Díli,
09 abr (Lusa) - O primeiro-ministro timorense recordou hoje o papel da Igreja
na "proteção do povo perseguido" durante a ocupação Indonésia de
Timor-Leste, considerando o seu contributo fundamental para forjar a própria
identidade timorense.
"A
Igreja templo foi, em muitos momentos, o local de proteção de um povo
perseguido e se nem sempre conseguiu garantir a sua proteção física, conseguiu
sem dúvida proteger e acompanhar espiritualmente um povo que nunca perdeu a fé
nem a esperança num Timor-Leste independente", afirmou Rui Maria de
Araújo.
"Não
esqueçamos por isso os homens e mulheres da Igreja, que dedicaram a sua vida a
Timor e às suas gentes e que perderam a sua própria vida em massacres como os
que aconteceram no Suai ou em Liquiçá", recordou.
Rui
Araújo intervinha na conferência "Igreja com o seu rosto timorense"´,
organizado pelo Instituto Superior de Filosofia e Teologia e em que fez um
discurso de "memória e reflexão" sobre o papel da Igreja na luta pela
libertação de Timor-Leste.
Perante
a hierarquia da igreja timorense, incluindo o bispo de Baucau e administrador
apostólico de Díli, Basílio do Nascimento, e o bispo de Maliana, Norberto
Amaral, o chefe de Governo recordou a morte do ex-bispo de Díli, Alberto
Ricardo da Silva, na passada quinta-feira.
"Um
rosto que marcou indubitavelmente a sua história e que tão bem representa o
papel que esta teve na luta pela Libertação Nacional. Numa vida dedicada a
Timor-Leste e ao seu povo, acolheu e protegeu os jovens timorenses na sua
paróquia em Motael aquando do Massacre de Santa Cruz, em novembro de 1991, e
sofreu com eles a violência da sua repressão", disse.
Recordando
a história da evangelização de Timor-Leste - que este ano comemora o seu 500.º
aniversário, o chefe do Governo relembrou nomes como os dos ex-bispos de Díli
Martinho da Costa Lopes e Ximenes Belo.
Nomes
de líderes da igreja que durante a ocupação indonésia sempre apoiaram
"Timor e as suas gentes".
"Mas
eu diria que o (...) contributo fundamental foi forjar a própria identidade
timorense que, ao longo dos séculos e no contacto com esta, se foi moldando na
diversidade dos nossos antepassados, das nossas culturas e tradições e que
depois, durante 24 anos de muita violência, se viu reforçada pela absoluta
convicção da justiça da causa da independência, da liberdade e da soberania do
nosso povo", afirmou.
Para
Rui Araújo, o que distingue Timor-Leste dos seus países vizinhos, dos seus
povos e culturas "é precisamente o resultado do contacto com a Igreja e os
seus missionários, portugueses, os quais contribuíram inquestionavelmente para
a emergência de uma identidade própria e diria mesmo única".
Um
processo que começou há 500 anos quando missionários portugueses desembarcaram
em Lifau, no enclave de Oe-cusse marcando "a chegada de uma nova religião,
abraçada e apropriada muito antes da própria colonização do território".
"O
cristianismo não entrou na nossa cultura e na nossa história pelas armas e pela
imposição, mas sim fruto de rotas comerciais estabelecidas que tinham no
sândalo um bem a explorar, e que permitiu que homens, imbuídos de verdadeiro
espírito de missão, chegassem e percorressem o interior do nosso território
para evangelizar em nome de Portugal", disse.
ASP
// VM
Sem comentários:
Enviar um comentário