Díli, 10 jan (Lusa) - O líder da
Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), atualmente na
oposição, disse hoje que o seu partido apoia o desenvolvimento dos poços de
Greater Sunrise no Mar de Timor, mas que o quer garantir de forma
"sustentável".
"A nossa postura está mais
que clarificada. Somos a favor do desenvolvimento do Greater Sunrise mas somos
a favor de um desenvolvimento sustentável que beneficie o povo e que não venha
a prejudicar o povo", afirmou Mari Alkatiri em declarações à Lusa.
O líder da Fretilin, que tem a
maior bancada no Parlamento Nacional de Timor-Leste, acusou Xanana Gusmão -
líder da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a coligação do Governo -,
de querer "manipular a opinião pública" sobre este assunto.
Na terça-feira, no parlamento, o
negociador principal de Timor-Leste para o Mar de Timor, Xanana Gusmão,
considerou como de "interesse do Estado" a compra da participação
maioritária no consórcio do Greater Sunrise, desafiando a oposição a clarificar
a sua posição.
"Digo aos senhores da
oposição: fazem perguntas, dizem que apoiam, mas e depois? Se não apoiam, digam
claro. Sejam claros para todos nós sabermos", afirmou.
Alkatiri insistiu que a posição
do partido tem sido a mesma e disse que Xanana Gusmão -- atualmente
representante do Governo para os assuntos do Mar de Timor -- não tem
clarificado todas as dúvidas sobre o projeto, em particular a compra de uma
participação maioritária no consórcio do Greater Sunrise.
O líder da Fretilin considera que
Xanana Gusmão usou uma conferência pública em dezembro e uma sessão plenária do
parlamento, na terça-feira, "para fazer campanha", com explicações
"vazias de racionalidade, de conteúdo e praticamente propaganda".
"Não respondeu às dúvidas.
Contornou o assunto e quando viu que não podia contornar mais, reagiu de forma
infantil ao abandonar o parlamento", disse, referindo-se à saída de Xanana
Gusmão na reta final do debate.
"Temos assistido a uma
declaração de fé, a atos de fé, da parte de Xanana. Isentos de racionalidade.
Isentos de lógica, distantes da realidade", afirmou.
Alkatiri disse que continua a
haver dúvidas sobre "exatamente o que se está a comprar" com o
contrato de aquisição das participações da ConocoPhillips e da Shell no
consórcio -- por 650 milhões de dólares -- e também sobre a viabilidade
económica e financeira do projeto.
"Não está claro o que se vai
adquirir. Fala em ações, mas do nosso ponto de vista trata-se de uma
universalidade de direitos, por conseguinte de participações ou
património", disse.
"E se são participações,
então exatamente o que estamos a comprar?", questionou.
O secretário-geral da Fretilin
questionou igualmente o facto de Xanana Gusmão e a sua equipa continuarem sem
apresentar os estudos de viabilidade que dizem ter sobre o projeto.
"Quem é que já viu os
estudos? Não basta só mostrar a capa e o livro quando está a falar. Eu sou
líder do maior partido, ainda que na oposição, e não tive acesso a nenhum
estudo", afirmou.
"O meu partido não teve
acesso, nem quando fui primeiro-ministro [no VII Governo Constitucional]",
lamentou.
Alkatiri disse que Xanana Gusmão
(líder do CNRT, o maior partido da coligação do Governo) está a atuar "a
pensar já em eleições e que as pode vencer".
Sobre a postura do atual
primeiro-ministro, Taur Matan Ruak -- líder do PLP, segunda força da coligação
do executivo -- Alkatiri disse o chefe do Governo está "num dilema".
"Não quero misturar Taur
Matan Ruak aqui. O mandato [dado a Xanana Gusmão] foi do Conselho de Ministros
e ele é primeiro-ministro, mas está numa situação difícil, penso eu. Sendo de
um partido de oito deputados e a funcionar como primeiro-ministro",
argumentou.
"Enquanto Presidente da
República tinha uma posição e agora parece estar num dilema", afirmou.
Alkatiri rejeitou igualmente
acusações de que tem estado a pressionar o Presidente da República para as
decisões que tem tomado, incluindo para o veto em dezembro a alterações à lei
de operações petrolíferas -- para facilitar a compra da participação no Greater
Sunrise -- que foram hoje reaprovadas pelo parlamento.
"É absolutamente falso. Não
têm outros argumentos. O Presidente da República é uma pessoa capaz, sabe o que
faz e a prova disso é que enquanto foi primeiro-ministro, em nove meses vetou
quatro decretos-leis meus", disse.
Sobre que recomendações deixa ao
chefe de Estado -- que está a apreciar o Orçamento Geral do Estado (OGE) para
2019 -- Alkatiri disse que o Presidente decidirá "promulgar ou
vetar", como considerar mais adequado, "em função da sua apreciação
do OGE e da situação económica e política do país".
Questionado sobre se o país
aguentará mais um ano sem orçamento ou com a atual tensão política, Alkatiri
foi lacónico: "Aguentará tanto como aguentaria com o OGE porque o Governo
demonstra incapacidade de executar o orçamento".
O líder da Fretilin disse estar
disponível para dialogar sobre o tema.
"Estamos sempre abertos a
isso. Mas não é diálogo entre surdos e mudos. Não somos nem surdos nem mudos. E
muito menos acreditamos em divinizar o ser humano", considerou.
ASP // JMC
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