Pequim, 26 dez (Lusa) - Mais de
vinte polícias à paisana cercaram hoje o tribunal no norte da China onde está a
ser julgado um conhecido advogado dos Direitos Humanos, afastando jornalistas,
diplomatas estrangeiros ou apoiantes.
Wang Quanzhang é um de mais de
200 advogados e ativistas que foram detidos, em 2015, parte de uma campanha
repressiva lançada pelo Governo chinês contra defensores dos direitos humanos
no país.
Wang foi acusado, em 2016, de
"subversão contra o poder do Estado", uma acusação muito grave na
China e cuja pena máxima é prisão perpétua. Está detido, há mais de três anos,
sem acesso a familiares ou advogados.
A sociedade de advogados à qual
pertence, a Fengrui, esteve envolvida em vários casos politicamente sensíveis e
representou críticos do Partido Comunista. Wang representou membros do culto
religioso Falun Gong, que o PCC considera um culto maligno, e que baniu do
país, em 1999.
Líderes do culto de prática
espiritual foram condenados a longas penas de prisão e vários seguidores
detidos, por alegadamente constituírem uma ameaça.
Citada pela agência Associated
Press, a esposa do advogado, Li Wenzu, afirmou, na terça-feira, que agentes do
ministério chinês de Segurança do Estado impediram-na de se deslocar a Tianjin,
cidade portuária onde decorre o julgamento.
Os julgamentos de ativistas na
China decorrem muitas vezes durante o período de natal, quando muitos
diplomatas ocidentais e jornalistas se encontram de férias.
Li e Wang Qiaoling, esposa de
outro advogado de defesa dos Direitos Humanos que foi detido, descreveram na
rede social Twitter o seu encontro com membros da Segurança do Estado.
Um dos funcionários ofereceu-se
para as levar até Tianjin, mas acrescentou que o julgamento não é publico e que
estas não poderiam assistir.
Li e Wang afirmaram terem
rejeitado a proposta e tentado sair do complexo, mas que todas as seis saídas
tinham polícias à porta.
Li tem feito uma campanha pela
libertação do marido. No início deste mês, ela e as mulheres de outros detidos
rasparam o cabelo, num ato de protesto.
Em chinês, as palavras
"cabelo" e "lei" são quase homófonas. "Podemos não ter
cabelo, mas temos lei", afirmaram.
Diplomatas das embaixadas dos
Estados Unidos, Suíça, Reino Unido ou Alemanha esperaram nas imediações do
tribunal, em Tianjin. Os
diplomatas afirmaram que o acesso ao julgamento lhes foi negado.
Um apoiante gritou palavras de
apoio a Wang Quanzhang, antes de ser enfiado dentro de um carro por polícias à
paisana.
"Um académico debilitado, e
vocês tratam-no assim", afirmou Yang Chunlin, citado pela AP.
"Wang Quanzhang é a pessoa
mais fantástica na China", gritou. "Exijo reformas políticas,
direitos civis. Eleições no Partido e respeito pelos direitos humanos",
disse, antes de ser levado pela polícia.
JPI // FST
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