Macau,
China, 08 jan (Lusa) -- A última presidente da Assembleia Legislativa de Macau
antes da transferência de administração para a China, Anabela Ritchie, recorda
Mário Soares como um Presidente muito interessado "na preservação da
identidade" local e preocupado com a prevalência de direitos fundamentais.
"Tinha
muito em mente a preservação da identidade e singularidade de Macau, a
manutenção de Macau depois da transição para a República Popular da
China", recordou Anabela Ritchie à Lusa, apontando que o segundo mandato
de Soares como Presidente, até 1996, coincidiu com um "período muito
importante" para o território, quando se negociava a "entrega"
de Macau.
Apesar
da distância, Ritchie garante que Soares "sempre se interessou, sempre
quis ouvir" e mostrava "grande solidariedade e carinho" por
Macau. "Interessava-se mesmo e usava amiúde a expressão 'Macau é um
desígnio nacional', no sentido em que é um projeto que deve envolver toda a
gente. Creio que sensibilizava as pessoas para as tarefas que estavam a ser
realizadas em Macau no período de transição", lembra.
A
antiga presidente da Assembleia, que iniciou essas funções em 1992 mas já antes
era deputada, recorda várias ocasiões em que conversou com Soares sobre
"os rumos que Macau estava a trilhar" e, apesar de não ter
"intervenção direta", este acompanhava os trabalhos e
"incentivou" as tarefas da Assembleia na época pré-transição.
"A
preocupação era que o conjunto de princípios e valores que são caros a Portugal
e aos portugueses pudessem ser preservados aqui em Macau e praticados depois da
transferência de administração. Ninguém tem dúvidas que Mário Soares era um
democrata, um lutador da liberdade e da democracia. Por onde passasse queria
ver estes princípios implementados, as liberdades individuais, as liberdades
fundamentais", sublinha.
Apesar
deste interesse pelos direitos fundamentais, Soares não manifestou a Anabela
Ritchie preocupação com a questão do método de eleição do líder do Governo ou
dos deputados da Assembleia: "Isso não, que me lembre nunca surgiu nenhuma
diretiva nesse sentido".
Mário
Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa,
onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.
O
Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.
Soares
desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria
história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS e
Presidente da República.
Nascido
a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares foi
fundador e primeiro líder do PS, e ministro dos Negócios Estrangeiros após a
revolução do 25 de Abril de 1974.
Primeiro-ministro
entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, foi Soares a pedir a adesão à então
Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e a assinar o respetivo tratado,
em 1985. Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da
República durante dois mandatos, até 1996.
ISG//FV.
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