Díli,
13 jun (Lusa) - Professores portugueses no projeto das escolas de referência em
Timor-Leste queixam-se de decisões arbitrárias e falta de pagamentos e dizem-se
vítimas de ameaças e intimidação quando tentam denunciar os problemas.
"Tratam-nos
com total falta de dignidade. Ameaçam-nos e mantêm um sistema quase pidesco de
controlo sobre o que fazemos e dizemos, especialmente quando levantamos
problemas que existem no projeto", disse um professor ouvido pela Lusa.
"Tem
sido um terror. A nossa vida é totalmente controlada. Se surgem notícias sobre
problemas somos chamados e questionados pelas coordenadoras", explicou
outro, referindo-se às coordenadoras do projeto, uma portuguesa e uma
timorense.
A
coordenação do projeto das escolas de referência, conhecidas como Centros de
Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), é feita conjuntamente por Portugal e
por Timor-Leste. Também o financiamento é partilhado pelos dois países.
O
projeto CAFE está nas capitais dos 13 municípios timorenses, envolve cerca de
80 docentes estagiários de Timor-Leste, 130 professores portugueses e mais de
5.000 alunos.
A
Lusa tentou obter comentários a estas críticas junto da coordenadora portuguesa
do projeto, que remeteu esclarecimentos para o Ministério da Educação em
Lisboa, que não respondeu até agora a vários pedidos de esclarecimento,
enviados na última semana.
As
queixas foram feitas à Lusa, separadamente, por mais de uma dezena de
professores e que pediram o anonimato por "temer represálias".
Os
docentes sublinham a instabilidade no projeto, com um elevado número de
docentes a recusar renovar contrato, em alguns dos casos por "grande
descontentamento com a falta de tratamento das coordenadoras".
Queixam-se
de e-mails à coordenação que ficam sem resposta e da falta de explicações claras,
por exemplo, para as mudanças inesperadas de polos de ensino.
"Disseram-nos
quando tínhamos acabado de chegar, publicamente, na zona de chegada do
aeroporto. Isso causou grande confusão e até a polícia foi chamada. Ninguém
percebeu por que é que a coordenação não reuniu com os professores noutro local
e, em privado, comunicou as alterações", explicou um dos professores.
O
ano letivo em curso foi o primeiro em que, sem critérios conhecidos ou
divulgados aos próprios professores, a coordenação alterou a colocação dos
docentes.
A
coordenação, acusam, não permite sequer permutas entre colegas que acordam
entre si trocar de centros de formação.
Segundo
os docentes ouvidos pela Lusa, os anteriores responsáveis de cada CAFE tiveram
prioridade na colocação em alguns centros educativos, "empurrando"
para outras zonas os professores que ali estavam e contrariando diretivas
anteriores.
Numa
carta endereçada aos docentes que estavam em Timor-Leste no ano passado, datada
de 10 de setembro, as coordenadoras informaram sobre o objetivo de manter os
professores no mesmo centro pelo menos dois anos "para assegurar a
continuidade pedagógica".
Os
professores dizem ainda que as suas valências nem sempre foram tidas em conta,
faltando em algumas escolas "professores de algumas variantes" que lá
estavam no ano passado e foram "mudados para outras escolas onde não são
necessários".
"Já
foram feitos pedidos formais de clarificação sobre os critérios que
determinaram a colocação mas, até agora, não houve qualquer resposta da coordenação",
disse um professor.
Os
professores queixam-se ainda de falta de contacto com a coordenadora portuguesa
do projeto, que continua por visitar praticamente todos os CAFE do país, e das
condições em algumas das casas - "sem cozinha, sem água e sem o mínimo de
condições".
Professores
em centros mais isolados queixam-se também de "pouca flexibilidade"
na possibilidade de viajar até Díli - está previsto que cada docente possa
visitar a capital um fim de semana por mês.
Problemático
continua a ser também o pagamento de complementos salariais aos professores
portugueses e de salários aos funcionários e professores timorenses.
Apesar
de estarem em Timor-Leste desde março, os professores ainda não tinham
recebido, no início de junho, qualquer dos complementos salariais, sendo que os
timorenses não recebem salários desde que assumiram funções, em fevereiro.
Apesar
dos problemas e de crescentes desafios, os professores destacam o impacto do
seu trabalho a nível local.
"Todos
trabalham com coração e muita energia e isso nota-se na forma como somos
acolhidos e recebidos na comunidade local. E todos fazem um grande trabalho
pela comunidade, pela língua, pelos alunos e por Portugal", disse um
professor ouvido pela Lusa.
ASP
// MP
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