sexta-feira, 12 de maio de 2017

Pena de prisão para governador cristão de Jacarta divide a Indonésia

A condenação na terça-feira a dois anos de prisão do governador cessante de Jacarta, Basuki "Ahok" Tjahaja Purnama, membro da minoria cristã e acusado de blasfémia do Alcorão, provocou confrontos verbais entre simpatizantes e detratores na terça-feira.

Centenas de supostos apoiantes de Purnama concentraram-se no exterior da prisão de alta segurança onde está detido, com diversos manifestantes a tentarem derrubar um dos gradeamentos do estabelecimento prisional.

Munido com megafone, um homem dirigia-se aos presentes de forma virulenta: “Irmãos e irmãs, a justiça morreu neste país”.

O júri, presidido pelo magistrado Dwiarso Budi Santiarto, acusou Purnama de atentar contra a unidade da Indonésia e reiterou os seus “direitos políticos”, após a sua transferência para a prisão de Cipinang, leste da capital.

A sentença, que vai ser contestada pela defesa, constitui um desafio ao pluralismo religioso no país com a maior população muçulmana do planeta.

Milhares de partidários do governador de etnia chinesa, popularmente conhecido por Ahok, lamentaram a decisão dos membros do júri e promoveram uma concentração no exterior do Ministério da Justiça, onde decorreu o julgamento.

“É uma questão política, os outros não querem que Ahok se apresente às eleições presidenciais de 2019, é um julgamento político”, considerou em declaração à agência noticiosa Efe uma jovem cristã de 23 anos, após ser anunciada a sentença.

Alguns grupos islamitas, que se manifestaram durante meses a favor de uma condenação rigorosa contra Ahok, também se concentraram nos arredores do ministério e celebraram a decisão do Tribunal, envolvendo-se em confrontos não violentos com os apoiantes do governador.

Ahok, que em abril foi derrotado nas eleições locais em Jacarta face a outro candidato muçulmano, foi apontado em novembro por comentários nos quais rejeitou críticas de adversários baseadas no versículo 51 do Alcorão, que o político cristão assegura terem sido manipulados.

A condenação imposta é mais dura que a proposta pela procuradora, apesar de inferior à máxima estipulada na legislação local, que estabelece até cinco anos de prisão pelo delito de blasfémia.

Os representantes legais de Ahok precisaram que apelaram da decisão junto de instâncias superiores, enquanto o ministério do Interior indicou em comunicado que vai seguir os trâmites legais para substituir o governador pelo seu adjunto, Sjarot Syaiful Hidayat.

Cerca de 13.000 polícias foram mobilizados na capital indonésia para prevenir possíveis distúrbios entre apoiantes e opositores de Ahok, que em 19 de abril foi derrotado na reeleição para o cargo de governador.

O confronto entre Ahok, que até ao momento contou com o apoio do Presidente Joko Widodo, e o islamismo político iniciou-se quando o primeiro assumiu o cargo em 2014, e intensificou-se com as acusações de blasfémia, acalentadas pela oposição.

As eleições para governador de Jacarta estiveram condicionadas por este confronto e foram decididas na segunda volta com a derrota de Ahok por mais de 15 pontos face ao ex-ministro da Educação, Anies Baswedan, um muçulmano.

A Indonésia é o país do mundo com maior número de população muçulmana, com 88% dos seus 250 milhões de habitantes a professarem esta religião, a grande maioria de forma moderada.

SAPO TL com Lusa | Foto@ Tatan Syuflana /EPA

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