segunda-feira, 13 de abril de 2015

'Acordo de paz' entre grupos timorenses após confrontos em Inglaterra


Dois grupos rivais de timorenses numa cidade do norte de Inglaterra assinaram um 'acordo de paz' para pôr fim às hostilidades, após um confronto violento que levou ao julgamento e prisão de 14 pessoas.

Notícias Ao Minuto / Lusa

Um funcionário no município de Scunthorpe, uma cidade com cerca de 70 mil habitantes no condado de North Lincolnshire, afirmou que a ideia do documento foi voluntária.

"Foram eles que me pediram para redigir um documento em que estão cláusulas em que se comprometem a não recorrer à violência em caso de conflito e a pedir a ajuda à polícia e às autoridades", disse à agência Lusa Vince Mancini, responsável pelas relações comunitárias do North Lincolnshire Council.

O tratado "simbólico" foi assinado por quatro membros de cada um dos grupos, uns ligados a Lospalos, cidade no leste do país asiático, e outros à Persaudaraan Setia Hati Terate (PSHT), organização de artes marciais fundada em Java Oriental, na Indonésia, em 1922, que chegou a Timor-Leste em 1983, onde tem mais de 30 mil membros.

Os dois grupos protagonizaram o que o juiz David Tremberg apelidou de "violência coletiva" nas ruas de Scunthorpe no dia 23 de junho de 2013, primeiro de madrugada e novamente à tarde.

Citado pelo jornal local Scunthorpe Telegraph, o procurador público Anthony Dunne relatou como dois grandes grupos de homens começaram por lutar com "murros e pontapés" junto a um bar, incluindo agressões às vítimas deitadas no chão.

Os dois grupos voltaram a enfrentar-se horas mais tarde, com alguns armados com paus e correntes, com os quais perseguiram outros pelo centro da cidade, tendo ainda sido arremessadas bolas de golfe e tijolos.

"Ambos os incidentes foram testemunhados por muitos cidadãos inocentes, muitos dos quais tiveram receio pela própria segurança pessoal devido às ações daqueles envolvidos", lamentou Dunne.

Os 14 arguidos foram identificados através de imagens de videovigilância e todos admitiram a culpa, exceto dois, que foram condenados após julgamento.

As penas de prisão variaram entre seis e 11 meses, tendo o juiz David Tremberg determinado que fossem efetivas para refletir a gravidade do sucedido.

"A população de Scunthorpe tem o direito de esperar que comportamentos como este nas ruas da sua cidade não sejam nem tolerado nem ignorado pelos tribunais", disse no dia da sentença, a 27 de março.

Segundo Vince Mancini, os distúrbios refletiram disputas antigas em Timor-Leste, embora admita que o consumo de álcool também tenha estado na origem da tensão.

Ainda assim, garante, os timorenses são considerados "muito trabalhadores, leais e de confiança".

Estima-se que na cidade residam entre 200 a 300 timorenses, muitos dos quais com passaporte português, que exercem trabalhos pouco qualificados na indústria de processamento alimentar da região.

A comunidade começou a crescer em 2012 e é composta sobretudo, descreve, por homens que partilham habitações e enviam dinheiro para as famílias em Timor-Leste.

"Agora que acabou o julgamento, vamos fazer um trabalho maior de integração, para os informar dos seus direitos e deveres, sobre os serviços e habitação e oferecer cursos de língua inglesa para estrangeiros", afirmou Mancini.

Para isso, conta com a ajuda de Duarte Freitas, um timorense respeitado pelas duas partes e que ajudou a perceber a raiz dos problemas e a pacificar as duas fações.

"Agora já está tudo bem e eles não vão voltar a lutar", promete este timorense.

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