António Sampaio, da Agência Lusa
Tibar, Timor-Leste, 15 mai 2019
(Lusa) -- Praticamente 24 horas por dia, todos os dias, há mais de um mês, um
jato de terra, pedras e água vai enchendo, metro a metro, o espaço onde vai ser
construído o novo Porto de Tibar, nos arredores de Díli.
O 'arco-íris' lamacento, sugado
no meio da baía que dá nome ao porto por um poderoso navio de dragagem chinês,
o Xin Hai Kun 2, será a base do terminal que vai ser o futuro centro nevrálgico
da entrada e saída de mercadorias em Timor-Leste.
"Estamos a avançar bem. Este
é o primeiro passo. No final do mês estará concluída parte e tudo estará
completo no final do ano", conta à Lusa, num dos pontões da zona
reclamada, Pierre-Louis Sapin, responsável de construção, da francesa Bolloré,
a concessionária da obra.
Desde que a dragagem começou -- a
primeira fase visível de um projeto que tem estado, até agora, numa fase mais
interna (de design e preparação) -- as equipas já conquistaram mais de 7,5 hectares da Baía
de Tibar.
A zona - que será
progressivamente ampliada até aos 18.5 hectares -- o projeto admite aumento até
aos 27 hectares
- está já elevada a cerca de três metros acima do nível do mar.
Continuará a subir até 5,5 metros , com a terra
e pedras retiradas ao leito do mar a serem reforçadas com 600 toneladas de
metros cúbicos de pedras que virão, eventualmente, de uma pedreira a cerca de 10 quilómetros .
"É um desafio porque é uma
nova atividade. As vezes é difícil garantir a coordenação, mas para já está
tudo bem, todos estão a apoiar", explica à Lusa, Rafael Ribeiro, o
responsável máximo do Timor Port.
"Este será o maior porto e a
primeira parceria público privada e vai ter um impacto positivo, especialmente
na importação e exportação de carga. Atualmente o porto de Díli consegue
acolher 50 a
60 mil contentores e este tem capacidade para receber até um milhão. É de
grande dimensão", explicou.
O projeto tem tido vários 'falsos
arranques', tendo uma primeira cerimónia de lançamento de primeira pedra
ocorrido em junho de 2017, com uma cerimónia liderada pelo então ministro do
Planeamento e Investimento Estratégico, Xanana Gusmão, e responsáveis do
consórcio liderado pela francesa Bolloré.
Questões relacionadas quer com o
financiamento, quer com a subcontratação acabaram por afetar o arranque.
Agora, com o processo de dragagem
e reclamação, há várias semanas que se notam os primeiros trabalhos, com uma
longa mangueira a lançar toneladas de água e terra para a zona a reclamar: no
total serão retirados mais de 5 milhões de metros cúbicos de terra.
Mais próximo da costa está uma
embarcação indonésia, subcontratada, apoiada por duas barcaças de transporte de
mil metros cúbicos de capacidade cada, que recolhe e remove o material que não
é utilizável, que depois é largado numa lagoa natural, com 65 metros de
profundidade, a cerca de dois quilómetros da costa.
Mais à frente o imponente Xin Hai
Kun 2, um dos navios de dragagem e sucção (CSD) mais modernos da frota da
Shangain Dredging Company (SDC), a maior empresa de dragagem do mundo uma das
várias empresas do gigantesco grupo chinês CCCC, grupo este que emprega mais de
100 milhões de pessoas.
Com 114 metros de
comprimento e 22 de largura o XIn Hai Kun, que trabalha 24 horas por dias,
consegue operar até uma profundidade de 27 metros e tem um poder
instalar de mais de 13.600 kilowatts.
O projeto junta empresas de
Timor-Leste, da França, da China, da Indonésia, do Brasil, de Portugal e da
Austrália e envolve já mais de 200 funcionários, dos quais uma grande fatia de
timorenses, número que será aumentado até um máximo de 800 empregos diretos,
500 dos quais locais.
Com uma duração prevista de
construção de três anos, é o primeiro grande projeto em modelo de parceria
público-privada e o maior projeto de infraestruturas de sempre em Timor-Leste.
Central ao projeto estará um
cais, com 630 por quase 60
metros , que inclui uma laje de betão que assenta sobre
602 pilares de ferro enterrados até uma profundidade de 70 metros .
Localizado a cerca de 10 quilómetros a
oeste de Díli, na baía de Tibar, o projeto contou com a participação da
International Finance Corporation (IFC), do grupo do Banco Mundial.
A primeira fase do projeto
(construção, equipamento e operação do porto) está avaliada em 278,3 milhões de
dólares (238 milhões de euros), com o Governo timorense a financiar com 129,45
milhões de dólares (110,7 milhões de euros), e o parceiro privado os restantes
148,85 milhões (127,3 milhões de euros).
Na segunda fase, já de
exploração, a Bolloré prevê investir cerca de 211,7 milhões de dólares (181,1
milhões de euros), em grande parte provenientes das receitas da atividade
portuária.
A Bolloré contratou para a
construção do projeto a empresa pública chinesa China Harbour, o Governo
timorense é representado por uma Unidade de Gestão de Projeto de quatro
Ministérios.
Envolvidas está ainda o consórcio
luso-brasileiro das empresas de engenharia EGT e Fase e a australiana Warle
Parsons.
ASP // PJA
Sem comentários:
Enviar um comentário