Pequim, 23 mai (Lusa) - Vinte
companhias áreas passaram a referir-se a Taiwan como parte da República Popular
da China, cumprindo com as exigências de Pequim, que Washington classificou de
"absurdo orwelliano", apesar de a ilha funcionar como um Estado
soberano.
British Airways, Lufthansa e Air
Canada são algumas das companhias que se referem já a Taiwan como parte da
China, quando faltam apenas três dias para dezenas de operadoras decidirem se
cumprem com as ordens de Pequim ou enfrentam consequências que podem paralisar
os seus negócios no país, incluindo sanções legais.
A 25 de abril, a Administração de
Aviação Civil da China enviou uma carta a 36 companhias aéreas, na qual exige
explicitamente que se refiram a Taiwan como parte da China.
A Transportadora Aérea Portuguesa
(TAP) não inclui Taiwan entre os seus destinos, mas nos casos de Macau e Hong
Kong, também alvos de discórdia com outras companhias, a empresa refere-se já
aos territórios como parte da República Popular da China.
Pesquisando no portal da TAP por
destinos na Ásia, Macau surge identificado como 'Macau, República Popular da
China'.
A adoção de "Taiwan,
China" ou "Taiwan, República Popular da China" nos portais
eletrónicos e mapas das companhias aéreas representa outra vitória nos esforços
do Partido Comunista Chinês (PCC) em forçar empresas estrangeiras a aderir à
sua visão geopolítica, mesmo em operações fora do país.
Críticos afirmam que a crescente
pressão exercida pela China, usando o seu poderio económico para forjar novas
normas internacionais - neste caso o status de Taiwan - gera preocupações sem
precedentes.
"O que está aqui em jogo é
que nós estamos a permitir que um regime revisionista, com um historial
terrível no que toca a liberdade de expressão, dite o que nós dizemos e
escrevemos nos nossos países", afirmou J. Michael Cole, pesquisador do
China Policy Institute e do programa de estudos de Taiwan na Universidade de
Nottingham, citado pela Associated Press.
"Se Pequim não se deparar
com limites, vai continuar a pedir mais", acrescentou.
Taiwan, a ilha onde se refugiou o
antigo governo chinês depois de o PCC tomar o poder no continente, em 1949,
assume-se como República da China, mas Pequim considera-a uma província chinesa
e não uma entidade política soberana.
"Nós opomo-nos veementemente
aos esforços da China para atingir os seus objetivos políticos através da
intimidação, coação e ameaças", reagiu o ministério taiwanês dos Negócios
Estrangeiros, num comunicado enviado à AP.
"Apelamos a todos os países
do mundo que se mantenham unidos na defesa da liberdade de expressão e
liberdade para fazer negócios. Apelamos também às empresas privadas que
rejeitem coletivamente a exigência insensata da China para que alterem a
designação de 'Taiwan' para 'Taiwan, China'", lê-se na mesma nota.
O Presidente chinês, Xi Jinping,
avisou já Taiwan de que a questão da reunificação não pode ser adiada para
sempre, e as forças armadas chinesas têm enviado aviões de combate para a costa
taiwanesa.
Várias multinacionais têm cedido
à pressão de Pequim para alterarem as referências a Taiwan, apesar de o Governo
dos Estados Unidos ter garantido que vai "apoiar os americanos que
resistem aos esforços do PCC em impor as suas noções de politicamente correto
às empresas e cidadãos norte-americanos".
Na semana passada, o retalhista
de vestuário norte-americano Gap pediu desculpa à China por ter vendido
t-shirts com um mapa "errado" do país, que exclui Taiwan.
Em janeiro, a marca têxtil
espanhola Zara, a companhia aérea norte-americana Delta Air Lines e a fabricante
de equipamento médico Medtronic pediram também desculpa por se referirem a
Taiwan como um país nos seus 'sites'.
"Não é possível dizer
não", disse Carly Ramsey, especialista da Control Risks, consultora com
sede em Xangai, a "capital" económica da China, citado pela AP.
"Cada vez mais, em situações como esta, o incumprimento não é uma opção,
se queres fazer negócios na China e com a China", explicou.
JPI // JMC
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