terça-feira, 15 de maio de 2018

Maioria absoluta da AMP conclui oito meses de tensão política


Díli, 14 maio (Lusa) - A vitória, com maioria absoluta, da coligação AMP nas legislativas antecipadas de sábado, em Timor-Leste, termina com oito meses de tensão política no país.

As legislativas de sábado registaram o maior número de sempre de eleitores, dentro e fora do país, mais centros de votação e foram marcadas pelos rumores e notícias falsas, que tentaram pôr em causa, sobretudo nas redes sociais, a credibilidade do escrutínio.

O ato eleitoral de sábado levou os timorenses de novo às mesas de voto, a quarta eleição em menos de ano e meio (eleições autárquicas, presidenciais e duas legislativas).

Para observadores timorenses e internacionais, o ato eleitoral foi justo, livre e transparente, com uma taxa de participação particularmente elevada: 80% dos eleitores recenseados.

Sem precedentes, a crise política dos últimos oito meses representou um teste pacífico aos equilíbrios institucionais e constitucionais no país, obrigando os timorenses a irem às urnas pela primeira vez fora do calendário regular.

A um processo politicamente tenso, seguiu-se uma campanha cheia de insultos e críticas, mas na qual, à exceção de pequenos incidentes, não se passou da violência da linguagem.

A maioria absoluta da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) - liderada por Xanana Gusmão que volta a assumir o cargo de primeiro-ministro três anos -- tem o caminho facilitado para formar governo e, posteriormente, a aprovar o Orçamento Geral do Estado para 2018.

Timor-Leste acabou o ano sem conseguir aprovar as contas públicas, com a oposição maioritária a travar o programa governativo e o orçamento retificativo.

Mesmo que a AMP faça aliança com os dois partidos mais pequenos no parlamento -- o Partido Democrático (PD, cinco lugares) e a estreante Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD, três mandatos) -- não consegue ultrapassar um eventual veto do Presidente da República.

Francisco Guterres Lu-Olo era presidente da Fretilin (Frente de Revolução do Timor-Leste Independente, até agora no governo) e contou, na sua eleição, com o apoio do seu partido e do Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, que agora lidera a AMP.

A votação de sábado mostra uma maior polarização, com os dois principais partidos a crescerem significativamente, enquanto as forças mais pequenas diminuíram ainda mais a sua dimensão eleitoral.

A AMP obteve mais 45 mil votos que no ano passado, chegando à barreira dos 300 mil e a Fretilin teve mais 44,6 mil, passando a barreira dos 212 mil.

Os partidos que concorrem na coligação vencedora beneficiaram das regras do método de Hondt na eleição de mandatos, assegurando uma maioria absoluta.

Caso os partidos que compõem a AMP concorressem em separado, tendo em conta os resultados atuais e a proporção dos votos das eleições de 2017, a Fretilin teria passado de 1.500 para quase 20 mil votos sua diferença em relação ao principal partido da coligação, o CNRT.

A tensão política do último ano não teve consequências na taxa de participação, que foi superior à registada em 2017, em que votaram menos de 77% dos eleitores.

A mobilização notou-se também na diáspora, tanto pelo maior recenseamento, como pela elevada participação, com resultados a mostrarem uma maior mobilização de apoiantes da Fretilin.

Num país onde as remessas dos imigrantes são a maior fonte de receitas depois das provenientes de petróleo e gás natural, os quase 4.700 votos expressos dos timorenses na diáspora representaram quase metade de um dos 65 lugares.

ASP // PJA

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