Díli, 26 jan (Lusa) - Dirigentes
timorenses saudaram hoje a decisão do Presidente da República de dissolver o
Parlamento Nacional e convocar eleições antecipadas, considerando que era
crucial não adiar mais a resolução do impasse político em Timor-Leste.
O Presidente da República
timorense anunciou hoje a dissolução do Parlamento Nacional e a convocatória de
eleições antecipadas como solução para resolver o impasse político em
Timor-Leste.
"É uma decisão que vai
ajudar a resolver os problemas, penso eu. Mas espero que seja uma decisão que
abra caminho para um novo clima de entendimento", disse à Lusa o
primeiro-ministro, Mari Alkatiri, que é também secretário-geral da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).
"Ninguém deveria estar a
governar sozinho, nem pretender governar contra o sentido do voto", disse
depois de ouvir, no Palácio Presidencial, o anúncio pelo Presidente, Francisco
Guterres Lu-Olo, da sua decisão.
Questionado sobre o facto de
alguns questionarem a independência do chefe de Estado - que é presidente da
Fretilin -, Mari Alkatiri disse que os críticos da decisão "têm
consciência de que houve bloqueio ao exercício do poder político".
Também Mariano Sabino, líder do
Partido Democrático (PD, parceiro da Fretilin no Governo), saudou a decisão,
garantindo que o executivo governará em defesa da nação até ao voto e
criticando os que veem a democracia apenas como uma questão numérica.
"É uma situação difícil para
Timor-Leste e para o Governo e para todos os timorenses, mas os timorenses têm
que responder ao desafio", afirmou.
"Quando há insultos a
pessoas é antidemocrático, quando se utiliza a democracia apenas em termos
numéricos é antidemocrático. A democracia não é só números, é princípio e
atitude, é compromisso: o compromissos do povo na eleição compromete a
existência do partido e quando o partido nega esse compromisso ao povo, a
existência do partido acabou", disse.
Do lado da oposição, os
principais partidos dizem que a decisão era esperada, tendo Adérito Hugo da
Costa, ex-presidente do Parlamento Nacional, e atual deputado do Congresso
Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) afirmado que o partido está
preparado.
"Não estou desapontado.
Estamos preparados para qualquer decisão, incluindo eleição antecipada",
disse à Lusa, escusando-se a confirmar se a oposição concorrerá com uma aliança
pré-eleitoral.
"Depois desta decisão vamos
ver a nossa posição para definir a forma como vamos participar nas próximas
eleições. A máquina do partido está pronta, antes das eleições, depois das
eleições, e continua a reorganizar-se para participar nas eleições",
disse.
Fidelis Magalhães, líder da
bancada do Partido Libertação Popular (PLP), disse à Lusa que esta decisão já
era esperada.
"Tínhamos previsto que a
decisão ia ser a convocação de eleição antecipada. Continuaremos a lutar, a
defender os princípios e valores democráticos e a Constituição. Estamos
prontos. Pelo menos há uma decisão do Presidente", afirmou à Lusa.
Lere Anan Timur, comandante das
Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), considera a decisão do chefe de
Estado "inteligente" permitindo resolver o impasse que se arrastava
há algum tempo.
"Penso que é uma boa
decisão. Uma decisão inteligente. O poder é do povo e se os líderes dirigentes
da nação não se entendem, então é bom regressar ao povo para eles decidirem. É
a melhor decisão", afirmou.
Também o líder da Conferência
Episcopal Timorense, o bispo Basílio do Nascimento, saudou a decisão, que
considerou ser a "menos chocante" para a população.
"Nós os timorenses temos
feridas que ainda não foram saradas e tirar [o Governo] de um para dar ao
outro? Ouvindo os sentimentos das pessoas penso que é a porta mais equilibrada
e menos dolorosa", disse à Lusa.
Manifestando-se esperançado que
os líderes políticos ouçam o povo, Basílio do Nascimento reconheceu o risco de
a situação ter desmotivado a população a participar no ato eleitoral.
"Nestes 15 anos o povo
timorense foi chamado a aprender rapidamente a viver em democracia, uma vez que
em 15 anos, aquilo que acontece nas democracias mais desenvolvidas aconteceu em
Timor-Leste. Desde as crises, até agora é a primeira vez na história que temos
a dissolução do parlamento. É uma boa lição para o povo timorense", disse.
Reações positivas também dos
pequenos partidos, com Gilman dos Santos, (União Democrática Timorense) a
considerar que "foi uma decisão boa".
Com mais quatro partidos,
explicou, a UDT vai apresentar ao voto numa coligação de partidos, a Frente de
Desenvolvimento Democrático.
"Vamos trabalhar e estamos
prontos para competir nas eleições", disse.
Oscar Lima, responsável da Câmara
de Comércio e Indústria, também saudou o facto de a decisão ter sido tomada,
defendendo que não se "podia demorar mais".
"Esta é uma decisão que
tinha que ser tomada. Gostem ou não gostem. O Presidente da República tem que
ter a sua competência e capacidade pessoal para resolver o impasse que temos. É
uma decisão que é boa porque devolve ao povo para decidir", afirmou.
ASP
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