Díli, 30 abr (Lusa) - O
ex-primeiro-ministro timorense Rui Maria de Araújo lamentou hoje ter sido
"desnecessariamente usado" por Xanana Gusmão, quando o escolheu como
chefe de Governo em 2015, mostrando-se esperançado que outros não caiam na nova
"guerrilha política" em curso.
"Aceitei o convite sempre
com a melhor das intenções para servir a causa da libertação do povo maubere.
Se agora afirma que me usou, só tenho a agradecer a franqueza da
'confissão'", disse Rui Araújo, em declarações à Lusa.
"Ofensa perdoada. Faço votos
para que outros não venham a cair vítimas da atual 'guerrilha politica' que
Xanana Gusmão está a comandar", considerou ainda.
Rui Araújo lamentou que
"tenha sido usado desnecessariamente" já que, disse, na altura já
reinava um clima propício de cooperação interpartidária, resultado da nova
conjuntura política desenhada pela liderança da Fretilin e aceite por Xanana
Gusmão desde 2013".
O ex-primeiro-ministro reagiu
assim às declarações do líder da coligação da oposição e ex-Presidente, Xanana
Gusmão, que admitiu numa entrevista à Lusa que usou o membro do Comité Central
da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), numa ação de
"guerrilha política" em que se aliou com a Fretilin para controlar o
parlamento.
"Sei que vou ofender o Rui.
O Rui é muito meu amigo, gosto muito dele e trabalhamos desde o tempo da
clandestinidade. Mas usei-o. Usei-o", disse na entrevista à Lusa em Pante
Macassar, no enclave de Oecusse, região onde está, desde domingo, em campanha.
A entrevista foi feita no âmbito
da campanha para as legislativas antecipadas de 12 de maio em que a Aliança de
Mudança para o Progresso (AMP), liderada por Xanana Gusmão, tem tecido duras
críticas à Fretilin, no Governo.
No início de 2015 Xanana Gusmão
demitiu-se do cargo de primeiro-ministro - o Governo era formado por uma
coligação de três partidos (CNRT, PD e FM) - nomeando como seu sucessor um
membro do Comité Central da Fretilin, Rui Maria de Araújo.
O PD foi formalmente expulso do
Governo - os seus membros ficaram como independentes e com Araújo entraram mais
três elementos da Fretilin, que continuou a votar ao lado do Governo em
praticamente tudo.
A mudança - a meio da legislatura
e que ditou o fim do V e o arranque do VI Governo - surgiu depois de um tenso
final de 2014 marcado, particularmente, pela expulsão dos magistrados
internacionais, maioritariamente portugueses, que estavam em Timor-Leste.
Nos bastidores de todo este
processo estava a questão dos processos por supostos impostos devidos a
Timor-Leste por empresas petrolíferas com os quais, segundo Xanana Gusmão, os
magistrados não lidaram adequadamente. O líder timorense culpa-os por
Timor-Leste ter perdido os processos.
Xanana Gusmão explicou que, no
debate sobre os juízes no Parlamento Nacional e perante a posição da Fretilin,
decidiu mudar de estratégia e "fazer guerrilha".
"Fui ao parlamento, levei
horas a discutir aquilo até que fiquei exasperado e disse à bancada da
Fretilin: pensam que estou aqui a perder tempo para defender o meu dinheiro?
Isto é do nosso povo. Se não quiserem podem sair que nós aprovamos",
disse, referindo-se ao decreto com a ordem de expulsão dos magistrados.
"Perante toda esta
dificuldade de defender interesses nacionais com uma total vontade das
instituições do Estado, tive que fazer guerrilha. Chamo a Fretilin e controlo o
parlamento", contou, admitindo que por isso usou Rui Araújo.
ASP // VM
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