Sydney,
Austrália, 10 abr (Lusa) -- Cerca de 1.500 quilómetros da Grande Barreira de
Coral australiana, ou dois terços desta, ficaram danificados após dois anos
consecutivos de branqueamento de corais, informaram hoje fontes científicas.
"O
impacto combinado deste branqueamento consecutivo estende-se ao longo de 1.500
quilómetros, deixando um terço situado a sul ileso", disse o diretor do
Centro de Excelência de Estudos de Coral da Universidade James Cook, Terry
Hugues, num comunicado daquela instituição de ensino superior.
Em
2016, o branqueamento causado por um aumento das temperaturas das águas acima
da média, combinado com os efeitos do fenómeno do 'El Niño', afetou sobretudo a
parte norte da Grande Barreira, situada frente às costas da Austrália.
"Este
ano, em 2017, estamos a viver um branqueamento maciço, inclusivamente sem a
implicação das condições de um fenómeno do 'El Niño'", disse Hughes, ao
referir-se aos resultados deste estudo, semelhante ao trabalho realizado em
2016 na Grande Barreira, que viveu fenómenos similares em 1998 e 2002.
"Os
corais descolorados não são necessariamente corais mortos, mas na região
central afetada severamente, antecipamos que se registaram altos níveis de
perda de corais", disse James Kerry, que também participou nas investigações.
Kerry,
do centro de estudos de coral, também explicou que os corais demoram cerca de
uma década para recuperarem completamente, tendo sublinhado que "um
branqueamento maciço que ocorre com 12 meses de intervalo oferece zero
possibilidades de recuperação para aqueles corais danificados em 2016".
Para
agravar a situação, estima-se que a passagem do ciclone tropical Debbie, que
atingiu o nordeste australiano no final de março, danificou o corredor de 100
quilómetros de largura por onde passou.
"Provavelmente,
qualquer efeito de arrefecimento relacionado com o ciclone será insignificante
em relação ao dano que este causou, já que infelizmente atingiu uma parte do
recife que tinha escapado à pior parte do branqueamento", disse Kerry, no
mesmo comunicado.
Os
cientistas lamentaram que a Grande Barreia de Coral esteja a enfrentar diversas
situações com um impacto negativo na sua saúde, especialmente os danos causados
pelas alterações climáticas, pelo que instaram os governos a reduzir as
emissões poluentes.
A
Grande Barreira de Coral começou a deteriorar-se na década de 1990 pelo duplo
impacto do aquecimento da água do mar e do aumento da respetiva acidez pela
maior presença de dióxido de carbono na atmosfera.
Declarada
Património da Humanidade pela UNESCO [Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura], a Grande Barreira de Coral contém cerca de 400
tipos de coral, 1.500 espécies de peixes e quatro mil variedades de moluscos, e
já chamou a atenção de líderes mundiais como o ex-Presidente dos Estados Unidos
Barack Obama, que pediu a proteção da mesma com medidas contra as alterações
climáticas.
FV
// EJ
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