Díli, 29 out (Lusa) - Uma revista
online australiana divulgou hoje uma lista de altos responsáveis do país que
terão beneficiado com o encobrimento do caso de espionagem a Timor-Leste quando
os dois países estavam a negociar sobre o Mar de Timor.
A lista, divulgada pela revista
Crikey, inclui o ex-primeiro-ministro australiano John Howard, o ex-ministro
dos Negócios Estrangeiros Alexander Downer, diplomatas e responsáveis dos
setores judiciais e da secreta.
A revista inclui na lista 11
indivíduos e a petrolífera Woodside, "o maior beneficiário de todo o
escândalo", tendo empregue "funcionários do Departamento de Negócios
Estrangeiros e Comércio" e o próprio Alexander Downer.
"Quanto mais informações
surgem não apenas sobre o escândalo, mas sobre a conduta da política externa
regional da Austrália, mais claro se torna que os interesses comerciais da
Woodside e de outras empresas de recursos têm sido um fator determinante nas
políticas externas e de segurança da Austrália", refere a revista.
O artigo foi publicado para
coincidir com o regresso ao tribunal, esta semana, de um ex-agente dos serviços
secretos australianos, a 'Testemunha K' e ao seu advogado, Bernard Collaery,
que foram acusados de conspiração pelo Ministério Público daquele país e que
estão a ser julgados em Camberra.
Os acusados, que regressam na
quinta-feira ao tribunal, enfrentam uma pena máxima de dois anos de prisão, se
forem considerados culpados. O Governo tem defendido que dada a natureza do
conteúdo do caso o que ocorre no tribunal deve ser 'fechado', algo contestado
pela defesa e por críticos da decisão de acusar os dois homens.
Em causa está uma denúncia por
parte da 'Testemunha K', que divulgou um esquema de escutas montado em 2004
pelos serviços secretos australianos em escritórios do Governo timorense, em
Díli.
De acordo com os relatos, através
das escutas, o Governo australiano obteve informações que permitiriam favorecer
as intenções australianas nas negociações com Timor-Leste da fronteira marítima
e pelo controlo da zona Greater Sunrise, uma rica reserva de petróleo e gás.
"Sob o pretexto da segurança
nacional, os procuradores querem conduzir o julgamento fora da vista do público
para evitar o constrangimento - e talvez pior - de várias pessoas, enquanto os
advogados de K e Collaery argumentam que a acusação deve ser conduzida em
audiência pública", refere o artigo, notando que a decisão do tribunal
sobre esta questão deve ser conhecida na quinta-feira.
Entre os 12 que
"beneficiariam por manter o segredo" do processo estão Alexander Downer,
que "ordenou a operação da ASIS contra o Governo timorense, retirando
recursos da luta contra o terrorismo na Indonésia para o fazer" e que,
posteriormente, "conseguiu um emprego com o principal beneficiário das
reservas submarinas de petróleo e gás de Timor-Leste, a petrolífera
Woodside".
Abrir o processo ao público,
explica a revista, ajudaria a "esclarecer a decisão da Downer usar a ASIS,
[a secreta australiana] para o benefício comercial de uma empresa".
Howard (Liberais) é outro dos
beneficiários, tendo autorizado a decisão de Downer de "redirecionar
recursos da luta contra o terrorismo para cuidar do interesse comercial da
Woodside" e que, como o seu ministro "nunca foi responsabilizado
pelas suas ações, ou pela sua política mais ampla de intimidar Timor-Leste
relativamente aos seus recursos energéticos".
Outra das beneficiárias é a
também ex-chefe do Governo (Trabalhista) que "respondeu de forma agressiva
à tentativa do então primeiro-ministro Xanana Gusmão de resolver a questão de
forma confidencial em 2012" tendo depois iniciado as investigações a K e a
Collaery.
O ministro dos Negócios
Estrangeiros, Bob Carr, na altura da denúncia timorense, o procurador-geral
Mark Dreifys, que aprovou escutas à Testemunha K e a Bernard Collaery e David
Irvine, responsável da ASIS na altura, estão igualmente na lista da Crikey.
Na lista estão ainda Nick Warner,
atual diretor-geral dos serviços secretos e chefe da ASIS que bloqueou a
devolução do passaporte à Testemunha K, Sarah McNaughton, diretora da
procuradoria Pública, o atual procurador-geral Christian Porter, que ordenou a
acusação aos dois homens.
George Brandis,
ex-procurador-geral que ordenou rusgas a K e ao escritório e casa de Collaery,
tendo "ameaçado Collaery no parlamento", e Margaret Twomey, embaixadora
da Austrália em 2004 no período das escutas a Timor-Leste, fazem também parte
da lista.
ASP // FST
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