Suai,
Timor-Leste, 28 nov (Lusa) - O Presidente da República timorense garantiu hoje
que aplicará a constituição sempre em defesa do interesse nacional e não dos
interesses do Governo ou da oposição, apelando a que se evitem "lutas
inúteis" desvantajosas para o povo.
"Nas
últimas semanas, muitas pessoas têm invocado a Constituição, especialmente nas
declarações políticas, nos jornais de Díli e no Facebook, para servir a sua
conveniência ou interesses particulares e partidários", afirmou hoje
Francisco Guterres Lu-Olo, em Suai, no sul de Timor-Leste.
"Compreendo
essas tentativas, mas o Presidente da República não pode proceder da mesma
maneira. Quando tomei posse como Chefe de Estado assumi o compromisso de
cumprir e fazer cumprir a Constituição e - para cumprir a Constituição - tenho
de interpretar os seus artigos ao serviço do interesse nacional, não do
interesse de nenhum partido, nem do governo e nem da oposição", afirmou.
Francisco
Guterres Lu-Olo falava em Suai, a 171 quilómetros sudoeste de Díli, onde hoje
decorreram as comemorações oficiais do 42º aniversário da proclamação da
independência de Timor-Leste, uma "conquista de todos os cidadãos do
país".
As cerimónias decorreram num momento de grande tensão política em Timor-Leste, depois de a oposição, maioritária no parlamento, ter rejeitado o programa do Governo uma primeira vez e ter apresentado uma moção de censura que deve ser debatida no inicio de dezembro.
As cerimónias decorreram num momento de grande tensão política em Timor-Leste, depois de a oposição, maioritária no parlamento, ter rejeitado o programa do Governo uma primeira vez e ter apresentado uma moção de censura que deve ser debatida no inicio de dezembro.
Se
a moção for aprovada - o mais provável - o Governo cai e Lu-Olo terá de
escolher entre uma nova solução governativa no atual cenário parlamentar ou
eleições antecipadas.
"É
importante que todos, sem exceção, tenhamos contenção e respeito quando
invocamos a Constituição, para protegê-la e defendê-la, enquanto guia do Estado
e do povo em direção a esse destino coletivo da Pátria", disse Lu-Olo.
"A
Constituição, enquanto lei fundamental que nos une, não deve ser invocada com
ligeireza, conforme a conveniência particular dos partidos, nem deve ser usada
nunca como instrumento de divisão", afirmou ainda.
Num
discurso carregado de referências históricas e aos líderes históricos do país,
que fizeram a luta pela independência e contra a ocupação indonésia, dentro e
fora de Timor-Leste, Lu-Olo disse que os timorenses gozam hoje dos frutos da
liberdade.
"Os
irmãos e irmãs que em 1975 ousaram levantar-se e levantar alto a dignidade dos
timorenses deram voz à esperança do povo pequeno e sofredor desta terra amada.
Temos de honrar a esperança do povo - e a vontade dos cidadãos de fazerem um
futuro melhor, uma vida melhor - num país melhor", afirmou.
"O
Estado tem de atuar com maior equilíbrio e com maior Justiça. Apelo a todos
para não desiludirmos a esperança, nem desperdiçarmos a oportunidade do povo,
com lutas inúteis que não trazem vantagem ao povo. Apelo à unidade em prol de
objetivos comuns, mas com princípios e valores", considerou.
Perante
algumas das principais figuras do Estado, líderes religiosos, representantes do
corpo diplomático e da sociedade civil timorense, Lu-Olo homenageou os que
lutaram, dentro e fora de Timor-Leste, para alcançar a independência,
proclamada em 1975 e restaurada em maio de 2002.
"Curvo-me
perante a memória dos heróis e mártires de 1975 e de todos os que se
sacrificaram, deram a vida ou sofreram nos 24 anos da luta. Curvo-me perante a
memória dos muito saudosos Nicolau Lobato, Francisco Xavier do Amaral, Nino
Konis Santana e de toda a direção da luta", disse.
"Saúdo
a grandeza de caráter e a firmeza de todos os líderes de 1975, incluindo os
meus queridos irmãos Mari Alkatiri e José Ramos-Horta, que Deus quis que
permanecessem ao nosso lado, ajudando a guiar-nos e a levar o país para a
frente", afirmou, relembrando o papel que assumiram, na frente externa,
"cumprindo instruções" de Nicolau Lobato e, mais tarde, de Xanana
Gusmão.
"Saúdo
do fundo do coração o meu irmão Kay Rala Xanana Gusmão, que sucedeu com muito
brilho a Nicolau Lobato. Saúdo ainda Ma'Huno Bulerek Karataiano e Nino Konis
Santana. E o meu irmão Taur Matan Ruak, que lhe sucedeu no Comando das
FALINTIL", disse o chefe de Estado.
ASP
// FPA
Foto:
PR Lu Olo, discurso no Suai. Imagem retirada por TA de reportagem televisiva de
GMN TV
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