Luanda, 29 out (Lusa) - O
presidente do Conselho de Imprensa timorense, Virgílio da Silva Guterres,
lamentou hoje à agência Lusa, em Luanda, que a comunicação social em
Timor-Leste se tenha "partidarizado", admitindo, porém, que ainda há
quem lute por um jornalismo independente.
Virgílio Guterres, que participou
na capital angolana na VII reunião da Plataforma das Entidades Reguladoras da
Comunicação dos Países e Territórios de Língua Portuguesa (PER), que terminou
domingo, realçou, no entanto, que Timor-Leste lidera a liberdade de imprensa na
região do sudeste asiático.
"No início da restauração
[da independência, em 2002], a existência dos meios de comunicação era para ser
um instrumento de controlo social ou um instrumento de comunicação entre o
público e o poder, o que reflete a responsabilidade tradicional do jornalismo.
Agora, com a luta de poder, com os políticos e com a competição económica, os
órgãos de comunicação social estão a transformar-se na razão de ter mais acesso
ao poder político e económico", afirmou.
Para Virgílio Guterres, aliás, a
filiação política da comunicação social timorense pôde ver-se
"transparentemente" durante a campanha eleitoral das eleições
legislativas de maio deste ano.
"Partidarizaram-se. A linha
editorial partidarizou-se e nas campanhas [os órgãos de comunicação social]
deram mais espaço aos partidos com quem têm vínculo", frisou.
Questionado pela Lusa sobre se o
jornalismo independente em Timor-Leste acabou, ou segue essa tendência para
acabar, Virgílio Guterres admitiu que o cenário é complexo.
"Dizer que acabou não,
porque há a esperança do público e também de alguns profissionais em manter a
independência editorial, para salvaguardar o interesse e o direito público de
obter a informação de qualidade ainda permanece. Terão é de se agregar esses
esforços e princípios morais para se tornarem a força dominante, face às forças
políticas e económicas que estão a tentar dominar a independência
editorial", respondeu.
Sobre a liberdade de imprensa, o
presidente do Conselho de Imprensa timorense lembrou que Timor-Leste ocupa o
primeiro lugar no índice respetivo na região do sudeste asiático e que,
globalmente, se situa no 97.º posto - "estamos no bom caminho".
"O que agora nos preocupa é
a quantidade e o conteúdo das notícias. Será que estas informações são as
requeridas e esperadas pelo público? Esta é uma questão a ser discutida em
Timor-Leste entre os jornalistas e os políticos", questionou.
O presidente do Conselho de
Imprensa timorense lamentou, por outro lado, a inexistência de um quadro legal
para a Comunicação Social, apesar de a existência da imprensa estar "bem
garantida" na Constituição.
"O que falta agora são os
quadros legais. Falta a Lei da Rádio e da Televisão, ainda não existe, falta a
Lei do Direito do Acesso às Fontes de Informação. Vamos ter de tratar disso e
comunicar ao Governo para que se comece a trabalhar nalgum esboço",
afirmou Virgílio Guterres.
JSD // PJA
Na imagem: Virgilio Guterres
Sem comentários:
Enviar um comentário