São
Paulo, Brasil, 01 dez (Lusa) - Timor-Leste está a construir a democracia e a
modernidade de forma singular, sem negar a ancestralidade e as influências
estrangeiras, disse à Lusa o antropólogo brasileiro Daniel de Lucca.
"Timor-Leste
está construindo sua própria democracia, é um aspeto interessante, que constrói
a modernidade sem negar uma ancestralidade, sem negar aquilo que lhe liga à
terra, à montanha. Esses valores começam a ser lançados na arena pública,
inclusive no Estado, que começa a financiar a reconstrução de casas
sagradas", afirmou o antropólogo, docente da Fundação Escola de Sociologia
e Política, de São Paulo.
No
ano em que completa 40 anos de proclamação unilateral da independência de
Portugal, em 28 de novembro, Timor-Leste "negoceia" com o legado de
todas as modernidades que passaram pela região, incluindo a portuguesa da
colônia, a indonésia (devido à ocupação entre 1975 e 1999) e à das Nações
Unidas.
"[Com
a chegada da ONU, o país] entrou em um mundo internacional, com vínculo com o
universo liberal. Tem empresas, cada vez mais a China está presente",
acrescentou Daniel de Lucca, que viveu entre 2012 e 2014 em Timor-Leste, onde
foi professor visitante na Universidade Nacional Timor Lorosa'e e fez parte do
Programa de Qualificação de Docentes e Ensino de Língua Portuguesa
(PQLP-Capes), do Governo brasileiro.
Daniel
de Lucca, que desenvolve um doutorado sobre Timor-Leste na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), realçou que, nesse processo, os timorenses
ocupam posições "quase subalternas" na capital.
"Os
próprios timorenses são conscientes disso. Uma das consequências é a raiva que
alguns têm contra alguns estrangeiros. Não é generalizado, mas tem. É uma
resposta compreensível, mas problemática", disse.
De
acordo com o investigador, Timor-Leste está a avançar na democracia política,
com eleições cada vez menos conflituosas, mas "há muito a ser feito"
no que concerne à área social, como a ampliação da educação e da saúde, e,
principalmente, na área dos direitos civis individuais, com questões como a
desigualdade de renda e a violência de género.
A
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é "importante" para
Timor-Leste, porém, a presença da língua no país ainda é um desafio, afirmou o
antropólogo, que defendeu a adoção de marcos regulatórios, principalmente na
educação e nos meios de comunicação.
"Na
paisagem linguística da capital, há escritos em lojas em japonês, chinês, um
pouco em tétum-praça e, menos ainda, em português. Nos poucos meios de
comunicação que o país produz, a língua portuguesa existe, mas é fraca",
considerou, acrescentando que, num contexto multilingue, para o português se
solidificar no país deverá ser entendido como mais uma língua e não reivindicar
protagonismo.
De
acordo com o antropólogo, a escolha da língua portuguesa como oficial durante a
restauração foi "estratégica", tanto porque países da CPLP apoiaram a
luta do contra a ocupação indonésia, como pela característica do tétum-praça,
que possui empréstimos linguísticos do português.
FYB
// EL
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