Díli,
03 dez (Lusa) - Vários líderes históricos timorenses consideram que o português
é essencial para o presente e futuro do país e que o seu uso está a aumenta,
mesmo em comparação com o período colonial.
"Vai
levar tempo, naturalmente. Mas não é difícil. Difícil foi a independência.
Mesmo assim conseguimos. Porque não o português?" -- questionou, em
declarações à Lusa, o Presidente da República, Taur Matan Ruak.
Para
muitos dos líderes políticos do país, num momento em que Timor-Leste comemora
40 anos da proclamação da independência e os 500 anos da chegada de portugueses
à ilha, o ensino da língua está em curso mas será necessária ainda uma geração
para consolidar a aprendizagem.
Reconhecendo
que há pessoas contra essa opção, Taur Matan Ruak defende que "politicamente
foi a escolha certa", porque a língua portuguesa é "um dos fatores da
identidade" timorense.
"A
melhor coisa que fizemos foi escolher. Explicando que a escolha é uma questão
identitária, não apenas política. É identitária. A língua e a religião: dois
fatores que sustentam toda a nossa estrutura identitária. É para permanecer.
Retirar isso é deixarmos de ser diferentes na região", afirmou o chefe de
Estado, reconhecendo as dificuldades do processo.
"Quando
é que todo o timorense vai falar português? Vai levar anos. Especialmente
quando há outras áreas prioritárias com as infraestruturas do país. Na medida
em que reduzimos isso, os recursos podem ir para outras áreas. Uma delas é a
língua", explicou.
Para
Taur Matan Ruak, o facto de os jovens, que estudaram indonésio ou inglês,
estarem agora "a aceitar o sacrifício" da reintrodução da língua
portuguesa mostra que são uma geração "generosa".
José
Ramos-Horta, Prémio Nobel e ex-chefe de Estado, também considera que a língua
portuguesa não vai desaparecer - "antes pelo contrário" - e que em
apenas 13 anos já aumentou muito o número de falantes no país.
"O
português veio para ficar e vejo muitos políticos que na altura não falavam e
hoje falam", disse.
Para
Ramos-Horta, o país deverá consolidar-se como um espaço de quatro línguas, com
"um tétum forte e mais modernizado e com bastante mais português pelo
meio", o português, o indonésio e o inglês, cujo número de falantes também
cresceu.
Francisco
Guterres 'Lu-olo', ex-presidente do Parlamento Nacional e presidente da
Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) atribui a um
"sentimento de saudosismo" a opinião dos que pensam que o português
não deve ser a língua para Timor-Leste.
O
seu partido, assegura, continua a defender o português como língua oficial, a
par do tétum, já que esta é "uma particularidade fundamental relativamente
a outros países da região".
"Existem
realmente pessoas que têm alguma dificuldade em falar português - eu também tenho
- mas eu entendo porque é que devemos falar a língua portuguesa. No tempo da
Indonésia, a escola Externato S. José foi alvo de perseguição das tropas
indonésias precisamente por estarem a lecionar a língua portuguesa",
disse.
"O
que eles queriam era acabar com a língua portuguesa e com todos os sinais que
os portugueses deixaram. Queriam combater isso tudo. Para quê? Para matar a
alma deste povo. Eu devo dizer que era para matar a alma desse povo",
insistiu Lu-Olo.
O
responsável da Fretilin defende mais esforços do Governo nesta matéria,
especialmente através das escolas de referência, e considera que quem não
"mudar de mentalidade, vai ficar ultrapassado".
Também
Mário Carrascalão, ex-vice-primeiro-ministro timorense, insiste que o português
é essencial para o presente e futuro de Timor-Leste, especialmente numa região
com vizinhos tão fortes como a Indonésia e a Austrália.
"Quem
quiser pensar não só com o coração mas com a cabeça tem que pensar que o
português é imprescindível para a sobrevivência de Timor como pais
independente", afirmou.
"O
único país nesta área que tem como língua oficial o português é Timor. É isso
que marca a independência. É preciso que os governantes não tenham vergonha de
dizer que se não fossem os portugueses a ocuparem essa parte, esta parte nunca
seria independente sozinha", afirmou.
Recordando
que as próprias resoluções da ONU sobre a descolonização de Timor-Leste se
fizeram com base nas fronteiras coloniais, Carrascalão recorda a influência e o
poder que a Indonésia continua a exercer e pode exercer sobre a identidade
timorense.
"Etnicamente
não somos diferentes, o povo timorense aprendeu rapidamente o indonésio, em
Timor existem católicos em Atambua também", disse.
"Estamos
economicamente altamente dependentes da Indonésia. Todo o nosso combustível vem
da Indonésia, os bens de consumo quase todos são da Indonésia", afirmou.
ASP
// PJA
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