Pequim,
28 jul (Lusa) - O empresário chinês Ng Lap Seng, que queria construir um centro
das Nações Unidas em Macau, foi na quinta-feira condenado por corrupção e
branqueamento de capitais, num caso que envolve um ex-presidente da Assembleia
Geral da ONU.
Na
quinta-feira, depois de um julgamento de quatro semanas, Ng Lap Seng, de 69
anos, foi condenado por todas as seis acusações que enfrentava, incluindo
corrupção, suborno e branqueamento de capitais, num tribunal federal de
Manhattan, em Nova Iorque.
A
data em que se procederá a deliberação sobre a pena não foi anunciada pelo
tribunal. Ng pode enfrentar uma pena de prisão superior a 65 anos.
Principal
acusado no caso, Ng Lap Seng é um empresário de Macau que fez fortuna no setor
imobiliário e é dos homens mais ricos da China.
Os
procuradores acusaram Ng de pagar mais de um milhão de dólares em subornos para
contornar os normais procedimentos das Nações Unidas, com o sonho de conquistar
"fama e fortuna" com a sua ideia de desenvolver em Macau um centro
tão grande como o edifício das Nações Unidas em Nova Iorque, que seria a
"Genebra da Ásia", com hotel, marina, heliporto, complexo de apartamentos
e centro comercial.
A
procuradora assistente norte-americana Janis Echenberg afirmou que Ng pagou
mais de 1,7 milhões de dólares em subornos, escreve a Associated Press.
Ng
"corrompeu as Nações Unidas", considerou Echenberg.
"Tijolo
a tijolo, suborno a suborno, o réu construiu o caminho que ele julgava que ia
construir o seu legado", afirmou.
Com
cúmplices, Ng subornou com 1,3 milhões de dólares o antigo ex-presidente da
Assembleia Geral da organização já falecido John Ashe, que foi presidente da
68.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas entre setembro de 2013 e
setembro de 2014, e Francis Lorenzo, embaixador adjunto da República Dominicana
junto da ONU, escreve, por sua vez, a agência France Press.
Os
procuradores apresentaram provas de que, entre 2010 e 2015, Ng subornou John
Ashe e Francis Lorenzo, pagando 50.000 dólares por mês num esquema para atrair
para Macau um centro que servisse os países mais pobres do Hemisfério Sul.
Indiciado
em outubro de 2015, John Ashe morreu de paragem cardíaca em junho de 2016, na
sequência de um acidente enquanto fazia exercício e levantava pesos, o que
levou ao fim do processo em que estava acusado.
Ng
Lap Seng foi o único de cinco acusados vivos a não declarar-se culpado. Um dos
cúmplices foi condenado a 20 meses de presião e os outros três, incluindo
Francis Lorenzo, aguardam a sentença.
Os
advogados de defesa argumentaram que, apesar dos pagamentos serem comuns, o
centro nunca foi construído.
O
juiz Vernon S. Broderick afirmou que Ng está "literalmente em prisão
domiciliária", sobre uma fiança de 50 milhões de dólares, num apartamento
de luxo em Manhattan, onde permaneceu quase sempre desde que foi detido em
setembro de 2015, com vigilância 24 horas por dia.
"Ele
não pode sair daquele apartamento. Não há se, e ou mas sobre isso",
afirmou o juiz.
Num
comunicado, o procurador interino dos EUA Joon H. Kim afirmou que Ng
"corrompeu os níveis mais altos das Nações Unidas".
"Através
de subornos e empregos de fachada, Ng tornou lideres da Sociedade das Nações no
seu bando privado de agiotas", diz.
As
Nações Unidas disseram que "cooperaram extensamente para facilitar a
administração adequada da justiça neste caso, ao divulgar milhares de
documentos e renunciar à imunidade de funcionários para que pudessem
testemunhar no julgamento".
O
veredito foi um triunfo para os procuradores, que enfrentaram questões legais
difíceis, em torno da imunidade dada aos diplomatas da ONU, antes de
conseguirem a cooperação do embaixador suspenso da República Dominicana Francis
Lorenzo, que testemunhou contra Ng.
Lorenzo
afirmou que Ng pagou-lhe inicialmente 20.000 dólares por mês como presidente de
uma empresa de jornalismo, antes de aumentar esse valor para 30.000, na
condição de que colocasse a empresa de construção de Ng em documentos oficiais
da ONU, como a firma que iria construir o centro em Macau.
Ng
Lap Seng foi membro do principal órgão de consulta do Partido Comunista Chinês
e, em Macau, foi membro da Comissão Preparatória da Região Administrativa
Especial de Macau, do Conselho para o Desenvolvimento Económico, pertencendo
também à comissão que elege o chefe do Executivo.
São
também conhecidas as suas doações ao Partido Democrático dos Estados Unidos nos
anos 1990 e à Administração de Bill Clinton, noticiadas na imprensa norte-americana
por suscitarem suspeitas de origem ilícita.
JOYP/FV
// FV.
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