domingo, 18 de dezembro de 2016

Ano decisivo em Timor-Leste com eleições presidenciais e legislativas

Díli, 17 dez (Lusa) - O debate político deverá dominar a agenda em Timor-Leste em 2017 com eleições presidenciais e legislativas, previsivelmente em março e julho, num cenário de possíveis grandes embates nas urnas entre três grandes nomes históricos timorenses.

Um cenário político onde poderá estar em confronto a aliança política e estratégica - ainda que sem coligações pré-eleitorais - entre Xanana Gusmão (líder do CNRT) e Mari Alkatiri (Fretilin), de um lado e, possivelmente, do outro, Taur Matan Ruak, atual chefe de Estado, que poderá ser o candidato a chefe de Governo do recém-criado Partido de Libertação do Povo (PLP).

Formalmente ainda não se sabe se Taur Matan Ruak assumirá ou não essa aposta política tendo o atual Presidente garantido apenas que não se recandidatará no cargo.

Os atos eleitorais de 2017 serão os primeiros com votação de timorenses na diáspora, nomeadamente em Portugal e na Austrália, e ocorrem depois das eleições locais realizadas em outubro e novembro.

Ainda que não tenham tido um cariz partidário - as candidaturas eram individuais e sem simbologias de partidos - os maiores partidos timorenses, Fretilin e CNRT admitem ter tido bastante êxito com a eleição de vários quadros e militantes para chefiar sucos e aldeias.

Cruciais para a administração local, estes votos, e dada a influência da palavra do chefe de suco na vida das populações mais isoladas do país, podem acabar por ter algo impacto político nos votos de 2017.

A palavra de um chefe de suco a favor de um ou outro partido pode, em alguns casos, ser determinante para a tendência de voto de uma pequena localidade o que acaba, por se repetir a nível nacional, por ter impacto nas votações.

O calendário eleitoral arranca em março com as presidenciais onde o favorito é, para já, o atual presidente da Fretilin, Francisco Guterres (Lu-Olo) - será a sua terceira candidatura ao cargo.

Igualmente na terceira candidatura poderá estar José Ramos-Horta, que foi chefe de Estado entre 2007 e 2012 (estava no cargo quando foi baleado a tiro num atentado que quase lhe tirou a vida) e que até ao momento não confirmou se aceita ou não o que diz serem os apelos de vários setores da sociedade timorense.

Já confirmadas estão também as candidaturas de António Maher Lopes (Fatuk Mutin), apoiado pelo Partido Socialista de Timor (PST), e José Neves, ex-vice-comissário da Comissão Anticorrupção (CAC), que se apresenta como independente.

Em julho serão as legislativas, que ocorrem num cenário bastante diferente das de 2012, marcadas por acusações de fraude por parte da Fretilin e por grande tensão entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri - em 2006 entraram em choque frontal mas 10 anos depois estão mais próximos do que nunca.

Xanana Gusmão cedeu mesmo o cargo de primeiro-ministro, em janeiro de 2015, a Rui Maria de Araújo, da Fretilin e este partido e o CNRT têm sido quase aliados parlamentares, com votações praticamente em total sintonia na quase totalidade dos diplomas.

A proximidade entre ambos consolidou-se porque têm hoje como rival comum a Taur Matan Ruak que no final de 2015 e inicio de 2016 entrou em choque frontal quer com Xanana Gusmão quer com Mari Alkatiri, tecendo duras criticas a ambos num polémico discurso que proferiu no Parlamento Nacional.

Outro aspeto a considerar nas eleições é o demográfico já que 30% dos eleitores - em Timor-Leste vota-se com mais de 16 anos - votam pela primeira vez sendo os primeiros votantes que nasceram já depois da ocupação indonésia.

Para estes jovens o peso dos 'veteranos' da resistência é bastante menor que para as gerações anteriores, sendo prementes preocupações como educação e emprego.

Além disso num país onde as redes sociais, especialmente o Facebook, se tornaram o principal canal de debate político e de informação - a internet chega a locais onde não há jornais nem televisão com qualidade - a voz dos jovens assume maior impacto político.

O PLP nasce pretendendo, em parte, capitalizar nesta nova geração aspirando a conseguir suficientes votos para ser, pelo menos, uma oposição ativa no Parlamento Nacional onde contestam a quase total unanimidade parlamentar dos últimos anos.

Não é a primeira vez que alternativas aos históricos surgem em Timor-Leste e uma das mais credíveis, o Partido Democrático (PD), poderá ser um dos sacrificados em 2017, 'cedendo' algum poder parlamentar ao PLP, situado mais ou menos no mesmo espaço político.

Há ainda alguns pequenos partidos que podem conseguir um ou dois lugares num Parlamento Nacional onde, tudo indica, não se antecipa qualquer maioria absoluta exigindo, necessariamente, acordos de governação.

ASP // PJA

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