quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Centenas de pessoas protestam contra Kofi Annan na Birmânia


Centenas de budistas nacionalistas protestaram hoje na Birmânia contra Kofi Annan, que inicia uma visita ao oeste do país, onde se vai focar no conflito religioso que obrigou à fuga de dezenas de milhares de membros da minoria rohingya.

À saída do aeroporto de Sittwe, capital do estado de Rakhine, os manifestantes empunhavam cartazes com as frases "Não a uma comissão dirigida por Kofi" e "Não à intervenção tendenciosa de estrangeiros nos assuntos do estado Rakhine", dirigidos ao antigo secretário-geral da ONU.

"Não gostamos de interferências nos nossos assuntos internos", explicou à agência AFP o manifestante Ko Thein. Em agosto, o Governo birmanês anunciou a criação de uma comissão para abordar a violência sectária no estado Rakhine, presidida por Kofi Annan.

Rakhine acolhe a esmagadora maioria da comunidade rohingya -- minoria que vive na Birmânia (Myanmar) há séculos mas cujos membros não são reconhecidos como cidadãos birmaneses nem como imigrantes bengalis.

Aproximadamente 120 mil rohingya -- minoria apátrida que as Nações Unidas considera uma das mais perseguidas do planeta -- vivem confinados em 67 acampamentos e sofrem todo o tipo de restrições desde o surto de violência sectária em 2012 entre esta minoria muçulmana e a maioria budista da região, que causou pelo menos 160 vítimas mortais.

Kofi Annan, que se comprometeu a ser imparcial na sua abordagem ao conflito, vai encontrar-se com os líderes de Rakhine e visitar campos onde dezenas de milhares de rohingya vivem confinados, em extrema pobreza.

No entanto, o maior grupo político da região, o Arakan National Party, já rejeitou a possibilidade de se encontrar com o antigo secretário-geral da ONU.

A minoria vive em terríveis condições, incluindo fortes restrições de movimentos, levando a que dezenas de milhares fugissem, muitos através de uma perigosa travessia marítima para a Malásia.

"Queremos que ele venha", disse à AFP Hla Kyaw, um homem rohingya que vive no campo The Chaung IDP. "Se ele vier, vamos abordar os nossos problemas de cidadania e falar das nossas dificuldades nos campos para IDP [internally displaced persons]", onde ficam quatro anos, acrescentou.

Na semana passada, o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, instou a Birmânia a atribuir cidadania ao grupo e a respeitar o seu direito em identificar-se como rohingya.

Os rohingya são um assunto sensível na política birmanesa, condicionada por grupos budistas radicais que levaram o anterior governo a adotar múltiplas medidas discriminatórias contra aquela minoria.

O ministério liderado por Aung San Suu Kyi, que é a líder de facto do governo birmanês, e a fundação de Annan vão assinar um memorando para estabelecer esta comissão de caráter consultivo que vai contar com nove membros.

Segundo o jornal The Global New Light of Myanamar, o organismo ficará responsável por elaborar, em 12 meses, um relatório com recomendações ao governo com vista a prevenir conflitos e promover a reconciliação naquele estado.

O documento deve abordar questões humanitárias, de desenvolvimento, garantias de direitos básicos e segurança, bem como aspetos jurídicos relativos a requerentes de asilo.

SAPO TL com Lusa 

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