segunda-feira, 4 de julho de 2016

ONG alerta para elevado risco de sustentabilidade das contas públicas de Timor-Leste


Díli, 04 jul (Lusa) - A organização não-governamental La'o Hamutuk alertou hoje o Governo timorense e os parceiros internacionais para o elevado risco de sustentabilidade das contas públicas de Timor-Leste, antecipando que, sem mudanças, o Fundo Petrolífero acabará em 2021.

"Se as políticas não mudarem drasticamente, o Governo terá então de cortar o Orçamento do Estado em cerca de 90%. Com gastos anuais de menos de 300 milhões de dólares como é possível fornecer serviços essenciais a 1,4 milhões de pessoas", questiona a ONG timorense.

O alerta é feito num texto que a La'o Hamutuk distribuiu aos parceiros internacionais que estão reunidos em Díli para analisar o futuro da cooperação com Timor-Leste, encontro que decorre enquanto no Parlamento Nacional se debate um orçamento retificativo para este ano.

A edição de 2016 do encontro de parceiros de desenvolvimento conta com representantes de vários países, agências e organização internacionais, deputados, membros da sociedade civil e de organização não-governamentais.

A La'o Hamutuk recorda que o contributo de doadores internacionais para as contas públicas tem vindo a cair na última década, representando este ano menos de 10% do Orçamento do Estado.

A ONG recorda que 82% de todo o orçamento de Estado provém do Fundo Petrolífero (FP).
Com orçamento retificativo, o executivo retirará ao FP este ano cerca de 1,28 mil milhões de dólares, muito acima do valor sustentável de 545 milhões.

"Os dados mostram que a economia de Timor-Leste está num caminho não sustentável. E infelizmente a maior fatia do orçamento de 2016 vai ser gasto em projetos de infraestruturas com retorno duvidoso, beneficiando principalmente empresas estrangeiras em vez do povo timorense", refere a ONG.

"Timor-Leste não conseguirá alcançar desenvolvimento sustentável se as nossas políticas fiscais não estiverem num caminho sustentável", sublinha.

A organização apela aos parceiros de desenvolvimento para que "encorajem o Governo", dando apoio com gestão económica sustentável e evitando simplesmente apoiar estratégias que "aprofundarão a dependência no petróleo e gastos que beneficiam apenas uns poucos".

A ONG defende ainda mais investimento para eliminar a pobreza, notando que "1.200 crianças com menos de cinco morrem anualmente por causas que podem ser prevenidas" e que 30 mil jovens chegam à idade laboral sem emprego.

Mais apoios a pequena indústria e ao setor agrícola podem ajudar a aliviar a pobreza no país, considera.

A organização defende ainda uma alteração ao modelo de consumo, sublinhando que o défice comercial não petrolífero de Timor-Leste foi de 2.080 milhões de dólares, com "a dependência externa a tornar o país mais pobre.

Apostar em projetos de infraestruturas sustentáveis e com benefícios públicos é outro dos objetivos da ONG, que critica iniciativas como o desenvolvimento da região especial de Oecusse e o projeto Tasi Mane (para o desenho e construção da Base de Apoio de Suai, que o Governo considera essencial para a exploração petrolífera no Mar de Timor).

ASP // MP

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