Díli,
10 ago (Lusa) - Um economista birmânes defendeu hoje que Timor-Leste pode
beneficiar significativamente de parcerias no sub-triângulo regional, com o
Norte da Austrália e a Indonésia Oriental, mas é necessário empenho do setor
público e criatividade.
Myo
Thant, economista birmanês considerado o 'pai' do conceito dos triângulos
sub-regionais de crescimento, insistiu que este é um modelo que se pode aplicar
nesta zona e que exige empenho público e criatividade.
"Fomos
ensinados a competir para avançar. E em algumas áreas compete-se. Mas há varias
áreas, talvez até mais, em que se pode cooperar e onde as coisas podem avançar
com benefício mútuo", disse à Lusa, em Díli, o especialista birmanês.
"Turismo,
proteção de recursos naturais marítimos, mais cooperação em saúde, áreas em que
os países podem trabalhar e cooperar", sublinhou o antigo economista-chefe
no Banco Asiático de Desenvolvimento, tido como o 'pai' do conceito dos
triângulos sub-regionais de crescimento e que trabalhou vários anos na sub-região
do Grande Mekong.
Myo
Thant falava à margem de um debate sobre o desenvolvimento económico
sub-regional no triângulo Timor-Leste, Indonésia Oriental e Norte da Austrália,
organizado pela equipa que tem promovido este espaço de cooperação em Díli.
O
economista admitiu que é um processo "difícil e complicado", que
"demora tempo e esforço" e que tem, necessariamente, que começar por
empenho do setor público, criando condições que permitam, depois, que o
investimento privado.
"O
setor público tem que ter o papel de liderança no início, porque exige
políticas, de mobilidade, por exemplo. Há também um grau de risco que o setor
privado, por agora não assume e demoras que este tipo de processos exige",
sublinhou Thant.
"Mas
depois o setor privado tem dinheiro e capacidade de gestão para avançar",
disse.
Basta
um ou dois casos de sucesso, porque o processo é "construído peça a
peça" tentando sempre encontrar "benefícios para todos", disse.
"Sejam
realistas. Pensem fora da caixa. Não copiem o livro dos outros triângulos.
Procurem vantagens comparativas. Seja o que elas forem. Foquem-se nelas",
insistiu.
Em
termos práticos, o especialista defendeu que as entidades responsáveis pelo
desenvolvimento do triângulo devem fazer mais publicidade nos respetivos países
sobre o que têm feito, definindo claramente metas entre reuniões a três e
atualizações sobre o que vai sendo conseguido.
"Tudo
demora tempo e exige capacidade, mas pode ser feito e há boas práticas de
outros triângulos sobre o que se pode fazer, que podem ser copiadas. Não têm
que reinventar a roda", disse.
Isso
não significa copiar modelos já que, relembrou. Cada região tem as suas
especificidades e há que reconhecer "os produtos de nicho", ou as
mais valias de cada triângulo, como o mármore ou o café que há em Timor-Leste,
destacou.
"O
conhecimento local e regional é muito importante e ajuda muito. Pode facilitar
formas de colaboração", disse.
João
Gonçalves, responsável timorense no triângulo sub-regional, reconheceu os
desafios que o processo representa, mas apontou alguns progressos, como o
programa de trabalhadores timorenses na Austrália ou a mobilidade de timorenses
na Indonésia.
"São
processos complexos, demorados, mas já conseguimos fazer avançar algumas coisas
em termos de mobilidade, retirando obstáculos, ou ajudando a criar o
enquadramento legal que facilite o negócio na região", afirmou.
"Temos
trabalhadores timorenses sazonais a trabalhar na Austrália, que retirou as
restrições iniciais, e a Indonésia retirou a necessidade de vistos para
timorenses e está a ser negociado um memorando alargado sobre transporte
terrestre", disse.
ASP
// EJ
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