivalidade política, a China continental é o maior mercado de Taiwan, absorvendo 28% das exportações da ilha. Os EUA surgem em terceiro lugar, atrás de Hong Kong. Em contrapartida, o investimento de empresas de Taiwan também é elevado sendo o exemplo mais conhecido a Foxconn (Hon Hai, em chinês), que fabrica no continente os iPhones, entre outros.

Apenas vinte países, quase todos pequenos estados da América Central e do Pacífico Sul, mantêm relações diplomáticas com Taiwan. Pequim não se opõe a relações económicas e comerciais com a ilha, mas condena quaisquer contactos de natureza oficial.

Em março, ignorando os protestos de Pequim, o Presidente Trump autorizou o intercâmbio entre funcionários dos EUA e de Taiwan, incluindo visitas de navios de guerra. Um conhecido professor chinês de Relações Internacionais, Shi Yinghong, considerou o denominado Taiwan Travel Act “um grave retrocesso” nas relações sino-norte-americanas. Segundo o Governo chinês, a nova lei “viola seriamente o princípio de uma única China”.

As manobras de quarta-feira decorreram menos de uma semana depois da “maior parada naval da história chinesa”, com 48 navios, entre os quais o seu primeiro porta-aviões, “Liaoning” e mais de dez mil soldados. A parada, presidida pelo novo “Grande Timoneiro” do país, Xi Jinping, realizou-se no disputado Mar do Sul da China.

Construído na antiga URSS, o “Liaoning” — ou “Variag”, como então se chamava — foi comprado há vinte anos à Ucrânia por uma companhia chinesa. Os novos proprietários anunciaram que iriam levá-lo para Macau e convertê-lo num casino flutuante, mas o porta-aviões acabaria num estaleiro de Dalian, no nordeste da China. Em 2012, depois de devidamente equipado, entrou ao serviço da marinha chinesa que, entretanto, já construiu um segundo porta-aviões.

António Caeiro | Expresso | Foto: Reuters - O porta-aviões “Liaoning” à frente da frota militar chinesa

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