Brasília,
15 jul (Lusa) - A antiga secretária-executiva da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) Dulce Pereira considera que a organização que celebra
20 anos no domingo tem falhado na defesa da consolidação da democracia em todos
os Estados-membros com igualdade.
"A
CPLP, lamentavelmente, ainda não cumpriu a sua vocação no que se refere ao
investimento político-diplomático, como fazem outras instituições, na defesa
intransigente da consolidação da democracia em todos os Estados-membros, com
isonomia [igualdade política e perante a lei]", disse a brasileira à
agência Lusa.
Para
a ex-secretária-executiva da CPLP (de 2000 a 2002), os objetivos iniciais da
CPLP foram "parcialmente" cumpridos, dado que "a cooperação e a
dinamização das relações entre os povos ainda são frágeis".
Dulce
Pereira reconheceu que, na última década, algumas conquistas "foram
aprofundadas" e que "a CPLP evoluiu como instituição, se se
considerar que hoje tem observadores importantes e instituições observadoras
consultivas relevantes".
Contudo,
lamentou que "os avanços das relações bilaterais, frequentemente
facilitados pelas relações na CPLP, não sejam acompanhados, o que poderia ser
uma referência importante, até para a definição das prioridades deste organismo
multilateral".
"Seria
necessário maior proximidade com os povos e instituições dos países para que os
avanços se consolidassem. Lamentavelmente, não chegámos lá nestes 20
anos", acrescentou.
A
também professora e investigadora da Universidade Federal de Ouro Preto nas áreas
de relações internacionais e ambiente observou que hoje "há um maior
diálogo entre setores organizados da sociedade civil", ainda a CPLP
"esteja distante" dele e seja vista pelos cidadãos "como uma
instituição frágil de concertação diplomática".
Só
a vontade política poderá "levar à concretização de cooperação
multilateral dinâmica", comentou a também arquiteta e urbanista.
Na
antevisão de Dulce Pereira para os próximos anos, "será mais difícil"
uma "atuação conjunta, que não aconteceu em períodos mais favoráveis, no
âmbito da CPLP", em várias áreas, como "consolidar as
democracias".
Será
igualmente mais complicado, continuou, fazer com que a língua portuguesa
"receba o respeito que merece" e seja ensinada de forma a poder
"garantir muito mais riqueza" e, "principalmente, agilizar a
cooperação multilateral, com conceitos multilaterais".
Essa
dificuldade advém, na perspetiva da antiga secretária-executiva da CPLP, do
facto de se viver " um momento dramático, com o golpe à democracia no
Brasil, crise política na maior parte dos países da comunidade e grande pressão
global contra a organização multipolar dos Estados e nações".
Dulce
Pereira referia-se ao processo de destituição da Presidente com mandato
suspenso, Dilma Rousseff, que tramita no Senado brasileiro, e que tem sido
visto por vários setores da sociedade como um golpe contra o sistema
democrático.
Sobre
a hipótese de transformar a CPLP numa estrutura mais económica, a docente não
vê como tal possa acontecer neste momento, alertando: "Talvez investir
neste caminho, na atualidade, com a crise do capital, torne a instituição ainda
mais frágil".
Apesar
de acreditar que a economia deve ser enfatizada na CPLP, Dulce Pereira lembrou
que as discussões a esse respeito tiveram a sua relevância reduzida por Brasil
e Portugal, quando ela foi secretária-executiva, de 2000 a 2002.
"As
crises internas, neste momento, os ataques ao avanço de um mundo mais
multi-polar por parte de países e de forças conservadoras em várias nações são
fatores que não fortalecem, agora, este rumo", justificou.
Contudo,
defendeu que "dinamizar a cooperação científica, académica, cultural e
económica poderia consolidar possibilidades futuras de se transformar numa
estrutura mais económica, com alguma solidez".
A
CPLP engloba Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste e trabalha em várias
áreas de cooperação, como educação, saúde, defesa, agricultura, justiça e
economia.
ANYN
// VM
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