Díli,
17 dez (Lusa) - O debate político deverá dominar a agenda em Timor-Leste em
2017 com eleições presidenciais e legislativas, previsivelmente em março e
julho, num cenário de possíveis grandes embates nas urnas entre três grandes
nomes históricos timorenses.
Um
cenário político onde poderá estar em confronto a aliança política e
estratégica - ainda que sem coligações pré-eleitorais - entre Xanana Gusmão
(líder do CNRT) e Mari Alkatiri (Fretilin), de um lado e, possivelmente, do
outro, Taur Matan Ruak, atual chefe de Estado, que poderá ser o candidato a
chefe de Governo do recém-criado Partido de Libertação do Povo (PLP).
Formalmente
ainda não se sabe se Taur Matan Ruak assumirá ou não essa aposta política tendo
o atual Presidente garantido apenas que não se recandidatará no cargo.
Os
atos eleitorais de 2017 serão os primeiros com votação de timorenses na
diáspora, nomeadamente em Portugal e na Austrália, e ocorrem depois das
eleições locais realizadas em outubro e novembro.
Ainda
que não tenham tido um cariz partidário - as candidaturas eram individuais e
sem simbologias de partidos - os maiores partidos timorenses, Fretilin e CNRT
admitem ter tido bastante êxito com a eleição de vários quadros e militantes
para chefiar sucos e aldeias.
Cruciais
para a administração local, estes votos, e dada a influência da palavra do
chefe de suco na vida das populações mais isoladas do país, podem acabar por
ter algo impacto político nos votos de 2017.
A
palavra de um chefe de suco a favor de um ou outro partido pode, em alguns
casos, ser determinante para a tendência de voto de uma pequena localidade o
que acaba, por se repetir a nível nacional, por ter impacto nas votações.
O
calendário eleitoral arranca em março com as presidenciais onde o favorito é,
para já, o atual presidente da Fretilin, Francisco Guterres (Lu-Olo) - será a
sua terceira candidatura ao cargo.
Igualmente
na terceira candidatura poderá estar José Ramos-Horta, que foi chefe de Estado
entre 2007 e 2012 (estava no cargo quando foi baleado a tiro num atentado que
quase lhe tirou a vida) e que até ao momento não confirmou se aceita ou não o
que diz serem os apelos de vários setores da sociedade timorense.
Já
confirmadas estão também as candidaturas de António Maher Lopes (Fatuk Mutin),
apoiado pelo Partido Socialista de Timor (PST), e José Neves,
ex-vice-comissário da Comissão Anticorrupção (CAC), que se apresenta como
independente.
Em
julho serão as legislativas, que ocorrem num cenário bastante diferente das de
2012, marcadas por acusações de fraude por parte da Fretilin e por grande
tensão entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri - em 2006 entraram em choque frontal
mas 10 anos depois estão mais próximos do que nunca.
Xanana
Gusmão cedeu mesmo o cargo de primeiro-ministro, em janeiro de 2015, a Rui
Maria de Araújo, da Fretilin e este partido e o CNRT têm sido quase aliados
parlamentares, com votações praticamente em total sintonia na quase totalidade
dos diplomas.
A
proximidade entre ambos consolidou-se porque têm hoje como rival comum a Taur
Matan Ruak que no final de 2015 e inicio de 2016 entrou em choque frontal quer
com Xanana Gusmão quer com Mari Alkatiri, tecendo duras criticas a ambos num
polémico discurso que proferiu no Parlamento Nacional.
Outro
aspeto a considerar nas eleições é o demográfico já que 30% dos eleitores - em
Timor-Leste vota-se com mais de 16 anos - votam pela primeira vez sendo os
primeiros votantes que nasceram já depois da ocupação indonésia.
Para
estes jovens o peso dos 'veteranos' da resistência é bastante menor que para as
gerações anteriores, sendo prementes preocupações como educação e emprego.
Além
disso num país onde as redes sociais, especialmente o Facebook, se tornaram o
principal canal de debate político e de informação - a internet chega a locais
onde não há jornais nem televisão com qualidade - a voz dos jovens assume maior
impacto político.
O
PLP nasce pretendendo, em parte, capitalizar nesta nova geração aspirando a
conseguir suficientes votos para ser, pelo menos, uma oposição ativa no
Parlamento Nacional onde contestam a quase total unanimidade parlamentar dos
últimos anos.
Não
é a primeira vez que alternativas aos históricos surgem em Timor-Leste e uma
das mais credíveis, o Partido Democrático (PD), poderá ser um dos sacrificados
em 2017, 'cedendo' algum poder parlamentar ao PLP, situado mais ou menos no
mesmo espaço político.
Há
ainda alguns pequenos partidos que podem conseguir um ou dois lugares num
Parlamento Nacional onde, tudo indica, não se antecipa qualquer maioria
absoluta exigindo, necessariamente, acordos de governação.
ASP
// PJA
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