terça-feira, 13 de novembro de 2018

Comissão parlamentar timorense preocupada com retirada de necessidade de visto prévio

Díli, 13 nov (Lusa) - A comissão de finanças públicas do parlamento timorense está preocupada com uma proposta que retiraria a necessidade do visto prévio da Câmara de Contas ao financiamento público de operações petrolíferas, aspeto mais polémico de uma alteração legislativa em debate.

"As consequências da dispensa de visto prévio da Câmara de Contas devem ser devidamente ponderadas pelo plenário, tendo em consideração o âmbito que a mesma pode atingir, ao abranger a totalidade das operações petrolíferas sem exceção", refere um parecer da comissão C, lido hoje em plenário do parlamento.

A comissão recomenda, como alternativa, e para evitar a morosidade do processo de vistos, que seja "introduzida na lei uma norma que imponha uma limitação temporal para a emissão do visto prévio" com "prioridade máxima" a contratos de operações petrolíferas.

Em causa estão alterações à lei das atividades petrolíferas, para remover um limite de 20% à participação máxima que o Estado pode ter em operações petrolíferas, criando igualmente uma exceção ao regime de visto prévio da Câmara de Contas.

O objetivo é permitir que o Estado concretize, através da petrolífera Timor Gap, a compra de 350 milhões de dólares (312 milhões de euros) pela participação da ConocoPhillips no consórcio do Greater Sunrise.

A proposta remove a fiscalização da Câmara de Contas no caso de compras como essa ou em futuras operações petrolíferas relacionadas com a mesma operação.

Ficariam dispensados de visto prévio "quaisquer contratos relacionados com a aquisição de direitos, para o Estado ou para qualquer outra pessoa coletiva pública, incluindo entidades de natureza comercial criadas por estas, de participação em operações petrolíferas".

A exceção, "justifica-se pela natureza dos contratos a celebrar com vista à aquisição de direitos de exploração", explica a proposta.

A maior preocupação dos deputados da comissão C - que ecoa o da maioria de pareceres apresentados em audições públicas - relaciona-se com a "mais discutível" questão da exclusão da obrigatoriedade do visto prévio da Câmara de Contas, que o parece considera "questionável", refere o parecer.

A comissão considera "especialmente relevante (...) a dispensa do visto prévio da Câmara de Contas para todas as operações petrolíferas", considerando que "tal dispensa é um ato que, em si, prejudicará a política de transparência dos atos públicos".

Por isso a Comissão diz partilhar "das mesmas preocupações que a grande maioria das entidades ouvidas" defendendo por isso uma solução "intermédia que passe por não reduzir competências de controlo e fiscalização orçamental à Câmara de Contas" mas permita "ultrapassar a morosidade normal dos complexos processos" conducentes à emissão de visto prévio, que "possam obstar à concretização das decisões estratégicas do Estado relacionadas com o desenvolvimento da industrial petrolífera na costa sul.

O parece recorda que o Estado tem "obrigação de informação e tornar transparente o historial de investimentos que realiza" e que a Câmara de Contas "representam uma garantia para o bom uso e transparência que devem presidir à utilização de recursos públicos".

E nota que a "amplitude do que se entende por operação petrolíferas é de tal forma vasta e não definida que se pode entender que todo e quaisquer contratos relacionados com esta temática, ainda que indiretamente, possam passar a estar excluídos" do controlo da Câmara de Contas.

Preocupações "partilhadas pela maioria das entidades" ouvidas, incluindo a Câmara de Contas que recorda que o visto prévio é um "instrumento de controlo essencial na prevenção de irregularidades", apesar de reconhecerem que a derrogação proposta "não interfere na fiscalização concomitante e sucessiva dos atos contratados".

O Conselho Consultivo do Fundo Petrolífero alertou, por seu turno, para que a mudança não resulte numa redução dos benefícios para o Estado, "em consequência da cedência do poder de decisão" a "outras pessoas coletivas públicas ou a entidades privadas integralmente controladas por estas".

Registando os contributos dados nas audições preliminares, a comissão considera que "não restam quaisquer dúvidas" de que a iniciativa "visa contribuir para o desenvolvimento da indústria petrolífera nacional e para a diversificação económica" do país.

O diploma é "importante como enquadramento legal da implementação do que se percebe ser uma opção estratégica da política económica do Governo" e "compatível com várias opções de estratégica económica futuras".

A comissão recomenda ainda que seja "acautelada pelo OGE [Orçamento Geral do Estado] para 2019 a verba destinada à capitalização da empresa pública Timor Gap, necessária para a operação".

Duarte Nunes (CNRT) e Antonio Conceição (PD), dois dos deputados proponentes, defenderam a importância das alterações para o desenvolvimento nacional e defenderam o máximo consenso para aprovar a mudança que consideram "essencial".

O debate e votação da proposta de alteração continua na quarta-feira.

ASP // PVJ

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