Macau,
China, 17 dez (Lusa) -- A estratégia do "fragmentado" campo democrata
de Macau será o elemento "mais interessante" das legislativas de
2017, defendem académicos, que acreditam que o grupo pode aumentar o número de
assentos no hemiciclo local se os jovens forem às urnas.
"Não
vejo que vá haver grande mudança, mas acho que o mais interessante vão ser os
democratas e como coordenam as eleições", disse à Lusa o politólogo e
investigador da Universidade de Macau Eilo Yu, que acredita que a agitação
política em Hong Kong "pode gerar em Macau um sentimento de simpatia para
com os democratas".
Leung
Ka Yin, do Instituto Politécnico de Macau, também não prevê "grandes
mudanças" porque "Macau é muito estável", mas acredita que se a
"motivação" dos jovens eleitores for elevada "os democratas vão
ganhar mais um ou dois assentos".
"O
campo pró-democrata vai conseguir três a quatro assentos. Podem conseguir um
resultado melhor graças às novas gerações, mas no geral não vai mudar nada
porque Macau é muito conservadora", defendeu, por seu turno, o académico
de Hong Kong Sonny Lo, autor do livro "Political Change in Macao".
A
Assembleia Legislativa de Macau tem 33 deputados, 14 dos quais eleitos
diretamente pela população. Doze são eleitos pela "via indireta",
através de associações, e sete são nomeados pelo chefe do Governo. Macau não
tem partidos, com as forças políticas organizarem-se em associações.
Entre
os deputados eleitos por sufrágio universal, há atualmente dois apelidados de
pró-democratas, apoiados pela Associação Novo Macau (ANM), e cujo principal
'cavalo de batalha' é a implementação de um sistema 'um homem, um voto' para a
escolha do Governo. Há, no entanto, outros deputados que apoiam a democracia,
como José Pereira Coutinho e o colega Leong Veng Chai.
Os
pró-democratas são representados por Ng Kuok Cheong e Au Kam San, ambos com 59
anos, que nas legislativas de 2013 perderam o terceiro deputado, Paul Chan Wai
Chi. Nesse ano, o presidente da ANM, Jason Chao, concorreu numa lista em
separado mas perdeu.
A
estratégia falhada de divisão das listas foi o primeiro grande sinal de uma
cisão dentro da associação: os mais jovens, responsáveis pela direção,
mostraram-se, desde então, cada vez mais adeptos de confrontação, com muitas
ações de rua, e dedicaram-se a novas causas, como os direitos dos homossexuais.
Em
fevereiro desde ano, Au Kam San deixou a ANM e juntou-se à Iniciativa para o
Desenvolvimento da Comunidade de Macau, onde também está Ng Kuok Cheong, que se
mantém, no entanto, nas duas associações.
"Se
Au Kam San vencer nas próximas eleições estou bastante certo que não estará a
representar a ANM. Depois há Ng Kuok Cheong, que está numa situação embaraçosa,
está a tentar coordenar a ANM e a Iniciativa para o Desenvolvimento da
Comunidade. Vai representar a nova associação ou a antiga? E os jovens
democratas? Vão ter dois candidatos ou só um? A cooperação dentro do campo
democrático será um tema muito importante nas próximas eleições", afirmou
Eilo Yu.
O
novo presidente da ANM, Scott Chiang, não quis ainda dizer qual será a estratégia
eleitoral para 2017, garantido apenas que a associação vai avançar com alguém.
Já Ng Kuok Cheong, deputado desde 1992, assegurou à Lusa que se vai
recandidatar, mas não revelou com que associação.
"Sim,
vou candidatar-me. A minha saúde está boa, de acordo com o meu médico",
disse. E o colega Au Kam San? "Claro! Ainda é mais forte do que eu",
gracejou.
Quanto
às associações, o veterano disse apenas que "tudo está em aberto".
"O
mundo está a mudar e tenho de me adaptar. Vou tentar representar os cidadãos e
não estar isolado por uma associação", respondeu.
Entre
os jovens da ANM, Sulu Sou, que liderou em 2014 uma manifestação contra uma
proposta de lei que previa regalias para titulares dos principais cargos da
região, que reuniu 15 mil pessoas, é dado como o mais promissor.
"Acho
que Sulu tem mais probabilidade de liderar a lista. Tem uma imagem muito
atrativa para os jovens, organizou várias campanhas contra a 'lei das regalias'
em 2014 e agora está a fazer campanha sobre o exame unificado de acesso à universidade",
explicou Eilo Yu.
Opinião
semelhante tem Leung Ka Yin: "Sulu Sou é a nova estrela da ANM, mas vai
enfrentar dificuldades. Se não houver mudanças, idosos e pessoas de meia-idade
serão os principais a votar. Se os jovens votarem, os jovens democratas terão
mais probabilidades".
Além
da relação com os democratas "mais tradicionais", Sonny Lo salienta a
possibilidade de os jovens apresentarem duas listas lideradas, por exemplo, por
Sulu Sou e Jason Chao. "A fragmentação no campo democrático será testada",
alerta.
ISG
// PJA
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