Macau,
China, 20 dez (Lusa) -- No Natal das famílias macaenses "há muita coisa da
tradição portuguesa", explica o presidente da Associação dos Macaenses,
Miguel Senna Fernandes, mas é na mesa da consoada que se revela o encontro
entre a China e Portugal, característico desta comunidade.
Os
macaenses - um grupo étnico que resulta da mistura entre portugueses e chineses
- cumprem a maioria das tradições portuguesas: juntam-se na noite de 24 de
dezembro para a consoada e no dia 25 para mais refeições sumptuosas, trocam
presentes, decoram a casa e vão à missa do Galo.
No
entanto, é na gastronomia que o encontro de culturas mais se revela. O bacalhau
"não pode faltar", mas não é prato principal, lembra Senna Fernandes.
"Há sempre peru, havia um tempo em que se comprava capão -- o galo
esterilizado, maior e mais saboroso -- e os mais afortunados comem faisão. São
tudo coisas de Natal", conta.
Nalgumas
casas, como na sua, uma das estrelas é o tacho, "uma espécie de sucedâneo
do cozido à portuguesa", que surgiu numa altura em que não se encontravam
em Macau todos os ingredientes necessários para o prato tradicional -- esta é,
aliás, a origem de muitas iguarias macaenses.
"Na
noite de Natal faz-se também o chau-chau lacassá, uma massa muito fininha a que
se acrescenta camarão e pickles, é agridoce", descreve. Esta massa serve
para fazer a sopa lacassá, sempre presente na mesa de Senna Fernandes.
Os
doces são também de inspiração portuguesa, não faltando o bolo-rei e os
tradicionais sonhos e rabanadas. Os coscorões, no entanto, "são
completamente diferentes dos de Portugal", ressalva.
"Tem
que ver com a massa e a confeção, utiliza-se um pau que roda e o frito que sai
dali tem uma aparência de um remoinho. Leva muito tempo e as donas de casa
vangloriam-se de ter o melhor coscorão", conta.
Há
ainda uma sobremesa de inspiração inglesa, o chamado "cake", um bolo
embebido em álcool que é depois queimado. "Põe-se aguardente, pega-se fogo
àquilo e coze-se em fogo vivo. É servido com manteiga e açúcar. Há quem regue
com vinho do Porto, com aguardente, com rum. É uma coisa absolutamente
deliciosa. Só de relatar já estou com água na boca", descreve.
No
dia 25 os pratos voltam a sair do armário: "É mais uma algazarra, é comer
até mais não".
O
Natal é tradicionalmente celebrado em Macau pelas comunidades católicas, em que
se inserem a maioria das famílias macaenses, mas Senna Fernandes garante que o
espírito é mais de "festa e espírito de partilha", tendo perdido o
seu cariz religioso, o que faz com que muitos chineses adiram também à quadra.
"A
comunidade macaense é muito festiva, é inconcebível um Natal sem festas nem
jantares. As pessoas não poupam na comida, mas já não se evoca tanto o espírito
religioso, é mais festa que outra coisa. E os chineses também entram no
espírito do Natal, já os vemos vestidos com motivos do Pai Natal, por exemplo.
Acaba por ser quase uma coisa pagã", conclui.
ISG
// PJA
Sem comentários:
Enviar um comentário