Díli, 14 maio (Lusa) - A vitória,
com maioria absoluta, da coligação AMP nas legislativas antecipadas de sábado,
em Timor-Leste, termina com oito meses de tensão política no país.
As legislativas de sábado
registaram o maior número de sempre de eleitores, dentro e fora do país, mais
centros de votação e foram marcadas pelos rumores e notícias falsas, que
tentaram pôr em causa, sobretudo nas redes sociais, a credibilidade do
escrutínio.
O ato eleitoral de sábado levou
os timorenses de novo às mesas de voto, a quarta eleição em menos de ano e meio
(eleições autárquicas, presidenciais e duas legislativas).
Para observadores timorenses e
internacionais, o ato eleitoral foi justo, livre e transparente, com uma taxa
de participação particularmente elevada: 80% dos eleitores recenseados.
Sem precedentes, a crise política
dos últimos oito meses representou um teste pacífico aos equilíbrios
institucionais e constitucionais no país, obrigando os timorenses a irem às
urnas pela primeira vez fora do calendário regular.
A um processo politicamente
tenso, seguiu-se uma campanha cheia de insultos e críticas, mas na qual, à
exceção de pequenos incidentes, não se passou da violência da linguagem.
A maioria absoluta da Aliança de
Mudança para o Progresso (AMP) - liderada por Xanana Gusmão que volta a assumir
o cargo de primeiro-ministro três anos -- tem o caminho facilitado para formar
governo e, posteriormente, a aprovar o Orçamento Geral do Estado para 2018.
Timor-Leste acabou o ano sem
conseguir aprovar as contas públicas, com a oposição maioritária a travar o
programa governativo e o orçamento retificativo.
Mesmo que a AMP faça aliança com
os dois partidos mais pequenos no parlamento -- o Partido Democrático (PD,
cinco lugares) e a estreante Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD, três
mandatos) -- não consegue ultrapassar um eventual veto do Presidente da
República.
Francisco Guterres Lu-Olo era
presidente da Fretilin (Frente de Revolução do Timor-Leste Independente, até
agora no governo) e contou, na sua eleição, com o apoio do seu partido e do
Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, que
agora lidera a AMP.
A votação de sábado mostra uma
maior polarização, com os dois principais partidos a crescerem
significativamente, enquanto as forças mais pequenas diminuíram ainda mais a
sua dimensão eleitoral.
A AMP obteve mais 45 mil votos
que no ano passado, chegando à barreira dos 300 mil e a Fretilin teve mais 44,6
mil, passando a barreira dos 212 mil.
Os partidos que concorrem na
coligação vencedora beneficiaram das regras do método de Hondt na eleição de
mandatos, assegurando uma maioria absoluta.
Caso os partidos que compõem a
AMP concorressem em separado, tendo em conta os resultados atuais e a proporção
dos votos das eleições de 2017, a Fretilin teria passado de 1.500 para quase 20
mil votos sua diferença em relação ao principal partido da coligação, o CNRT.
A tensão política do último ano
não teve consequências na taxa de participação, que foi superior à registada em
2017, em que votaram menos de 77% dos eleitores.
A mobilização notou-se também na
diáspora, tanto pelo maior recenseamento, como pela elevada participação, com
resultados a mostrarem uma maior mobilização de apoiantes da Fretilin.
Num país onde as remessas dos
imigrantes são a maior fonte de receitas depois das provenientes de petróleo e
gás natural, os quase 4.700 votos expressos dos timorenses na diáspora
representaram quase metade de um dos 65 lugares.
ASP // PJA
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