Lisboa,
15 jul (Lusa) -- O primeiro-secretário-executivo da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), Marcolino Moco, considerou que a polémica com o
fenómeno colonial "retira, por vezes, alguma serenidade" à
organização face a "certos preconceitos de alguns países africanos"
na relação com Portugal.
Em
declarações à agência Lusa, a propósito dos 20 anos da CPLP, que se assinalam a
17 de julho, o angolano Marcolino Moco frisou, porém, que a comunidade lusófona
"nasceu para ficar", uma vez que assenta em bases "bastante
profundas", embora polémicas.
"É
este caráter polémico que, por vezes, lhe retira alguma serenidade, quando por
exemplo, com base em certos preconceitos de alguns países africanos, antigas
colónias de Portugal, este país democrático é compelido a ter de aceitar uma
estranha entrada para a organização da Guiné Equatorial ou a ter de prescindir
do seu direito inteiro de indicação do secretário-executivo, chegada a sua
vez", acrescentou.
Para
Marcolino Moco, que liderou a CPLP desde o ano em que foi instituída, em 1996,
até 2000, a tudo isto se junta "um certo descambar para o materialismo
petrolífero" de quem lidera os Estados, que, no caso da CPLP, "gozam
do direito de soberania inteira no processo decisório".
"Hoje,
sabemos que é este materialismo exacerbado nas entidades nacionais e
internacionais que colocam em perigo de colapso de organizações internacionais
de importância vital, como a União Europeia (UE)", sustentou, salientando
que, no caso da CPLP, os Estados não abdicam da soberania.
Para
Marcolino Moco, também antigo primeiro-ministro de Angola, os 20 anos da CPLP,
que se assinalam no domingo, apresentam um balanço positivo, destacando-se o
papel desempenhado pela organização nos "momentos decisivos" que
conduziram Timor-Leste à independência e na presença em conflitos internos nos
países africanos, especialmente na Guiné-Bissau.
Atualmente
advogado, Marcolino Moco defendeu que, ao longo de duas décadas, a CPLP tem
sido "melhor sucedida" na concertação político-diplomática, algo que,
porém, nem sempre é uma mais-valia direta e visível junto dos cidadãos e que
"por ser de natureza intrinsecamente institucional, não passa muito da
alimentação do ego dos diplomatas e outros agentes estaduais".
Noutro
dos objetivos, acrescentou, a cooperação tem sido dificultada pela dispersão
geográfica dos Estados e inserção em estruturas regionais e continentais.
Na
vertente linguística, o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP),
prosseguiu, "tem padecido de aparente abandono, provavelmente por falta de
recursos necessários".
Marcolino
Moco considerou ainda que transformar a CPLP numa estrutura de cariz económico
é "ilusória, se não mesmo contraproducente", uma vez que os
Estados-membros terão de apoiar e promover, primeiro, os "valores
culturais comuns" para, depois, empenhar-se nas tarefas de formação da
juventude.
Ainda
antes de a CPLP se aventurar na cooperação económica, acrescentou, os
Estados-membros deveriam apostar na criação, por exemplo, de disciplinas
curriculares comuns nos ensinos secundário e superior e em programas de
comunicação social comummente pensados.
"Para
a concretização de alguns destes objetivos que, na verdade, estão implícitos no
quadro do objetivo estatutário da cooperação, no âmbito da CPLP, outras
instituições, além do IILP, deveriam ser criadas, como uma universidade e uma
fundação de apoio a diversas ações (bolsas de estudo, etc...) afetas à
organização", disse.
"Muitas
organizações internacionais cooperariam com a CPLP neste sentido e isso
conferir-lhe-ia uma grande visibilidade e uma mais-valia concreta para os
cidadãos dos respetivos países", concluiu.
JSD
// VM
Sem comentários:
Enviar um comentário