Hong Kong, China, 12 ago 2020
(Lusa) - O magnata dos 'media' de Hong Kong Jimmy Lai, proprietário do jornal
Apple Daily, alvo de buscas na segunda-feira, instou hoje os jornalistas a
continuarem a lutar, um dia depois de ser libertado sob caução.
Lai, que tinha sido detido na
segunda-feira por suspeita de conluio com forças estrangeiras, ao abrigo da lei
de segurança nacional, foi recebido com aplausos e ovações na redação do
jornal, após 40 horas sob custódia policial.
"Continuemos a lutar!",
disse Lai aos jornalistas. "Temos o apoio dos habitantes de Hong Kong, não
podemos abandoná-los", instou Jimmy Lai, numa curta declaração transmitida
em direto pelo jornal através das redes sociais.
Alvo de buscas por 200 agentes da
polícia, na segunda-feira, o Apple Daily recebeu um forte apoio da população de
Hong Kong, com filas a formarem-se de madrugada para comprar a publicação.
Jimmy Lai percorreu a redação do
Apple Daily, debaixo dos aplausos dos funcionários.
No vídeo, transmitido em direto,
o magnata, muito crítico de Pequim, pediu aos jornalistas que mantenham o tom
que despertou a ira da China, mas reconheceu que está a tornar-se "cada
vez mais difícil" gerir um grupo de imprensa em Hong Kong.
"Mas temos de continuar o
nosso trabalho", acrescentou. "Felizmente, não fui enviado para o
continente [China continental]", brincou, fazendo rir os jornalistas.
Jimmy Lai, de 72 anos, é o
proprietário de duas publicações pró-democracia frequentemente críticas de
Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine.
Visto por numerosos habitantes de
Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, Jimmy
Lai é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como "um
traidor", que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na
região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar
com nações estrangeiras para prejudicar a China.
As detenções e as buscas foram
condenadas pela comunidade internacional, que receia o fim da liberdade de
imprensa em Hong Kong ,
uma cidade que tem sido sede regional de órgãos de comunicação internacionais
há décadas.
Lai foi uma das dez pessoas
detidas pela polícia na segunda-feira, numa grande ação de repressão contra o
movimento pró-democracia, a maioria ligadas ao grupo mediático.
No mesmo dia foi também detida a
militante pró-democracia Agnes Chow, de 23 anos, que ajudou a fundar o partido
Demosisto, ao lado de Joshua Wong, Nathan Law e de outros jovens ativistas.
A jovem é uma das primeiras
ativistas do partido, entretanto extinto, a ser alvo da nova lei de segurança
nacional.
Chow foi libertada sob caução
esta madrugada, tendo ficado com o passaporte apreendido.
Ao sair da esquadra de polícia de
Tai Po, Chow disse que a detenção faz parte de uma campanha de perseguição
política.
"É muito claro que o governo
está a utilizar a nova lei de segurança para reprimir os dissidentes políticos.
Ainda não compreendo porque é que fui presa", disse Chow, citada pelo site
de notícias local Hong Kong Free Press.
A lei de segurança nacional
criminaliza atos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio
com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.
O documento entrou em vigor em 30
de junho, após repetidas advertências do Governo de Pequim contra a dissidência
em Hong Kong ,
abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas
democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram
à detenção de mais de nove mil pessoas.
Hong Kong regressou à soberania
da China em 1997, com um acordo que garante ao território 50 anos de autonomia
a nível executivo, legislativo e judicial, bem como liberdades desconhecidas no
resto do país, ao abrigo do princípio "um país, dois sistemas",
também aplicado em Macau, sob administração chinesa desde 1999.
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