sábado, 2 de janeiro de 2016

Correspondente francesa expulsa da China deixou país, apesar dos esforços diplomáticos


Pequim, 31 dez (Lusa) -- A correspondente na China do semanário francês L'Obs, expulsa pelo Governo de Pequim, deixou hoje a capital chinesa, apesar de o Governo gaulês ter feito tudo para demover a China dessa decisão, afirmou o ministro francês dos Negócios Estrangeiros.

Ursula Gauthier anunciou ter sido informada no dia de Natal, pelas autoridades chinesas, de que seria expulsa do país a 31 de dezembro de 2015, sendo o primeiro jornalista estrangeiro a ser expulso da China desde 2012.

Colocada na capital chinesa há seis anos, Gauthier foi alvo, durante um mês, de violentos ataques por parte dos órgãos de comunicação social estatais chineses e de funcionários, depois de ter publicado no 'site' do L'Obs um artigo sobre a política repressiva aplicada em Xinjiang, uma vasta região da China ocidental de maioria muçulmana.

Antes de partir para o aeroporto, onde apanhou o voo da Air France que a levará de volta a Paris, Ursula Gauthier disse à AFP que temia "dias negros para os jornalistas e os media" na China.

"O que aconteceu com este pequeno artigo sobre Xinjiang pode acontecer com qualquer outra coisa", disse a jornalista, acrescentando que "isto pode ser realmente perigoso no futuro".

Para Gauthier, a França e toda a Europa devem estar "preocupadas com o que se passa, não por se tratar de uma jornalista, não apenas por causa da liberdade de imprensa, mas pela China e pelo que o país está a fazer às suas minorias, e até à sua maioria".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) francês, acusado de não ter tido qualquer ação relativamente a este dossier, declarou que "multiplicou os esforços" para tentar convencer a China a reconsiderar a expulsão da correspondente do semanário L'Obs.

"Desde que foi conhecida a situação da senhora Gauthier que a França, assim como os seus parceiros da União Europeia, multiplicaram os esforços, em Paris como em Pequim", escreveu o MNE francês num comunicado enviado à AFP.

Segundo o documento, tiveram lugar "duas ações sucessivas" do embaixador francês em Pequim, "três ações junto do embaixador da China em Paris, uma declaração da União Europeia em Pequim", por iniciativa da França.

Os responsáveis de vários órgãos franceses de comunicação social publicaram, na quarta-feira, editoriais a denunciar a expulsão da jornalista e a fraca reação francesa em relação a essa decisão.

Publicamente, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros limitou-se simplesmente a lamentar a decisão de Pequim. Já hoje, depois de reiterar o seu lamento, apelou às autoridades chinesas para que revissem a situação de Ursula Gauthier para que ela pudesse "continuar a exercer a sua missão na China".

"A França recorda o seu compromisso com o livre exercício do jornalismo em todo o mundo", lê-se no comunicado hoje divulgado pelo MNE.

Depois de seis anos em serviço na China, Ursula Gauthier deverá aterrar em Paris na madrugada de sexta-feira.

Gauthier é a primeira correspondente estrangeira a ser expulsa da China, desde 2012, quando o mesmo aconteceu a Melissa Chan, que trabalhava para a cadeia de televisão Al Jazeera.

IMA (JS) // MAG

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