Madabeno, Timor-Leste, 21 abr
(Lusa) - O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta recusou hoje responder às
críticas recentes de que tem sido alvo sobre o seu papel na luta pela
libertação de Timor-Leste, afirmando que só está preocupado com o futuro do
país.
"Eu não fiz mais do que
ninguém. Talvez fiz o mínimo, o menos de todos. Os que, do outro lado, têm
falado na história, devem-se acalmar porque não reclamo rigorosamente
nada", afirmou à Lusa, à margem de uma ação de campanha para as
legislativas antecipadas de 12 de maio em Madabeno, a 25 quilómetros a sul de
Díli.
"Se acham que a frente
diplomática representada por mim, Mari Alkatiri e outros não fez nada, que
fique assim. O debate terminou. Eu não tenho problema nenhum. Não estou nesta
campanha para vir a ser ministro ou presidente ou primeiro-ministro. O que me
preocupa é o curso e a trajetória do pais. Há muito a corrigir",
sustentou.
Fundador da Fretilin, José
Ramos-Horta foi durante décadas o rosto internacional da luta contra a ocupação
indonésia, papel pelo qual recebeu em 1996 - e conjuntamente com o então
administrador apostólico de Díli - o Prémio Nobel da Paz.
Desde o inicio da campanha, em
que pela primeira vez em décadas voltou a vestir, literal e politicamente, a
camisola da Fretilin - está no atual Governo como ministro de Estado -
Ramos-Horta tem sido alvo de críticas dos dirigentes e militantes da oposição.
Os líderes e militantes da
Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), incluindo Xanana Gusmão e Taur Matan
Ruak, têm marcado parte do seu discurso por duras críticas à Fretilin, a
Ramos-Horta e a Mari Alkatiri, secretário-geral do partido.
Muitos dos comentários referem-se
ao passado da luta contra a ocupação indonésia e pela independência de
Timor-Leste, com tentativas de alguns dirigentes de politizarem os diferentes
braços da resistência: armada, clandestina e diplomática.
"Aqueles que usam linguagem
muito agreste, já com ataques pessoais, talvez estejam muito nervosos com a
possibilidade real de perderem. Provavelmente é isso. E isso não os ajuda",
considerou.
"O povo observa quem são os
líderes que agem com serenidade, elegância, sem ataques pessoas. Esse povo não
gosta de líderes que usam linguagem de confrontação e ataques",
considerou.
Os timorenses podem gostar mais
de um líder ou de outro, mas respeitam todos, "sem hostilidade a
nenhum" e "quando um ou outro faz ataques pessoais, negando o papel
de um outro, isso não cai bem no eleitorado, sobretudo no eleitorado jovem".
"Perante ataques pessoais,
batem-me numa face, dou a outra. Continuo a respeitar imenso Xanana Gusmão e
não podemos negar o seu imenso contributo para a luta e para os últimos 15
anos", afirmou.
"Temos diferenças de
abordagem em relação à governação e ao futuro do país, e acredito no futuro do
país. Não sou anti-CNRT ou anti-Xanana. Continuarei, mesmo sendo alvo de
ataques, a falar com todo o respeito e admiração por Xanana Gusmão",
afirmou.
Sem comentar em concreto as
acusações, Ramos-Horta lamenta os comentários que considera "pouco
pedagógicos", considerando que "supostamente os líderes devem dar o
exemplo", ensinando os mais jovens".
Jovens que, garante, "querem
programas, querem ver esperanças de melhorar as suas vidas, de ver o seu futuro
melhor" ou, então, nas zonas mais isoladas do país, que "querem água
limpa para a aldeia, eletricidade onde não há, escolas mais perto, investimento
na agricultura para poder ter mais comida para as crianças".
"Só pedem isso. Não estão
muito preocupados com o gasoduto, se vem para Timor ou não. Não participam
nesse debate, não estão muito preocupados com grandes visões. Pedem coisas
simples", afirmou.
Ramos-Horta rejeita ainda as
críticas da AMP à Fretilin "como se o partido tivesse governado"
quando foi o CNRT, agora na coligação, que liderou o executivo nos últimos 10
anos, com a Fretilin a dar apoio para "viabilizar" o executivo.
"Mostrou sentido de Estado.
Foi o que fez. Agora de repente fazem esse ataque feroz à Fretilin, como se tivesse
a governar estes 10 anos. Mas afinal quem governou 10 anos?", questiona.
ASP // FPA
Sem comentários:
Enviar um comentário