sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Rejeição da declaração de independência de 1975 beneficiou causa timorense - Alkatiri


Díli, 14 ago (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin admitiu hoje que a recusa de Portugal em reconhecer a declaração unilateral de independência de Timor-Leste feita pelo seu partido em 1975 acabou por ser positiva para o processo de independência.

"Se Portugal tivesse reconhecido a independência proclamada naquele período, se calhar teria tido menos possibilidade de aparecer como negociador junto das Nações Unidas, como potência administrante", disse Mari Alkatiri, em entrevista à Lusa.

"Não havendo esse elemento de potência administrante a nossa luta teria sido vitoriosa também, estou convencido disso, mas teria tido outro caminho", afirmou o líder da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), segundo partido timorense.

Após a guerra civil de alguns meses, entre a Fretilin e a União Democrática Timorense (UDT), a 28 de novembro de 1975 - dois dias depois de completar 26 anos -, Mari Alkatiri integrou o grupo de dirigentes do seu partido que declaram unilateralmente a independência de Timor-Leste.

Portugal, as Nações Unidas e a generalidade da comunidade internacional não reconheceram a declaração de independência feita pela Fretilin e o processo de descolonização foi interrompido dias depois, na sequência da invasão do território pela Indonésia, a 07 de dezembro.

"Apesar de Portugal naquele período todo pós 25 de abril não ter conseguido assumir as suas responsabilidades, soube manter a sua coerência em considerar-se como potência administrante legal em Timor até ao referendo (de 1999)", explica Mari Alkatiri.

"Isso criou condições para podermos ter tido a saída que tivemos, que significou claramente a reposição da legalidade internacional em Timor-Leste", sublinha na entrevista que coincide com o 500.º aniversário, assinalado sábado, da chegada a Timor-Leste dos primeiros missionários e navegadores portugueses.

Junto das Nações Unidas Portugal continuou a ser reconhecido como potência administrante de um "território não autogovernado".

Isso permitiu a Portugal ser o principal farol diplomático em defesa da autodeterminação timorense, levando em 1999 à negociação com a Indonésia, sob os auspícios do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, do acordo, assinado a 05 de maio, que permitiu o referendo de 30 de agosto desse ano.

Os timorenses votaram amplamente a favor da independência que acabou por ser reconhecida formalmente pela comunidade internacional a 20 de maio de 2002, data que para Timor-Leste continua a ser a da "restauração da independência". Mari Alkatiri tornou-se o primeiro primeiro-ministro do país.

Desde aí, sublinha Mari Alkatiri, apesar de "alguns percalços aqui e acolá" as relações entre Timor-Leste e Portugal "têm sido boas" não havendo razões para serem o contrário.

"Assim como não se devia confundir o regime colonial português com o povo português, com Portugal, também não se deve confundir essa relação entre os dois povos, com poderes políticos que foram passando", disse.

"Há um consenso nacional, de cada partido politico e instituição séria em Portugal olhar para Timor como um país irmão. Mas quem governa um país tem que saber naquele momento certo da sua governação, qual o interesse desse país", afirmou.

ASP // EL

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