Rilijanto Viana | Diligente
Cinquenta e um anos após a Revolução dos Cravos, a luta pela liberdade e pela democracia continua viva em Timor-Leste. À memória do 25 de Abril juntam-se hoje os desafios de construir uma sociedade mais justa, inclusiva e participativa, onde os ideais de autodeterminação, igualdade e solidariedade possam ser plenamente concretizados.
Hoje, 25 de Abril, assinala-se o 51.º aniversário da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura em Portugal e acendeu, em vários cantos do mundo, a esperança de que a liberdade era possível.
Com a revolução de 1974, o povo português saiu das sombras para a luz, unindo-se contra o regime de Salazar que, durante décadas, reprimiu liberdades, impôs um clima de medo e silenciou vozes críticas. Este momento histórico marcou o início de um novo ciclo de democracia, liberdade e igualdade em Portugal, mas os seus efeitos fizeram-se sentir também nas antigas colónias, ao abrir caminho para que as nações sob domínio colonial — entre elas Timor Português (atual Timor-Leste) — pudessem finalmente escolher o seu próprio rumo.
Para Timor-Leste, a Revolução dos Cravos representou mais do que uma mudança em Lisboa: foi o ponto de partida para o surgimento dos primeiros partidos políticos timorenses e para o despertar de uma consciência nacionalista. A ideia de autodeterminação deixou de ser apenas uma aspiração distante e ganhou espaço no debate político e social.
Hoje, mais de duas décadas depois da restauração da independência timorense, e 51 anos após o 25 de Abril português, impõe-se refletir sobre o presente: que liberdade se vive atualmente? Em que ponto está a democracia em Timor-Leste? E que desafios persistem para garantir uma sociedade mais justa, livre e inclusiva?
25 de Abril e o despertar da consciência nacionalista em Timor-Leste
Para Domingos Pinto Gabriel, conhecido como Berliku Lian Timur, a Revolução dos Cravos foi o “primeiro sopro de esperança para o povo timorense”. Hoje com 70 anos, lembra bem o impacto que teve, em Timor, a notícia da queda da ditadura em Portugal. “Foi nesse momento que se abriu o caminho para que Timor pudesse escolher o seu próprio destino e surgissem os primeiros partidos políticos.”
Na altura, a política ainda era um universo desconhecido para a maioria dos timorenses, mas o fim do regime salazarista trouxe consigo novas ideias. As pessoas começaram a sentir que era possível sair da escuridão para a luz. Com o anúncio de que Portugal reconhecia a liberdade das suas províncias ultramarinas, muitos timorenses passaram a defender a luta pela independência. “Começou-se a apoiar a FRETILIN, embora também houvesse quem quisesse manter a ligação com Portugal”, salientou.
A queda da ditadura foi acolhida com entusiasmo, mas, segundo Berliku, o espírito de resistência já existia antes da revolução. Já havia timorenses que atuavam na clandestinidade, com propaganda anticolonialista. “Fazíamos tudo com muito cuidado, porque os agentes da inteligência portuguesa observavam-nos constantemente. Não havia liberdade de expressão.”
Recorda, por exemplo, as celebrações do 10 de Junho, no tempo da administração portuguesa, que decorriam no local onde hoje se ergue o Parlamento Nacional. “Nesses dias, timorenses como o saudoso Francisco Xavier faziam discursos em tétum, desafiando a vigilância colonial e tentando despertar a curiosidade política da população.”
O despertar coletivo intensificou-se com o regresso de estudantes timorenses que tinham estudado em Portugal e que começaram a partilhar ideias sobre liberdade e democracia. “Vieram abrir-nos os olhos. Mostraram que o povo estava a ser explorado e oprimido. Quer quiséssemos quer não, era preciso encontrar uma forma de sair desse sistema. Foi aí que muitos começaram a compor músicas e poesia revolucionária.”