sábado, 25 de outubro de 2008

A MARCHA DA PAZ E A DIFÍCIL TAREFA DA ONU EM TIMOR-LESTE


A decisão tomada por José Ramos Horta de subverter o curso normal do resultado das eleições legislativas, ignorando a maior votação obtida pela Fretilin e fazendo com que uma AMP de ocasião se apossasse do seu legitimo lugar na formação de um governo e consequente governação do país, tem vindo a demonstrar em crescendo que foi a decisão errada mas a que lhe convinha para apaziguar os que exerciam pressões para a aniquilação de quem lhes causava dificuldades no domínio da exploração dos hidrocarbonetos no Mar de Timor e nos interesses subsequentes que daí advêm. Ramos Horta teve de entregar o país às mãos daqueles que sempre o exploraram quer no domínio indonésio quer presentemente, a Austrália e os EUA, principalmente.

A subversão assumida por José Ramos Horta enquanto Presidente da República foi de encontro aos que têm fomentado a instabilidade e o caos naquele país mas porque isso não foi considerado bastante para as aspirações de alguns, a etapa seguinte tomou por objetivo a domesticação da Fretilin através da “Mudança” ou a sua aniquilação – é aquilo que está em curso neste momento.

Neste aspeto a ONU, a UNMIT, nada pode fazer para repor a verdade democrática. Os seus poderes são praticamente nenhuns, vendo-se na contingência de ter de estar bem com Deus e com o Diabo, não podendo nem devendo emitir opiniões desse tipo. A ONU só tem de fazer valer a sua vontade e capacidade para evitar violências e caos quase a qualquer preço, por isso ser tão injustamente acusada disto e daquilo. Para a ONU o que conta são os timorenses e o país com a estabilidade possível, na democracia possível.

Na actualidade, aparentemente, o poder está nas mãos do homem forte da Austrália e de todos os interesses por si representados, Xanana Gusmão foi julgado o fiel servidor da causa e desse modo irá sempre continuar enquanto efetivamente os servir. O 11 de Fevereiro teve por objetivo levar à aniquilação violenta da Fretilin, à sua expulsão ou domínio – algo com que Ramos Horta não iria concordar, por isso ter de ser o primeiro a ser eliminado. O seu assassinato seria o rastilho para uma acusação à Fretilin, aos seus atuais líderes. A seguir existiria uma Fretilin domada e entregue de bandeja a José Luís Guterres, que acabaria por também “governar”, dar “legitimidade” ao governo, trazer “paz” e “estabilidade” numa enorme AMP. A oposição seria decapitada de uma vez por todas.

O plano não resultou, como sabemos, havendo agora a necessidade de recorrer a outros subterfúgios que conduzam ao que é pretendido pelos que se consideram com todo o direito a dominar e explorar Timor-Leste. Uma demonstração pública que demonstre a oposição dos timorenses a Xanana Gusmão e à decisão de José Ramos Horta em nomear para o governo a AMP não interessa que se realize e seja mostrada ao mundo.

Imaginemos que o resultado da Marcha da Paz demonstre que os timorenses estão substancialmente contra o governo de Xanana Gusmão e que se justificariam eleições antecipadas. Isso seria deitar a perder o que até agora foi conseguido, porque nessas eleições os timorenses votariam muito menos nos partidos que hoje são a AMP e muito mais na Fretilin, devolvendo-lhe a governação sem sombra de dúvidas. Isso não interessa. A Marcha da Paz não interessa para os objetivos de Xanana Gusmão e daqueles que representa. A Fretilin tem de ser aniquilada. A ONU nada pode fazer… a não ser pôr água na fervura, salvaguardando o melhor que pode e sabe a sobrevivência dos timorenses. É uma tarefa muitíssimo difícil que não se sabe se não terminará inglória. Esperemos que não.

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